MILAGRE METALEIRO

MILAGRE METALEIRO OPEN AIR: Dia 1 | 21.08.2025 | Pindelo dos Milagres [reportagem]

Em 2025, o MILAGRE METALEIRO OPEN AIR arrancou com uma noite de contrastes e celebrações. ATTIC, FABIO LIONE’S DAWN OF VICTORY e ENSIFERUM marcaram o primeiro dia do festival com intensidade, nostalgia e espírito folk.

A edição de 2025 do Milagre Metaleiro Open Air abriu oficialmente as suas portas a 22 de Agosto em Pindelo dos Milagres, localidade já inseparável do calendário metálico português. Quem chega sente logo a diferença: aqui não há a impessoalidade das grandes arenas, mas sim uma comunhão entre música, território e tradição, que faz deste festival um caso único. Entre moradores que acolhem os visitantes de braços abertos, bancas de merch e a gastronomia local, vemos um público fiel que regressa todos os anos. O ambiente é, sem dúvida, de celebração colectiva.

Depois de actuações dos FIREMAGE e FOLKHEIM, o primeiro destaque deste primeiro dia de Milagre Metaleiro foram os germânicos ATTIC, cuja aura obscura não passou despercebida. Liderados pela figura teatral de Meister Cagliostro, o grupo apresentou uma estética que remete diretamente para os melhores tempos de King Diamond e dos Mercyful Fate, não só pela teatralidade vocal como também pela construção das atmosferas em palco. Com três álbuns no currículo, os músicos regressaram ao nosso país seis anos após a última visita e trouxeram na bagagem «Return Of The Witchfinder», editado em 2024.

O público, ainda em processo de aquecimento, respondeu de forma calorosa assim que soaram os primeiros acordes de «Darkest Rites». A banda manteve o alinhamento focado nos novos temas, mas também piscou o olho a capítulos anteriores da sua carreira. Apesar de uma actuação relativamente curta — foram cerca de 45 minutos — ficou no ar a sensação de que a ligação com o público luso continua forte. O fecho com «Azrael» e «There Is No God» deixou uma marca sombria no recinto, preparando terreno para uma mudança radical de registo.

Essa mudança aconteceu já depois do concerto dos nacionais DISAFFECTED, com a chegada de FABIO LIONE’S DAWN OF VICTORY. O ambiente tornou-se mais luminoso, épico e quase cinematográfico, à medida que Lione surgia em palco acompanhado pelos antigos colegas dos RhapsodyAlex Holzwarth, Patrice Guers e Dominique Leurquin — e pelo virtuoso guitarrista Justin Hombach. O público, composto em boa parte por fãs que cresceram a ouvir a banda italiana, reagiu de imediato com emoção.

A nostalgia foi, de resto, palpável desde o início, com a «Dawn Of Victory» a ecoar pelo vale. Nem mesmo os problemas técnicos — Lione passou parte do concerto a tentar ajustar o som dos monitores — diminuíram o entusiasmo. O público acompanhava cada refrão em uníssono, e o carisma do vocalista transformava cada canção num reencontro com memórias partilhadas. Entre os momentos altos, destacou-se «Lamento Eroico», em que Lione demonstrou toda a amplitude da sua voz num registo operático que arrebatou os presentes.

Depois, uma sequência de clássicos — «Land Of Immortals», «Eternal Glory», «Holy Thunderforce» e «Unholy Warcry» — manteve a energia em alta até ao final, quando soou a incontornável «Emerald Sword». O refrão cantado em coro pelo público foi daqueles instantes que justificam a fama do Milagre Metaleiro como um festival de proximidade: músicos e fãs, separados apenas por metros, partilharam o mesmo momento de celebração.

Ainda antes dos REVOLUTION WITHIN fecharem a primeira noite do Milagre Metaleiro, foram os finlandeses ENSIFERUM que assumiram de forma natural o estatuto de cabeças de cartaz. Embora sejam visitantes regulares do nosso país, a expectativa era elevada, especialmente pela apresentação do mais recente disco, «Winter Storm», de 2024. A entrada da banda em palco foi um espectáculo dentro do espectáculo: trajes e adereços que evocam a mitologia nórdica, e uma energia que contagiou de imediato.

«Fatherland» abriu a actuação com intensidade, provocando a primeira grande explosão colectiva da noite. Ficou de imediato claro que os ENSIFERUM sabem exactamente como equilibrar uma dose de nostalgia com o presente e, ao longo da actuação, alternaram entre temas recentes e marcos da sua carreira. A viagem até ao primeiro disco com «Token Of Time» arrancou um salva de aplausos entusiasmados, enquanto «Heathen Horde» e «Andromeda» mostraram que a banda continua a escrever canções capazes de incendiar plateias.

O ambiente tornou-se quase tribal quando o público ergueu os punhos e entoou os refrões com a banda, numa simbiose rara entre palco e recinto. O final com «In My Sword I Trust» foi o culminar de uma noite que, entre cervejas erguidas e vozes roucas, se transformou numa verdadeira celebração da irmandade metálica. Ao deixar o recinto após o último acorde, era impossível não notar a satisfação geral. Entre fãs de longa data, jovens curiosos e habitantes locais que todos os anos recebem o festival com entusiasmo, o sentimento era unânime: o Milagre Metaleiro Open Air 2025 começou da melhor forma.