MASTODON

MASTODON: DISCO A DISCO c/ TROY SANDERS [entrevista exclusiva]

Uma visita guiada à discografia única, inovadora e incrivelmente consistente dos muito aplaudidos MASTODON, uma das poucas bandas da sua geração que continua a liderar a evolução do heavy metal ao invés de seguir as suas modas.

Feitas as contas, os MASTODON podem bem ser a mais importante banda de peso da sua geração – algo semelhante ao que os Metallica foram nos anos 80 e os Pantera nos 90s. A afirmação pode parecer ousada, mas nenhuma outra banda produziu uma discografia tão única, inovadora e consistente, atingindo níveis de sucesso comercial nos seus próprios termos enquanto liderava a evolução do heavy metal ao invés de seguir as suas modas.

Vai daí, durante as últimas duas décadas, os MASTODON acabaram por transformar-se num dos nomes mais reverenciados no mundo do metal, graças a uma discografia que abriga uma sequência de álbuns incríveis. Com riffs demolidores, temas intrigantes e uma mentalidade progressiva sem igual, a banda de metal oriunda de Atlanta cativou continuamente as mentes e os ouvidos dos melómanos mais exigentes a cada novo lançamento.

Hoje, uma coisa é certa: se alguém se parece com o quarteto de Atlanta são os imitadores porque, bem vistas as coisas, ninguém soava como eles antes de aparecerem.


«REMISSION»
Lançamento: 28 de Maio, 2002
Produtor: Matt Bayles
Editora: Relapse Records

Foi um ponto de partida crucial para o que é o resto da nossa discografia. É um retracto muito fiel da altura em que nos conhecemos; a intensidade do disco é um reflexo perfeito do desejo e “fogo” que tínhamos para criar música e levá-la a todo e qualquer sítio onde nos permitam tocar. Conhecemo-nos e decidimos que queríamos fazer este estilo de rock pesado, de que todos sempre gostámos imenso, queríamos construir algo para nós.

Foi por isso que começámos logo a agendar digressões, assumimos a postura de cães de estrada. Do alto de toda a sua agressividade, o «Remission» é o traduzir dessa vontade comum e das vidas que tínhamos na altura. Toda a gente fazia trabalhos que odiava e, ao mesmo tempo, estávamos a tentar expressar-nos criativamente – e, claro, todas essas frustrações foram parar aos temas.

«LEVIATHAN»
Lançamento: 31 de Agosto, 2004
Produtor: Matt Bayles
Editora: Relapse Records

O primeiro disco tinha sido bem recebido e até teve um certo impacto na cena da música pesada, mas não me lembro de termos sentido pressão quando chegou a altura de fazer o segundo álbum. Tem sido uma constante na nossa carreira, em todos os álbum tentamos fazer melhor. Queremos ser melhores como seres humanos, como músicos, como compositores… Mas nunca sentimos pressão para superar o que fizemos antes, é algo que surge de forma natural. Na verdade, corremos um risco com o «Leviathan», ao pegar no «Moby Dick» para criar o conceito.

No mundo do heavy metal, só podiam acontecer duas coisas. Felizmente, correu bem e o risco resultou em frutos que colhemos – assinámos o contracto com a Warner Bros., surgiram as primeiras tours maiores, fizemos suporte aos Slayer, Spliknot, Tool. Foi aí que demos o passo para outra esfera do mundo da música, da indústria. E podia ter corrido muito mal… O «Moby Dick» é muito não-metálico; corremos um sério risco de ser escorraçados na cena logo ao segundo álbum.

«BLOOD MOUNTAIN»
Lançamento: 12 de Setembro, 2006
Produtor: Matt Bayles
Editora: Warner Bros./Reprise

A Warner Bros. deu-nos liberdade total, os tipos da editora disseram-nos que adoravam os nossos álbuns e que a única coisa que queriam era que continuássemos a fazer aquilo que tínhamos feito ali. Deram-nos 100% do controlo criativo, o papel deles seria apenas fazer chegar a nossa música ao maior número possível de pessoas. Fomos para a nossa sala de ensaios, sentámo-nos os quatro e trabalhámos na música, nas letras e nas melodias, como sempre fizemos.

A editora adorou o resultado e, para mim, tem alguns dos nossos temas mais bad ass – a «Capillarian Crest» e a «Bladecatcher» são canções totalmente loucas. Por outro lado, o «Blood Mountain» também tem alguns dos nossos temas mais comerciais – a «Colony Of Birchmen», por exemplo, começou a ser tocada nas rádios em todo o lado, o que foi uma estreia para nós. Isso fez-nos ficar felizes, claro, mas não foi intencional.

«CRACK THE SKYE»
Lançamento: 24 De Março, 2009
Produtor: Brendan O’Brien
Editora: Warner Bros./Reprise

Foi uma honra termos tido oportunidade de trabalhar com um produtor tão lendário como o Brendan, que já fez discos com o Bruce Springsteen, Pearl Jam, Korn, Rage Against The Machine, Black Crowes… E foi só nesse álbum que percebemos o que era trabalhar com um produtor a sério. Fomos para o estúdio e ele estava cheio de ideias fantásticas; é um músico óptimo e tem uma colecção fantástica de material, guitarras, pedais, amps, tudo vintage, que tivemos oportunidade de usar.

Depois, o Brendan tocou piano e mellotron em alguns temas, e incentivou-nos a experimentar, a ir mais além. Em termos líricos, é um álbum intenso, porque o Brann decidiu escrever sobre o suicídio da irmã… Expusemo-nos como nunca tínhamos feito antes, mas criámos uma história fantástica, com o seu quê de bizarro, que foi influenciada pelos nomes maiores do rock progressivo. Em retrospectiva, acho que foi o álbum mais importante da nossa carreira.

«THE HUNTER»
Lançamento: 26 de Setembro, 2011
Produtor: Mike Elizondo
Editora: Warner Bros./Reprise

Adorámos trabalhar com o Brendan, mas na altura de gravar o «The Hunter» quisemos experimentar algo diferente. Todos achamos que é importante colaborar com pessoas novas, é fixe ter uma outra visão das coisas. É bom ver como pessoas diferentes reagem de forma diferente a uma mesma canção, e isso é algo que nos ajuda a crescer. Daí que ter talento diferente atrás da consola também seja tão importante, porque estas pessoas vão ter abordagens diferentes ao nosso som, à forma como as nossas vozes podem soar melhor e tudo o mais.

Trabalhar com o Mike, que também é músico e já trabalhou com uma série de artistas da Warner, foi uma experiência muito cool. Aprendemos imenso e voltámos a expandir o nosso som, sobretudo a nível das linhas vocais. Nós três tínhamos noção de que a música já estava óptima, mas sentíamos que tínhamos de crescer a nível vocal – e foi o Mike que nos ajudou a chegar lá.

«ONCE MORE ‘ROUND THE SUN»
Lançamento: 24 de Junho, 2014
Produtor: Nick Raskulinecz
Editora: Warner Bros./Reprise

A ideia era, uma vez mais e como sempre, não nos repetirmos e fazermos um disco que soasse novo e fresco. Fomos até Nashville, no Tennesse, e fizemo-lo com o Nick, que é um tipo super interessado no rock’n’roll. Gravámos durante um Inverno bastante rigoroso; houve tempestades de neve e tudo, nesse ano. Passámos lá quatro semanas e estivemos, literalmente, o tempo todo fechados no estúdio. Demos tudo de nós e escrevemos umas canções bem roqueiras…

«A Chimes At Midnight» continua a ser um dos temas de que mais gosto nesse álbum. Não é que estivéssemos à espera de alguma coisa em concreto, mas foi a nossa entrada mais alta na tabela da Billboard, o que parece interessar a toda a gente menos a nós. [risos] Nós nunca temos expectativas – e, se temos, são muito baixas em relação ao resto do mundo.

«EMPEROR OF SAND»
Lançamento: 31 de Março, 2017
Produtor: Brendan O’Brien
Editora: Warner Bros./Reprise

Para mim é muito estranho que esse disco já vá fazer dois anos em Março. E continuo a sentir-se totalmente satisfeito com o que fizemos. As canções foram muito bem escritas, as nossas vozes continuam a crescer e a ficar maiores e, assim como já tinha acontecido no «Crack The Skye», voltámos a abordar novamente assuntos muito pessoais. Acho que isso faz com que o resto do mundo se identifique com mais facilidade com o que fazemos, porque – infelizmente – toda a gente acaba, mais tarde ou mais cedo, por passar pelo que nós passámos.

Estamos numa altura em que já nos sentimos confortáveis a canalizar todas as nossas emoções, sejam boas ou sejam más, através desta arte a que chamamos Mastodon. Continua a ser uma enorme bênção fazer parte de uma banda como esta, mesmo a sério. Podermos tocar, musicalmente, em pessoas por esse mundo fora é muito, mesmo muito, fixe.