Laurus Nobilis Music Fest @ Louro, Famalicão | Dia 1 – 21.07.22 [reportagem]

Foi um desafio certamente, e a presença dos MANOWAR naquele que é o maior dos pequenos festivais de metal nacionais esteve subjacente a todo o dia. Note-se aqui que o adjectivo “pequenos” não é pejorativo, servindo apenas para identificar um conjunto de eventos que ocorre, um pouco por todo o país, feitos por fãs para fãs. Nesse sentido, o arranque da edição de 2022 do LAURUS NOBILIS MUSIC fez-se apropriadamente com os locais VIA SACRA. Com um som entre o heavy metal tradicional com uns salpicos de hard rock, os músicos fizeram a sua festa embora o público fosse ainda escasso e singularidade do vocalista usar um telefone como microfone acentuou ainda um pouco mais o visual kitch do grupo. «The Road», o seu único álbum, já tem mais de uma década, mas naquele ponto do cartaz – e sobretudo num festival que se destina também a promover a cultura e os artistas locais – fez todo o sentido. De bastante mais longe, Faro, no Algarve, veio o hardcore dos M.E.D.O., que traziam na bagagem o novo «Monopólio Da Violência» para apresentar. Este é já o terceiro disco de um grupo que está agora a fazer mais concertos fora da zona de residência e o grupo mostrou-se interessante, apesar de se sentir uma falta daquela energia que o estilo pede. Certamente que mais rodagem irá resolver isso, pois a vontade está toda lá.

Os franceses DARK TRIBE foram a primeira banda internacional do cartaz. Com três discos no seu fundo de catálogo, fazem uma abordagem mais melódica ao heavy metal, que tende a ser mais meloso e apesar de, como explicou Anthony Agnello, se terem visto privados do seu baterista antes de partirem para Portugal, “meteram-se no carro e vieram para Portugal”. Consta que, na véspera da actuação, encontraram finalmente um baterista, que subiu ao palco com escassas horas de preparação. “Eu asseguro-vos isso”, terá dito Gaspar Ribeiro, baterista dos EQUALEFT e WRATH SINS, apesar de nunca ter ouvido falar dos franceses. E esteve à altura, não sendo culpa dele se os restantes três elementos foram perdendo progressivamente energia, e malhas, no decorrer da actuação. Dentro do espírito de apoio às bandas locais, actuaram de seguida os JARDIM LETAL, quarteto de veteranos que subiu ao palco para apresentar o seu “primeiro e único disco”, já datado dos 90s. Antes conhecidos como SWALLOW RAGE, estiveram longe do espaço onde foram colocados. Talvez o momento menor do evento e que ajudou ainda mais à grande dúvida: num festival que apoia tanto os artistas locais, e bem, porque continua ignorada a banda famalicense com maior projecção de sempre e que continua a ser escolhida para festivais internacionais? Fala-se, obviamente,dos THE BLACK WIZARDS.

Por esta altura, num momento em que se inaugurava o palco principal, o recinto começou a ficar mais composto em antecipação aos italianos RHAPSODY OF FIRE. Não deixa de ser estranho, ou talvez não, que o público tenha preferido até essa altura estar na zona de restauração, ou arredores, quase sempre a ignorar os artistas que iam desfilando no palco secundário, colocado lado a lado com o principal. Por estes dias, a banda de Alex Staropoli divide-se entre temas dos próprios e temas dos RHAPSODY. É claramente nestes últimos que os músicos brilham mais e, por consequência, recebem mais calor do público. Roberto De Micheli é um excelente guitarrista, mas obviamente não faz esquecer quem no passado ocupou o lugar. No entanto, apesar de tudo, podiam ter tocado mais um pouco e certamente que o público teria agradecido. Os VËLLA estavam, obviamente, algo deslocados no cartaz e na hora de actuação. Prova disso foi termos constatado que a maior parte do público não arredou pé da posição em frente ao palco principal. Pena, não só porque havia uns milhares de portugueses presentes, como o espaço livre no recinto não iria impedir ninguém de conseguir um bom lugar para ver os muito aguardados cabeças-de-cartaz. Com «Coma» na bagagem, e um EP acabado de sair, a banda mostrou-se à altura do lugar ocupado, mesmo tendo um som diferente. Um excesso de comunicação por parte do vocalista e a presença contínua de alguém a tirar fotos em palco sem noção de espaço, acabaram por ser os pontos negativos da actuação, mas que nem por isso esconderam a excelência de um grupo que apenas precisa de limar arestas e fazer mais estrada. Num cartaz de bandas similares teriam podido ombrear perfeitamente com nomes internacionais, sem envergonharem as cores nacionais.

Finalmente subiram a palco os MANOWAR. Durante a semana anterior ao evento tinha havido comunicações estranhas quanto à possibilidade de serem fotografados. No próprio dia, à entrada do recinto, essa possibilidade tinha sido assegurada com limites normais para bandas da sua estatura. Depois de largos minutos no fosso, a segurança acabaria por informar todos os fotógrafos que não podiam estar ali. O quarteto nova-iorquino arrancou, obviamente, com «Manowar», encerrando com «Black Wind, Fire And Steel», e pelo meio ficaram vários clássicos de fora. «Defender» perdeu muito do seu lado épico, numa actuação em que vários temas foram iniciados com Joey DeMaio a solar no seu baixo e em que se sentiu o backtracking, ou algo similar, como começa a ser normal nas bandas da idade deles. Quase todos os temas foram acompanhados por imagens animadas, ou, no caso de «Warriors Of The World United», por uma sequência de imagens de público de vários pontos do globo, misturadas com imagens captadas nesta noite. Quando chegou a altura do solo de Joey, um problema técnico forçou a que se retirasse momentaneamente do palco, levando Eric Adams a reiniciar um diálogo com o público, onde referiu um estranho click de fracção de segundo que assombrou duas ou três músicas.

Para os indefectíveis, que os há, em particular quando se trata deste grupo, certamente que o concerto foi maravilhoso; no entanto, para o normal fã, sentiu-se que foi apenas uma actuação regular, dentro da conformidade. Faltaram clássicos, como «Sign Of The Hammer» ou «Fighting The World», por exemplo. Antes do encore, DeMaio fez um logo discurso, que bem podia ter dado para tocar mais duas canções, em que se referiu ao número de fãs que estava a ver o grupo pela primeira vez e da hipótese de um regresso a Portugal. Pelo caminho, referiu os problemas com maus promotores que levam o grupo a cancelar eventos, mas que curiosamente não expõe claramente nos comunicados nas redes sociais, e elogiou a organização do LAURUS NOBILIS MUSIC, levando mesmo três dos seus elementos ao palco. Esteve bem nessa parte, naquele que se pode chamar “o discurso da sardinha”, prato que referiu ter comido no dia anterior. Uma coisa é óbvia: actualmente, os MANOWAR ficam a perder muito face a nomes como SABATON ou AMON AMARTH, e, para quem os seguiu ao longo dos anos, para a banda que foram outrora. E. V. Martel pode ser um executante acima da média, mas falta-lhe carisma. Já no encore, Eric falhou a entrada em «Black Wind, Fire And Steel», assumindo logo a culpa pelo erro. No entanto, neste concerto foi claramente o vocalista que segurou as pontas quando necessário e mostrou bem o seu valor. Com Joey DeMaio a enaltecer apresença de representantes de mais de trinta países, para hoje espera-se uma diminuição natural de público. A LOUD! sabe também que se espera uma alteração de cartaz, mas até ao momento nada pôde ser confirmado.