XANDRIL
«The Vision Of Rotting Darkness: The Demos 1985-1988»
[HMH Records, 2018]
Há muitos anos que sou grande apreciador dos Xandril. Estavam na minha lista de nomes a incluir oportunamente nesta rubrica, e agora que a HMH Records lançou uma luxuosa edição em vinis (note-se o plural) que inclui praticamente todo o material desta banda alemã, nada melhor do que recuperar já esta jóia perdida do underground metálico dos anos 80, sobretudo para aqueles que nunca a encontraram. A editora pode orgulhar-se do que apresenta; capa em gatefold, LP duplo, textos de antigos membros com a narrativa dos eventos históricos, imensas fotografias, um cartão de homenagem ao baixista recentemente falecido com autógrafos dos restantes colegas da banda… em 500 exemplares numerados à mão. O título desta compilação combina os nomes das três demos que contém: «Rotting Paradise» de 1986, «The Vision» de 1987 e «Perfect Darkness» de 1988, ao que se juntam diversos temas das sessões de gravação de ensaios de 1985. Nestes o vocalista era ainda Matthias Lemcke, pelo que têm forçosamente um ambiente diferente das demos oficiais, que contavam com os dotes vocais de Bettina Paschen, cujo carisma vocal e entoação característica sempre me cativaram. A produção das demos, própria desta altura apesar do trabalho de remasterização, não afoga o poder instrumental, com composições e labores tecnicistas avançados para o cenário da altura, por via de uma secção rítmica contundente e um óptimo trabalho de guitarras. Não admira que os connoisseurs com os pés assentes na época em questão chamem a isto power/speed metal.
Confesso que é uma sensação muito especial ouvir a agulha a cair no lado A do primeiro vinil – é aliás a primeira vez que podemos ouvir Xandril em vinil, tirando a fugaz aparição de «Terminal Breath» na compilação «Teutonic Invasion Part One» que a Roadrunner lançou em 1987, com bandas como Minotaur, Paradox, Violent Force e Poison – e ouvir em seguida a entrada da fantástica demo «Rotting Paradise», com um som bastante melhor que o do rip merdoso que ouço há anos. Além do mais, tenho agora à disposição as letras, podendo portanto melhor acompanhar a voz de Bettina, que mantém o seu efeito hipnótico e que me transporta numa viagem pelo som sagrado dos anos 80 ao ambiente do que eram aqueles prístinos anos do heavy metal.
Além desta magnífica compilação, a HMH Records aproveitou e pôs concomitantemente cá fora mais dois singles em vinil. O primeiro, «Demo I ’83», tem as duas primeiras músicas que estes adolescentes gravaram em estúdio, na Alemanha de há 35 anos. Hard rock / heavy metal com muito amadorismo mas muita vontade e atitude. O segundo, «Demo II ’83», apresenta um heavy metal surpreendentemente potente, com a voz de Daffy, o vocalista de então, a soar com muito mais força e controle, por sobre um instrumental coeso que demonstrava evolução e potencial. Um single de grande qualidade que deveria ter sido lançado no final de 1983 mas que só agora vê a luz do dia (com algum atraso, portanto). Tudo isto (compilação e singles) tem um notável trabalho gráfico que remete directamente para aqueles idos tempos, com muito material da época. Nunca é de mais louvar o trabalho de uma editora que não só decide resgatar das brumas do olvido material de tal qualidade para que chegue a mais ouvidos, como também sabe como fazê-lo como deve ser.
Por fim, se por acaso não tiverem gira-discos (não, miúdos, não se diz leitor de vinil), simples: comprem um. Se preferirem aguardar, parece que a editora está a preparar um lançamento em CD duplo da obra dos Xandril, que eu também pretendo adquirir. Já agora… se nem leitor de CDs tiverem, são uns metálicos da treta. Peçam o vosso certificado por correio, que eu mando.