SWORD
«Metalized»
[GWR Records, 1986]
Havia grandes bandas de heavy metal no continente norte-americano nos anos 80. Algumas tinham tanto peso na sua música que por vezes já chegavam ali a meio caminho entre o heavy e o thrash. Era a isto que se chamava power metal na altura, um estilo másculo e agressivo que estava nos antípodas do posterior power metal europeu originado em grande medida pelos Helloween e que chegou a tais devaneios sinfónicos que parecia música de feira ou de filmes da Disney tocada por rapazes de cabelos Vidal Sassoon e camisas de folhos. A ironia do destino… Em meados dos anos 80, quando o efeminadíssimo glam grassava por Los Angeles, os Omen (um dos máximos expoentes do verdadeiro power metal) anunciavam concertos em cartazes com o cabeçalho: “Cansado de bandas mais bonitas que a tua namorada? Temos a resposta!” Desde o princípio que a bastardização do metal é constante e proveniente de todos os lados, e a diacronia é já muito longa. O que se passa hoje em dia é demonstração mais que evidente. Alguns, porém, mantêm uma noção sólida do que é metal, e o que não é. Mesmo num cenário afundado por post-cenas, rock alternativo disfarçado de metal, pop disfarçado de metal, e nu/metalcore ele próprio já em estertores de crises de identidade. As superproduções circenses tomaram a cena metálica de assalto numa espécie de espiral descendente em direcção a um pimbalhismo internacional. O saudoso José Vilhena escrevia sobre a política nacional: “Não estará esta merda já pronta para outro 25 de Abril?” (censura do palavrão a decidir pelo editor) [Nota do editor: censura já é inconcebível por si só, caríssimo Rick, e então numa frase do Zé Vilhena, tomaria proporções de crime lesa-humanidade!], e escrevo eu neste canto, “Não será altura de voltar ao underground?”
Para os resistentes, para os (poucos) metálicos mais novos e, porque não, para os curiosos, aqui se irá retomando a escavação arqueológica de pérolas do passado. Como acima dizia antes de me lançar na minha acerba diatribe metálica, havia grandes bandas de heavy e power metal no continente norte-americano. Lembram-se dos The Sword, banda hipster da moda que tanta celeuma levantou no meio purista do heavy metal quando surgiu? E que era apenas mais uma precursora de uma outra vaga de avacalhamento comercial que, aliás, se mantém forte até hoje com grandes nomes de pop metal a facturar em grande, mal-grado a nova realidade da indústria musical? Pois muito antes deles existiram os Sword do Canadá, e é do seu álbum de estreia que vos venho hoje falar. Se gostam de heavy metal puro e duro, com um vocalista potentíssimo, grandes riffs, uma bateria vigorosa e temas que soam a motas, cabedal e cabelo comprido, e se se passam a ouvir as obras-primas dos Metal Church, Armored Saint e Liege Lord, então «Metalized» é para vocês.
Com dez temas de excelente heavy metal, o facto é que, se bem que este álbum mantenha a alta qualidade até o último tema (o mais negro «Evil Spell»), na minha opinião são sobretudo os três primeiros temas os absolutos clássicos desta obra. O primeiro, «F.T.W.» (quer dizer “Follow The Wheel“), será provavelmente a mais conhecida composição dos Sword, tendo aliás tido direito na altura a um vídeo que podem ver aqui.
Dois anos depois sairia o segundo e último «Sweet Dreams», um pouco mais lento, mais melódico, mais hard rock, mas ainda um óptimo LP. Porém, hoje em dia a banda regressou e prepara um terceiro álbum de estúdio, a ser lançado pela editora do David Ellefson dos Megadeth, que em tournée adoravam ouvir o tema «Stoned Again», dos Sword (cá está ele). A ver vamos… fico à espera.