MORBID ANGEL

MORBID ANGEL: 30 anos de «DOMINATION»

Trinta anos depois, o disco de 1995 ergue-se como um clássico incompreendido dos MORBID ANGEL — uma peça essencial na evolução do death metal.

Quando se fala de álbuns que dividem águas, poucos o fizeram com a força de «Domination», o quarto álbum dos MORBID ANGEL, lançado em 1995. Agora que completa trinta anos, é tempo de reavaliar o legado de um disco que muitos ouviram pela primeira vez entre as fitas VHS com gravações manhosas do Headbangers Ball, os sorrisos escarninhos de Beavis and Butthead e as prateleiras das lojas de discos em centros comerciais.

Na altura, para muitos, este era apenas o som dos brutais MORBID ANGEL (naquela altura amplamente reconhecidos como a banda mais blasfema e pesada do mundo) a dar um passo à frente. Para outros, era o início de uma queda. Mas hoje, a verdade impõe-se com uma certa clareza: o «Domination» continua a ser um dos capítulos mais ousados e subvalorizados do cânone dos MORBID ANGEL.

A história conta-se melhor no contexto do seu tempo. Entre 1994 e 1996, o death metal vivia uma fase de reconfiguração. As grandes editoras tinham descoberto o género, mas não sabiam bem o que fazer com ele. Bandas como Entombed, Carcass e Napalm Death começaram a experimentar com fórmulas menos extremas, mais acessíveis. Algumas resistiram, outras quebraram. Quando o «Domination» chegou, foi como um póster fluorescente de outra dimensão: saturado, musculado, quase psicadélico — uma fusão entre brutalidade e um groove enorme, entre o antigo e o novo, entre a ortodoxia e a provocação.

A produção, mais nítida e opulenta, marcou uma ruptura com a crueza dos registos anteriores dos norte-americanos MORBID ANGEL. O som das guitarras era espesso, cavernoso, mas, ao mesmo tempo, claro a ponto de perceber-se tudo. As estruturas tornaram-se mais directas, menos labirínticas, mais pesadas no sentido físico. As letras afastaram-se do ocultismo clássico para abraçarem um tom mais confrontacional. Para alguns puristas, tudo isto soou a traição. Para outros, era a libertação.

David Vincent, na sua última aparição como vocalista dos MORBID ANGEL até ao seu regresso em 2011, entregou uma prestação magnética, com uma autoridade vocal difícil de igualar. Faixas como «Dominate», «Where The Slime Lives» e «Hatework» tornaram-se instantaneamente reconhecíveis — não por serem simples e básicas, mas por serem memoráveis, por saberem conjugar muito bem intensidade e atmosfera. E mesmo os interlúdios totalmente instrumentais, «Melting» e «Dreaming», revelaram uma sensibilidade algo rara: ambiental, meditativa, quase cinematográfica.

Ainda assim, o «Domination» nunca teve efectivamente o reconhecimento imediato que merecia. Desde cedo, foi acusado de ser lento, acessível, comercial. O clip da «Where The Slime Lives» foi ridicularizado. Mas, olhando agora com os ouvidos amadurecidos de quem viu o death metal renascer e reinventar-se inúmeras vezes, percebe-se que este álbum não era uma cedência — era uma declaração. Era o som de uma banda a recusar repetir-se, a tentar transcender os limites de uma tendência que, por vezes, parece querer viver no seu próprio túmulo.

Sim, o passar dos anos não perdoa, mas também serve para reabilitar. Em 2025, ninguém ousa comparar o «Domination» a um fracasso. Pelo contrário, há quem o coloque lado a lado com «Covenant» como o último grande momento da formação clássica dos MORBID ANGEL. A sua influência sente-se em bandas como Nile, Behemoth ou Hate Eternal — músicos que perceberam que brutalidade sem atmosfera pode ser apenas barulho. Foi o «Domination» que abriu essa porta, mesmo que à época tenha sido pisado por isso.

E talvez seja por isso que ainda o celebramos. Porque é fácil amar os LPs que foram consensuais. O difícil é amar os que mais nos desafiaram. Os que não nos dão o que esperávamos, mas nos oferecem algo que só muito mais tarde aprendemos a valorizar. Resultado: três décadas depois, «Domination» continua a dominar. Não só como disco, mas como símbolo: da coragem de arriscar, da beleza do erro, e da certeza de que a arte mais poderosa é aquela que resiste ao tempo… Mesmo quando o tempo não estava do seu lado.