LEMMY

AQUELA VERSÃO: LEMMY vs. HAWKWIND

Dezembro — e aquela terna celebração do não menos eterno LEMMY.

Pode um grupo, em jeito de vingança, ir buscar o seu nome a um tema de outra banda e apresentar-se com uma versão dela? Sim, se esse grupo se chamar MOTÖRHEAD. A história é por demais conhecida: numa abordagem na fronteira canadiana, os HAWKWIND viram um dos seus músicos ser preso. O seu nome, Lemmy Kilmister. A situação leva ao seu despedimento, com o baixista a ser enviado à terra-mãe, Inglaterra. Pode existir algum folclore nisto tudo, alimentado pelo próprio Lemmy, apanhado numa guerra de poderes.

Aparentemente tendo entrado no grupo apenas porque era um bom dealer, foi crescendo em palco, tornou-se mesmo compositor e, rapidamente, foi roubando protagonismo a outros dos elementos. Tudo isso precipitou a sua saída, sendo que as drogas foram apenas uma desculpa. Teatral, como só Lemmy sabia ser, voltou para Inglaterra, onde dizia ter-se vingado da banda, ao ter relações com as namoradas de todos enquanto estavam em digressão.

Para a mitologia dos MOTÖRHEAD, fica a origem do nome. Originalmente pertencia a um tema escrito por Lemmy para os HAWKWIND, que figura no lado B do single «Kings Of Speed», editado em Março de 75. Escrito no célebre Hyatt Hotel, na Califórnia, numa noite de insónia induzida pelo excesso de speed. Substância favorita de Lemmy, a metanfetamina tinha efeitos que, à época, levaram que os seus consumidores recebessem o nome de MOTÖRHEAD, daí o título. O músico já tinha escrito outros temas para a banda, incluindo a «Silver Machine», mas claramente se identificou mais com este quando tratou da escolha posterior.

O uso de uma letra tão esclarecedora, I should be tired/And all I am is wired, como a de «Motörhead», é mais que argumento para desvalorizar o episódio da fronteira, e ver nele apenas o pretexto para uma reorganização da banda. O facto é que, em 1975, com a eclosão do punk, o nome MOTÖRHEAD até não afugentava editoras e rapidamente Lemmy arranjava não só um grupo, como um contrato discográfico, ou dois, como acabou por ter de acontecer.

Dando o passo em frente, Lemmy subiu para um nível ainda mais pesado – sobretudo para um músico que, nos anos 60, andou pelos ROCKIN’ VICARS e SAM GOPAL. Um artista que, em 1975, ainda com os HAWKWIND, ensaiava um som entre o space rock, a folk e os blues. Agora, a música endurecia, tornava-se mais vibrante e fazia-se história. O tema acabava por surgir no primeiro álbum do grupo, em 77, e também como single. Algo como “o single, «Motörhead», extraído do álbum «Motörhead», da banda MOTÖRHEAD”.

Nada a ocultar quanto ao ressabiamento de Lemmy face à sua ex-banda. O facto é que, neste tema, reside todo o ADN do trio e estrutura para muitos dos temas que se seguiriam e os tornariam famosos. Quanto aos HAWKWIND, mais tarde todos fariam as pazes.

Icónico, e mesmo que carregando o nome da banda, muitos não hesitaram em tocar de novo «Motörhead», fazendo as suas versões, muitas vezes dentro do campo do punk, hardcore e grind, como no caso dos LAWNMOWER DETH ou POISON IDEIA. Outras vezes de forma irónica, como no caso dos THE NOMADS, ou até completamente adulterada como fizeram os PRIMAL SCREAM ou os CORDUROY. E claro, também numa versão mais próxima do original dos HAWKWIND, sabiamente assinada pelos ACID KING.