LACUNA COIL

LACUNA COIL: O regresso à estrada e a redescoberta do poder da música ao vivo

“Agora tudo soa diferente” — Andrea Ferro, o vocalista dos LACUNA COIL, fala sobre como o confinamento reaproximou a banda do público e trouxe novos rostos e novas idades aos seus concertos.

Durante três décadas, Andrea Ferro habituou-se a viver em trânsito. Palcos, aeroportos, autocarros, quartos de hotel — um ciclo contínuo onde o tempo se mede em vozes, aplausos e quilómetros. Mas quando o mundo parou em 2020, o silêncio caiu de forma tão abrupta que até a rotina mais caótica parecia distante. “De repente, o barulho desapareceu. Ficámos todos em casa, e pela primeira vez em muitos anos não havia nada para preparar, nenhum voo para apanhar, nenhum concerto para pensar. Foi como se alguém tivesse desligado o som da vida.”

Para os LACUNA COIL, banda que desde os anos 90 vive da estrada, o confinamento foi um choque. A sua identidade está ligada à energia do público, à troca física e emocional que acontece quando estão em palco. “É o que nos alimenta. Quando estás em palco, sentes a vibração das pessoas — é algo muito humano, quase animal. E quando isso desaparece, ficas sem o teu oxigénio”, esclarece o cantor italiano.

Mas o vazio acabou por gerar uma nova forma de comunicação. Andrea conta que, depois das primeiras semanas de confusão e pausa forçada, os LACUNA COIL começaram a procurar formas de manter-se um pouco mais próximos dos fãs. “Começámos a fazer transmissões ao vivo, conversas, pequenos concertos acústicos online. No início parecia estranho, porque não havia público à frente, só uma câmara. Mas aos poucos percebemos que havia ali um tipo diferente de intimidade. As pessoas estavam em casa, muitas sozinhas, e a nossa presença, mesmo virtual, trazia-lhes conforto.”

Essas experiências digitais transformaram-se num ponto de encontro inesperado. Fãs de diferentes países começaram a conversar entre si nos comentários, a partilhar memórias e emoções. Andrea lembra-se de nomes, de caras que se repetiam em todos os directos. “Havia gente do Japão, da América Latina e, claro, da Europa. Era bonito ver como se criava uma espécie de comunidade invisível. Sentia que não estávamos apenas a fazer música — estávamos a cuidar uns dos outros.”

O vocalista dos LACUNA COIL fala desse período com a distância de quem sobreviveu a uma travessia de deserto. “O mais incrível é que toda a gente passou por isso ao mesmo tempo”, continua Andrea Ferro. “No período da pandemia não importava se eras músico, professor ou trabalhador de hospital — todos vivíamos o mesmo tipo de isolamento e medo. Isso criou uma empatia que nunca tínhamos sentido antes, acho. Pela primeira vez, os artistas e os fãs estavam na mesma posição: vulneráveis, assustados, mas também cheios de vontade de manter alguma luz acesa.”

Quando os concertos voltaram, nada foi igual, e Andrea diz que o primeiro espectáculo pós-pandemia foi uma experiência quase espiritual. “Quando subimos ao palco e vimos o público, foi quase impossível conter as lágrimas. Lembro-me de olhar para a Cristina e ver-lhe os olhos cheios de água. Foi uma enorme mistura de felicidade e alívio. Foi como voltar a respirar depois de muito tempo debaixo de água.”

Esse momento marcou o início de uma nova fase na história dos LACUNA COIL. Esse regresso aos palcos trouxe multidões, mas também uma percepção diferente do que significa partilhar este tipo de música. “A verdade é que acho que todos nós — não só os LACUNA COIL, mas o público também — ganhámos uma nova consciência. Agora, já não tomamos nada como garantido. Cada concerto pode ser o último… E isso é algo que muda tudo. As pessoas vivem o momento com mais intensidade, e nós também.”

Andrea nota que o público se tornou mais diverso. “Vemos pessoas de todas as idades. Gente que nos acompanha desde os anos 2000 e adolescentes que descobriram a banda durante o confinamento. E há também muitos fãs mais velhos, pessoas com sessenta ou setenta anos, que vêm dizer-nos que só agora tiveram coragem de ir a um concerto. Dizem-nos: ‘Durante o confinamento percebi que não posso adiar mais as coisas que gosto de fazer. Agora quero viver.’

O vocalista faz uma pausa e sorri. “Isso é a coisa mais bonita de todas. Porque mostra que a música ainda pode mudar algo na vida das pessoas — não de forma grandiosa, mas no íntimo. Pode fazê-las sair de casa, misturar-se com desconhecidos, sentir-se parte de algo.” Ainda assim, nem tudo foi simples. O regresso do entretenimento também expôs um cenário mais competitivo e bastante mais imprevisível na indústria. “É inegável que há uma avalanche de concertos. Toda a gente quis recuperar o tempo perdido, e isso cria uma saturação”, continua Ferro.

Agora há semanas em que temos várias bandas grandes a tocar em Milão na mesma noite. É bom porque há vitalidade, mas também é um desafio. E mesmo assim, os bilhetes continuam a vender-se, o que mostra que o público ainda tem sede de música.” Andrea vê esta explosão de eventos como um reflexo do estado emocional colectivo. “As pessoas querem estar juntas. Passaram dois anos a ver o mundo pelos seus ecrãs, e agora procuram experiências reais. A música ao vivo é isso: uma experiência irrepetível. Mesmo que graves um concerto, nunca vais sentir o mesmo que sentiste lá, naquele momento.”

Essa necessidade de reencontro moldou também a própria atitude dos LACUNA COIL. “Hoje em dia não queremos apenas fazer espectáculos bem produzidos. Queremos que sejam momentos verdadeiros, sabes?. Não interessa se a iluminação é perfeita ou se a voz falha num refrão qualquer. O que interessa é a energia. A ligação. Quando isso acontece, não há nada igual.” Enquanto fala com a LOUD!, Andrea Ferro parece ir medindo cada palavra, como quem mede o tempo que passou entretanto.

“Antes da pandemia, às vezes caíamos na rotina. Concertos, voos, entrevistas, tudo em sequência. Era fácil perder a noção do porquê de estarmos a fazer isto. Agora já não. Cada noite é um momento especial. Cada público é único. E quando acaba o concerto, sentimos uma gratidão enorme por ainda podermos estar ali”, confessa. E, convenhamos, não é exactamente para estranhar: os LACUNA COIL sempre se distinguiram por uma ligação emocional muito forte com os fãs — algo que, segundo Andrea, se reforçou durante o período em que estiveram fechados em casa.

“Nós sempre fomos próximos das pessoas. Nunca fomos uma banda distante ou intocável. Mas durante o confinamento essa proximidade ganhou outro significado. Tornámo-nos parte da vida das pessoas de uma forma que não esperávamos”, diz o simpático Andrea. Essa reciprocidade manifesta-se também nas mensagens que recebem. “Há fãs que nos escrevem a dizer que a nossa música os ajudou a superar aquele período. E nós também fomos ajudados por eles. Havia dias em que estávamos cansados, sem motivação, e bastava ler uns comentários e umas mensagens, para lembrar porque fazemos isto.”

Hoje, quando olha para o público, Andrea sente que essa energia ainda está lá. “Há um brilho diferente nos olhos das pessoas. Talvez porque todos percebemos que as coisas podem desaparecer de um dia para o outro. Quando subo ao palco e vejo a multidão a cantar, penso: estamos vivos, ainda estamos aqui. E isso é uma vitória.” Por tudo isto, a rota europeia que traz agora os LACUNA COIL a Portugal pode bem ser vista como um ritual de gratidão.

Andrea Ferro fala com entusiasmo do concerto que se aproxima: “Portugal sempre teve um lugar especial para nós. O público português é caloroso, sente a música com o corpo. É o tipo de energia que procuramos. Vamos tocar temas novos e clássicos. Há canções que não tocamos há anos e que decidimos recuperar para esta digressão, porque queremos agradecer às pessoas que estiveram connosco em todas as nossas fases. O concerto vai ser uma viagem — pela nossa história e pela deles também.”

Andrea Ferro suspira e sorri com suavidade. “A pandemia foi terrível, mas também nos ensinou coisas. Foi o período em que aprendemos a valorizar o silêncio, a ausência, o tempo. Aprendemos que o mundo pode parar, mas que a arte, de alguma forma, vai continuar sempre. Mesmo que estejamos sozinhos num quarto, ainda podemos cantar. E isso é poderoso.” No final da conversa, fala como se se dirigisse directamente ao público. “Não sei o que o futuro nos reserva. O mundo é imprevisível. Mas sei que, enquanto houver alguém disposto a vir a um concerto e sentir connosco, vamos continuar. Porque essa ligação — essa partilha — é a razão pela qual começámos tudo isto.”

Há uma pausa longa. Depois, com a voz baixa, mas firme, Andrea diz algo que resume toda a experiência: “Durante o confinamento, as pessoas diziam-nos que a nossa música lhes fazia companhia. Mas a verdade é que foram elas que fizeram companhia a nós.” Talvez seja essa a essência dos LACUNA COIL em 2025: uma banda que, depois de ter visto o mundo parar, sobe ao palco não apenas para tocar, mas para agradecer como melhor sabem fazer: transformar o ruído do mundo em emoção partilhada. Porque, no fim, é disso que se trata — encontrar, no meio do caos, um momento em comum.

Prime Artists já informou que o concerto dos LACUNA COIL, com os convidados especiais NONPOINT, na próxima sexta-feira, 17 de Outubro, no LAV – Lisboa ao Vivo, encontra-se esgotado. Portanto, Andrea FerroCristina Scabbia e companhia vão ser recebidos de volta a Portugal com casa cheia. As portas da sala abrem às 20:00 e o espectáculo tem início às 20:40.