MARILYN MANSON

AQUELA VERSÃO: MARILYN MANSON vs. SOFT CELL

Bob Dylan cantava que os tempos estavam a mudar, mas são as pessoas que mudam com o tempo. Olhe-se para Manson. MARILYN MANSON. Provocador no passado, alegado temente a Deus no presente. Ou será que não?

Sim, a coluna repete um artista. Quando se trata de versões, METALLICA e MARILYN MANSON competem para o prémio de “melhor banda de covers”, por isso é natural a repetição. Adiante. Siga-se para o senhor que a inocente indústria discográfica não sabia que tinha dentro de portas. Manson, o mesmo que entre duas acusações por algo que fez há uma década atrás, publica uma foto a ser baptizado e limpo dos seus pecados. É bom não esquecer que o senhor superou a barreira dos 50 e, se calhar, isso até o justifica.

De qualquer forma, a versão de hoje é para «Tainted Love», dos SOFT CELL. A banda britânica de synth pop conseguiu popularizar uma versão do original de 1965, de Gloria Jones, em 1981. Foram dezassete primeiros lugares em outros tantos países, oficializando a versão e levando muitos a pensarem que esse é que era o original. O duo onde pontuava Marc Almond seguiu a carreira e Marc, depois, ainda fez uma incursão a solo. Um visual sado-maso ajudou à visibilidade do cantor, ao mesmo tempo que o ostracizou e fez ocupar terrenos menos mediáticos.

20 de Abril de 1999. Dois amigos entram num liceu norte-americano e abatem treze pessoas a tiro. Após o choque, o habitual escalpelizar mediático e a procura de responsáveis morais. A “sorte” calha, desta vez, ao rock. Não necessariamente uma novidade, pois a década teve vários processos mediáticos do mesmo género. Alvo principal, a cultura “gótica” e um certo artista de nome MARILYN MANSON.

MARILYN MANSON, pois claro. Apesar de toda a documentação reunida, a versão “popular” e desmentida na pesquisa policial apontava para uma dupla de outsiders, ridicularizados por aquilo que seria a elite estudantil. Dezembro de 2001. A propósito do filme ‘Not Another Teen Movie’, Manson grava uma versão de «Tainted Love» para a banda-sonora. Mais que a música muitos viram no vídeo uma resposta às acusações. Do primeiro ao último momento há toda uma descrição de crash party, com os outsiders a assombrarem a elite que se reúne para uma festa.

Polémico? Certamente, mas era Manson. MARILYN MANSON. Há vinte anos, o artista respondia a cada acusação com uma provocação. Anos mais tarde, já em 2017, numa entrevista ao jornal The Guardian, o cantor diria mesmo que o massacre de Columbine lhe arruinou a carreira. Talvez sim, ou talvez a carreira tivesse sido afectada pela falta de novidade, do lado de alguém que em cerca de cinco anos demoliu barreiras e escreveu uma autobiografia que seria demolidora para a imagem de qualquer músico, excepto o próprio. Biografia que a indústria nunca deve ter lido, nem as namoradas e amigas que hoje o processam.

Quanto à versão, um par de anos antes de MARILYN MANSON ter pegado na canção, os germânicos ATROCITY pegaram nela e fizeram algo bem pesado, que só necessitava de uma melhor mistura. O original está no muito interessante «Werk 80», de 1997. E porque o tema atrai bastante os amantes de couro, também os SCORPIONS se vestiram a rigor para uma interpretação da música.

Menos convencional, com pedal duplo, é a versão dos brasileiros SEPULTURA, editada recentemente. Pesada, mas com a bateria a cortar a hipnose que o tema cria. Por seu lado, os COIL fizeram uma versão tão interessante quanto depressiva. Apesar das muitas versões, escuta-se BROKEN PEACH e percebe-se que foi Manson quem pegou no tema e o ergueu de novo a clássico.