Ano novo, vida nova, diz a sabedoria popular. Para nós, é só mais uma oportunidade para voltarmos ao RCA Club e apreciarmos mais uma noite de grande música. Foi o que aconteceu na muito aguardada estreia dos LIVING TALES na capital, com os YELLOW DOG CONSPIRACY a acompanhá-los — banda que tivemos oportunidade de ver recentemente (ler aqui) e que já tínhamos vontade de rever. Foi precisamente com eles que a noite começou e fomos brindados com algumas surpresas por parte da banda lisboeta. A primeira consistiu no facto de, além de termos tido oportunidade de ouvir novamente «RAD (Dumb’N’Blind»), terem apresentado mais um novo tema, de título «March For Our Lives». Dois temas que nos fazem ter expectativas positivas em relação ao novo disco que está a ser trabalhado pela banda e que esperam lançar ainda este ano. A segunda surpresa aconteceu no momento em que Vice, comunicativo frontman do grupo, chamou ao palco Josh Riot, que muitos reconhecerão dos Seventh Storm (Butch Cid também estava na assistência), e que fez parte (e deu-nos ideia que irá sempre pertencer à família) dos YELLOW DOG CONSPIRACY antes de se concentrar totalmente na nova banda de Mike Gaspar. «Somebody Else» foi o tema escolhido para a jam e foi bom ver a forma como duas guitarras tornam este tema (um dos melhores do álbum de estreia «Confrontation») ainda mais forte. O plano seria tocar apenas uma música com a banda, mas o músico acabou por ficar em palco até ao final da actuação, dando-nos um retrato de uma formação ainda mais poderosa. «Enough Is Enough» continua a ser a forma perfeita de acabar um concerto e foi a apoteose numa noite muito especial.
Especial também era o que sentia que estava para vir. Os LIVING TALES são um excelente exemplo da qualidade e da criatividade que temos entre as nossas fileiras — e também da perseverança que é preciso ter para continuar a lutar no underground nacional. Ainda para mais praticando um som que poderá não ser apelativa aos gostos mais imediatos dos fãs portugueses — a fusão de metal progressivo e o metal sinfónico. A sua qualidade em estúdio é inegável, mas havia curiosidade para apreciar como se materializava em cima do palco. Bastou a energia de «Immortal», o mais recente single retirado do terceiro álbum, «Persephone», para concluírmos que as nossas expectativas iriam ser superadas. Apesar de toda a exuberância orquestral estar encerrada nas backing tracks, a banda soava energética e coesa, longe de um registo automático e desprovido de vida — o que, diga-se, é sempre um risco nos géneros em questão. Também ajuda terem uma frontwoman fantástica na figura de Ana Isola, que se estreou na banda com este último trabalho e que está constantemente a provar que foi a escolha certa para suceder a Silvia Bellora, a anterior vocalista.
O foco esteve naturalmente no já mencionado último álbum de originais, com «Reckoning», «Grit» e «Prodigal», mas o excelente «Mirror», também não ficou esquecido, tendo sido representado por «Mirror Cage», que continua a soar muito bem com a voz de Ana. A forma como a música flui — em disco e em palco — não deixa de ser impressionante, algo que o público não deixou de sentir também, estando sempre muito participativo sem acusar o toque dos temas serem todos de duração acima da média. Infelizmente, a banda estava com o tempo contado e o final chegaria com apenas mais um tema, e mais um ponto alto, através a interpretação da abertura do novo álbum, «Reign». Uma actuação bem sólida e profissional, onde não faltaram os agradecimentos à Ethereal Sound Works, aos YELLOW DOG CONSPIRACY, ao RCA e ao público que esteve incansável. Para a posteridade ficou uma noite onde RCA Club recebeu mais uma celebração de talento nacional e onde ficou evidenciado o alto momento de forma que os LIVING TALES e dos YELLOW DOG CONSPIRACY estão a atravessar.
Fotos: Sónia Ferreira