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MUDVAYNE: «L.D. 50», o amigo estranho do nü-metal

Editado originalmente a 22 de Agosto de 2000, o álbum de estreia dos MUDVAYNE afirmou-se como um registo incrivelmente cerebral num universo obcecado com a descoberta do próximo “nookie”.

Num dia ninguém sabia quem eram os SLIPKNOT; no dia seguinte, os SLIPKNOT tinham-se transformado numa supernova. Depois, na ressaca de «Wait And Bleed», fomos cilindrados por um tsunami indomável de vídeo-clips comerciais de metal e, é claro, a maioria das bandas envolvidas estava destinada a perecer ou a ser desprezada, mas no meio dessa enxurrada indesejável surgiu um tema intitulado «Dig», de uma banda que se parecia um pouco com os nove mascarados do Iowa, mas não eram eles.

Bem-vindos ao estranho mundo dos MUDVAYNE; uma das poucas propostas que, no meio de uma febre que viu quase todos os grupos que usavam guitarras afinadas em baixo e a mais ligeira influência de rap na sua música serem presenteadas com propostas de contrato por arte das editoras multinacionais, ainda conseguiam fazer as coisas de forma suficientemente distinta para se destacarem das massas de clones.

E sim, o «L.D. 50», que marcou a estreia dos MUDVAYNE nos álbuns, gozou claramente do apoio de uma grande estrutura e de elevados valores de produção, mas também tornou claro que o grupo marchava ao ritmo do seu próprio tambor. O vídeo-clip de «Dig» foi o aperitivo, o disco foi a recompensa — havia um monstro a espreitar de dentro daquele CD de aparência alienígena, que nos toldava os sentidos com um ataque gutural e afinado de funk metal demoníaco.

Resumindo as coisas ao mais essencial dos essenciais, os MUDVAYNE soavam como uma versão dos RED HOT CHILI PEPPERS forjada nas profundezas do inferno e, para tornarem as coisas ainda um pouco mais interessantes, tinham aquele voraz apetite dos NINE INCH NAILS pelos recantos sádicos e retorcidos da psique humana. O layout do disco, com elementos da tabela periódica, deixava bem claro que esta gente tinha a sua visão sobre a liberdade científica dos seres humanos e, musicalmente, trataram de abordar o assunto com uma raiva animalesca e uma notável aptidão para música pesada mais complexa.

Por um lado, a estranheza era de tal ordem, sobretudo se tivermos em conta os ‘limp bizkits’ desta vida, que o apreciador de metal mais comercial teve dificuldade em conseguir digerir completamente a fusão de vocalizações estridentes, riffs sincopados, baixo de fazer tremer os ouvidos e um groove do tamanho do mundo. Por outro, foi exactamente a natureza desconcertante do álbum que se transformou também num foco de atracção instantânea para os recém-chegados ao metal, que não sabiam bem onde podiam canalizar a raiva desperdiçada na maioria da música pesada a que foram expostos naquela época.

As opiniões dividem-se, mas independentemente do que se ache daquilo que os MUDVAYNE fizeram depois deste álbum, como entidade singular o «L.D. 50» afirmou-se como um registo esmagador, bem original e, acima de tudo, incrivelmente cerebral num universo obcecado com a descoberta do próximo “nookie”.