GILGAMESJ
«Take One»
[Rave-On Records, 1984]
Nos meus tempos universitários li «A Epopeia de Gilgamesh». É um texto que Gilgamexe connosco (que boa piada!), tal como a música deste EP (ou “mini-album 45 rpm” como vem designado). A mesma editora que na primeira metade dos anos 80 nos trouxe material de bandas incríveis como Mercyful Fate, Sortilège, Evil ou H-Bomb também é responsável por este vinil que tenho entre mãos. Ou seja, tudo material relacionado com a onda de choque que varria o mundo imediatamente após a detonação que foi a NWOBHM no Reino Unido. Os Gilgamesj surgiram na Holanda em 1975 mas apenas em 1982 lançaram as primeiras demos e um split. E em 1984 este 12″ com quatro temas de hard rock / heavy metal bastante melódico (por vezes até exageradamente, para mim), mas que por via do seu brilho metálico considero um lançamento perfeitamente adequado para figurar nesta nossa constante caça e recolecção de pérolas perdidas dos anos 80 (em cronologia ou apenas em espírito). Cabe uma palavra de especial elogio relativa ao excelente trabalho de guitarras, com solos cheios de vigor que coroam o que são óptimas composições, muito bem executadas. Chega a ser pena que este pouco mais de quarto de hora de música não tenha podido ser um álbum inteiro de material deste nível.
Tudo neste vinil ilustra o que se convencionou chamar metal teutónico desta época… as fotos da parte de trás (mullets, bigodes), o logotipo só mais ou menos conseguido, e mesmo a capa semi-BD. E o som, direitinho de uma época em que o metal era jovem e explorava, intrépido, os seus limites e a sua identidade. Estas quatro músicas nem são particularmente arrojadas, a não ser na exploração, sim, da qualidade que os jovens músicos da altura já conseguiam atingir no manuseio dos seus instrumentos. Quatro temas acessíveis mas metálicos, e já mencionei o trabalho de guitarras? Vale mesmo a pena ouvi-lo!
Em 1995, sem nunca ter chegado ao álbum, a banda acabou… mas entretanto voltou ao activo após um concerto de reunião em 2008. Dos anos 80 restam-lhe o vocalista e um dos guitarristas. Ainda não lançaram mais nada, mas têm tocado ao vivo. Nunca os vi, mas pelo que se apanha no YouTube, o vocalista continua com boa voz e o resto da banda não soa nada mal. Porém, há material novo para finalmente gravar um álbum, mas a morte do baterista em Dezembro de 2016 atrasou um processo que pelos vistos já tem sido de si descontraído. O que o Facebook vai revelando é que estão agora nas misturas finais, e o primeiro tema revelado, «Take Me Down the Road», está muito bem tocado mas é profundamente hard rock, diria mesmo AOR. Temo que o peso metálico se tenha diluído com os anos, mas fico a aguardar para ver.
