A 19 de Fevereiro, mas em 1981, os MOTÖRHEAD e as GIRLSCHOOL fizeram história na TV após terem atingido o #5 da tabela de vendas no Reino Unido.
Há quarenta anos, em Fevereiro de 1981, materializou-se uma combinação feita no paraíso do rock’n’roll. A união dos MOTÖRHEAD com as GIRLSCHOOL, através de uma versão de um tema gravado originalmente vinte anos antes pelos pioneiros JOHNNY KIDD & THE PIRATES, resultou num dos mais emocionantes singles já feitos no espectro do rock pesado e tornou-se num enorme sucesso, trepando — de forma algo surpreendente, diga-se — ao Top 10 britânico.
Recorde-se que, na altura, os MOTÖRHEAD estavam a voar bem alto com «Ace Of Spades», tema-título do quarto álbum do trio e um single que conseguiu estabelecer novos recordes de velocidade graças ao pedal-duplo do indomável Phil “Philthy Animal” Taylor.
Protegidas dos MOTÖRHEAD, as GIRLSCHOOL estavam também em ascensão, a aproveitar da melhor forma que podiam a onda de atenção gerada por um álbum de estreia que tinha entrado para a tabela britânica, «Demolition» e pelo airplay radiofónico dado a um novo single cativante intitulado «Yeah Right». Estava, portanto, montado o cenário certo para fazer um cocktail sónico que seria, sem dúvida, capaz de provocar uma insuficiência cardíaca a muitos conservadores.
“Eu culpo o Lemmy por tudo,” disse recentemente a baterista Denise Dufort ao The Guardian. “Foi ele que me apresentou ao Jack Daniels com Coca-Cola. Foi ele que me apresentou ao Southern Comfort. Foi ele que me apresentou ao speed. Foi ele que me apresentou à cocaína.”
Felizmente, além dos excessos, o Sr. Kilmister sempre se pautou por uma lucidez incrível e a edição do EP «St. Valentine’s Day Massacre» a 13 de Fevereiro de 1981 foi, sem qualquer dúvida, mais um dos seus golpes de génio. Embora nomes como DEEP PURPLE e LED ZEPPELIN fossem conhecidos pela sua paixão pelo rock’n’roll dos anos 50, no final dos 70s era incomum para bandas de rock e heavy metal olharem tão para trás em busca de inspiração.
No entanto, os MOTÖRHEAD eram da velha guarda e Lemmy era um verdadeiro conhecedor de rock’n’roll. O músico começou a ouvir música com Little Richard e Elvis, cresceu fascinado pelos THE BEATLES, fez discos com os THE ROCKIN’ VICKERS e trabalhou com Jimi Hendrix antes de, no início da década de 70, chegar à proeminência com os roqueiros espaciais HAWKWIND.
Entre as bandas favoritas do baixista e vocalista contavam-se os THE PIRATES, que começaram por ser a banda de apoio do cantor pioneiro inglês Johnny Kidd no final dos anos 50 e início dos 60. Kidd acabaria por falecer num acidente de viação em 1966, mas a sua música sobreviveu: por exemplo, a «Shakin ‘All Over», uma das suas canções mais famosas alcançou o estatuto de clássico graças a uma versão dos THE WHO.
Mais de uma década depois, já em 1976, os THE PIRATES decidiram então retomar a actividade e fizeram um álbum em nome próprio, intitulado «Skull Wars», com o produtor Vic Maile. O mesmo que, uns anos depois, acabaria por trabalhar com os MOTÖRHEAD e as GIRLSCHOOL em «St. Valentine’s Day Massacre». Só isto bastaria para as estrelas se alinharem, mas falta aqui um pormenor importante… O «Skull Wars» incluía uma versão ao vivo de um tema que “os piratas” tinham gravaram pela primeira vez com Johnny Kidd em 1959.
Um dos primeiros clássicos do rock britânico, «Please Don’t Touch» assumiu novos níveis de poder nas mãos do trio ressurgente, e está claro que Lemmy estava a prestar atenção. Na verdade, quem estiver familiarizado com a versão posterior dos MOTÖRHEAD e das GIRLSCHOOL, pode comparar as duas versões dos THE PIRATES, e perceber o quão fiéis Lemmy e companhia permaneceram à actualização feita ao tema em 1976.
Foi, no entanto, a abordagem divertida e vibrante ao tema que tornou a versão de 1981 um sucesso estrondoso no Reino Unido. A combinação da voz rouca de Lemmy com a de Kelly Johnson revelou-se uma perfeição pop inesperada e nada poderia ter estragado o seu enorme potencial comercial. A 19 de Fevereiro de 1971 provaram-no, na BBC.