MOONSPELL

AQUELA VERSÃO: MOONSPELL vs. PARALAMAS DO SUCESSO

Os MOONSPELL e a «Lanterna Dos Afogagos». Ou como pegar num tema, fazer uma versão sublime e incorporá-la num álbum conceptual com uma mestria inegável.

«1755», aquele álbum dos MOONSPELL que nem todos apreciaram, e que soará sempre estranho na sua discografia internacional, por ser totalmente cantado na língua de Camões. O disco é conceptual, nascido como um EP, e cresceu até se transformar num registo de longa-duração. A temática aborda o sismo de 1755, que abalou a Península Ibérica, e Lisboa em particular. Até esta obra, a relação da banda nacional com versões sempre foi de hesitação.

Algumas foram ensaiadas, mas até à saída da edição e «1755» apenas uma fora realmente assumida: «Os Senhores da Guerra», original dos MADREDEUS. Um assumir que durou praticamente uma digressão. Com as reedições de «Darkness & Hope» são recuperadas três dessas versões, uma para cada formato de vinil. «Mr. Crowley», de OZZY OSBOURNE, «Love Will Tear Us Apart», dos JOY DIVISION, e também a já referida versão dos MADREDEUS. No entanto, em «1755», Fernando Ribeiro e companhia, tiram um trunfo da manga, e joga-o bem.

Aproveitando um tema dos PARALAMAS DO SUCESSO, banda com quase quarenta anos de existência, os MOONSPELL fizeram um proverbial brilharete. Entre os sucessos do grupo brasileiro está «Lanterna dos Afogados», tema que vale sobretudo pela letra. A lanterna dos afogados era, no antigo porto de Salvador, para onde iam as mulheres dos marinheiros aguardar o seu regresso. Os riscos da costa, nesse local, levavam a que nem sempre o regresso acontecesse. O nevoeiro levava a que as mulheres deixassem lanternas acesas, para eles se guiarem.

Acontece que, depois do sismo de 1755, um maremoto caiu sobre Lisboa. Dizem que causou ainda mais vítimas que o terramoto. Ao inserir «Lanterna dos Afogados» no final do disco, os MOONSPELL trazem o evento à memória e criam um final dramático. A escolha de uma versão fecha assim a obra conceptual.

Curiosamente, revelou-se ser um dos temas mais fortes do disco, suplantou o original e providenciou mesmo um momento icónico em palco, em que Fernando Ribeiro segura uma lanterna iluminada. Já depois da versão dos MOONSPELL, Tarja Turunen, a ex-vocalista dos finlandeses NIGHTWISH, foi até ao Brasil tentar cantar o tema. A vocalista ainda recorreu a uma versão acústica, mas fica a sensação de apenas conhecer a música graças à banda portuguesa.

O sucesso acabou a ser tal que os fãs brasileiros fizeram mesmo vídeos promocionais do tema. A ironia de tudo isto, é que o tema mais memorável de um disco cantado em português, acabasse por chegar do outro lado do oceano.