KREATOR

KREATOR: “Preparem-se para algumas surpresas, vai ser uma festa em grande.” [entrevista]

Em jeito de antecipação ao muito aguardado regresso dos KREATOR a Portugal, estivemos à conversa com o sempre simpático MILLE PETROZZA.

Contando já com mais de quatro décadas de carreira, os lendários KREATOR mantêm a sua posição como uma das mais influentes e bem-sucedidas bandas saídas do fenómeno thrash. Desde que se deram a conhecer ao mundo, o carismático Mille Petrozza e companhia mantiveram-se sempre muito resilientes e irredutivelmente fiéis às suas convicções, nunca abrindo mão da atitude feroz que os empolgava na adolescência.

A provar que a dedicação compensa, os KREATOR continuam a arrastar multidões sedentas de thrash por todo o mundo e, no próximo ano, regressam à estrada para uma digressão pelo Velho Continente que, entre atuações em festivais e espectáculos em nome próprio, os vai trazer a Portugal para uma data única na Sala Tejo da MEO Arena, em Lisboa, no 15 de Junho de 2024Os bilhetes para o concerto custam 30€, já à venda nos locais habituais e na Ticketline.

Olá, Mille! Como tens passado?
Não me posso queixar, a vida tem-me tratado muito bem. Neste momento continuo em Berlim, a relaxar, mas também a trabalhar em música nova e a preparar-me para começar a pré-produção de alguns dos temas que tenho andado a escrever para o próximo álbum dos KREATOR.

Além disso, estou a preparar-me mentalmente para os espectáculos deste Verão e também tenho estado a desenvolver algumas ideias para o documentário que temos andado a produzir… Estamos a fazer todo o tipo de coisas, e os próximos meses vão ser mexidos no que aos KREATOR diz respeito. Basicamente, estou bastante ocupado e, confesso, adoro que seja assim – não poderia ser de outra forma.

Vão ter mesmo muito trabalho até ao fim do ano, não é?
Absolutamente, sim! Vamos ter uma tour com os nossos amigos dos Testament, Possessed e Anthrax nos Estados Unidos. Vamos fazer um espectáculo muito especial com os Destruction e os Sodom aqui na Alemanha, vamos tocar numa série de festivais de Verão e vamos fazer uma tour europeia com o pessoal dos Testament e dos Anthrax. Além de que, como disse, estou a trabalhar no documentário e a escrever para um novo álbum. Não tenho sequer tido muito tempo para fazer pausas.

Mas é assim que gostas que seja, certo?
É assim que prefiro que seja. Na verdade, fico nervoso se não tiver nada para fazer, sabes? Felizmente, é raramente o caso, mas pronto… Prefiro assim, do que de outra forma. Lembro-me de quando a pandemia começou, fiquei louco por não poder fazer o que faço.

Como enfrentaste essa fase?
Bem, tive forçosamente de adaptar-me. O pior mesmo foi não poder tocar ao vivo, que é algo que faço desde criança… Senti muita falta de subir ao palco, de tocar para os nossos fãs. Por outro lado, foi a primeira vez que pude fazer realmente uma pausa, mas tendo em consideração que tínhamos decidido tirar um ano de folga… Bem, acabou por ser um timing péssimo.

Em 2019 fizemos só uns concertos no Chile; fora isso, tirámos o ano para escrever e descansar. Quando nos estávamos a preparar para voltar à estrada, foi decretada a pandemia e, basicamente, estivemos quase três anos fazer um único concerto. Foi um momento em que eu… Bem, a verdade é que foi horrível para toda a gente, acho, eu não sou especial. Tivemos todos de fazer concessões nesse período e estou muito feliz por termos superado isso.

Mesmo assim, ainda é emocionante olhares para uma agenda como a que os KREATOR vão ter nos próximos meses, com digressões na Europa e nos Estados Unidos, aparições em festivais e concertos como cabeças de cartaz?
Sem dúvida! É um enorme privilégio continuar a fazer o que fazemos. Somos privilegiados por ter uma plateia que adora a banda e fica animada com cada concerto que fazemos. De certa forma, isso não mudou desde o início da nossa carreira – o que, de certa forma, é um feito e tanto. Seria triste se deixasse de gostar de ir para a estrada, tocar para o nosso público. Olhar para a nossa agenda, sobretudo depois da paragem forçada pela pandemia, faz-me sentir abençoado.

No meio dos festivais de Verão, vão regressar a Portugal para um muito ansiado concerto como headliners. Por que decidiram fazer esse espectáculo fora do circuito dos festivais?
A razão é mais simples do que as pessoas possam pensar. Basicamente, recebemos um convite e, como não vamos tocar em Portugal durante a digressão com os Anthrax e os Testament, decidimos aceitá-lo. Sabemos que temos muitos fãs aí e adoramos o público português, que sempre nos recebeu muito bem.

Termos esta oportunidade de fazer um concerto como cabeças de cartaz, com um alinhamento mais longo e um pouco mais especial, é incrível! Além disso, não queríamos perder esta oportunidade de tocar para os nossos fãs portugueses.

Portanto, vão tocar mais tempo e, obviamente, com uma produção completa. Têm algo especial planeado ou vão basicamente tocar o alinhamento normal, acrescentando algumas canções por ser uma actuação mais longa?
Detesto spoilers, portanto… Vou adiantar apenas que tocaremos uma hora e meia, e queremos, definitivamente, incluir no alinhamento alguns temas que não costumamos tocar. Portanto, preparem-se para algumas surpresas e vai ser uma festa em grande, suponho.

Estou ansioso por isso, sabes? Lembro-me perfeitamente da primeira vez que tocámos em Portugal e todas as vezes que estivemos aí depois disso foram incríveis. Da última vez, tocámos num festival e foi bem fixe também.

Já disseste que estás a compor para um novo álbum e, mesmo sabendo que não gostas de spoilers, não há como evitar perguntar-te sobre isso… Como estão a correr as coisas?
Devagar, mas de forma segura. Não estou com pressa. Escrevo constantemente canções e, por enquanto, ainda só estou a fazer demos. Vamos ver para onde me levam. É muito cedo para falar sobre como vai ser, mas definitivamente será algo novo, porque, quantos mais álbuns tens, mais tens de garantir que não te repetes. Por outro lado, queres criar algo excitante e intenso.

Penso que, se deixar as coisas acontecerem sem pressas, vou conseguir criar riffs fixes e canções sólidas. Tenho a certeza que vamos fazer algo entusiasmante e muita gente ficará, espero, agradavelmente surpreendida com o novo material. Uma coisa é certa; estou muito, mesmo muito, entusiasmado.

Isso será, sem dúvida, um primeiro passado para que os fãs fiquem entusiasmadas também.
É o que costuma acontecer, sim. Posso dizer com 99% de certeza que, quando estou entusiasmado com algo, o mais certo é que a nossa audiência também fique entusiasmada. No entanto, continua tudo numa fase muito inicial.

Já tenho algumas canções escritas, também tenho um monte de ideias e esqueletos, mas vai ser um processo longo e mal posso esperar para começar a trabalhar na pré-produção e ver o que acontece.

Quer dizer que continuas a cargo da composição base e, depois, mostras então as maquetas ao resto da banda, é isso?
Sim, geralmente escrevo as canções e, depois, ensaiamos todos juntos e reestruturamos a música, tornamo-la ainda mais pesada. Gravar demos sozinho é diferente de tocar com eles. As músicas ganham vida quando começamos a trabalhar como banda. É um mundo completamente diferente e todos contribuem com a sua personalidade.

No final do dia, não sou só eu, é toda a banda a contribuir para a vibração dos temas. Por isso, diria que, sim, as canções são escritas por mim, a vibe dos KREATOR só se revela em pleno quando começo a trabalhar com o resto da banda.

O «Hate über Alles», de 2022, marcou a vossa primeira colaboração com o Arthur Risk, que é um dos mais afamados produtores da nova geração da música pesada. Têm planos para trabalhar com ele novamente ou vão experimentar algo diferente?
Na verdade, ainda não sei. Só vamos decidir essas coisas à medida que formos avançando.

E o que nos podes avançar sobre o documentário em que têm estado a trabalhar?
Estamos a trabalhar com a Cordula Kablitz-Post, que é uma realizadora muito, muito profissional. Já fez outros dois ou três documentários; um sobre os Die Toten Hosen, que são uma banda muito grande aqui na Alemanha; outro sobre um artista de música electrónica chamado Scooter, que também é alemão; e, o mais recente, «Teaches Of Peaches», é sobre a cantora canadiana Peaches.

Ela abordou-me, concordámos trabalhar juntos e pensei que ia ser muito fácil, mas tem envolvido muitas horas de trabalho. Basicamente, fiquei a perceber que é preciso trabalhar no duro para criar um documentário realmente interessante. Ela tem-nos seguido um pouco por todo o lado…

Foi connosco ao Japão, foi connosco à Índia, foi connosco à Bélgica e ainda vai estar em mais concertos nos próximos meses. Além disso, fez muitas entrevistas e decidimos incluir muitas coisas pessoais, por isso suponho que, no final, vai ser um bom reflexo dos últimos dois anos na vida dos KREATOR.

Quando vai ser lançado? Já tens uma ideia?
Se tudo correr bem, vai ser lançado em 2025 porque, provavelmente, não vamos estar em digressão. Vamos terminar o processo de composição do novo álbum e, com sorte, gravá-lo, para ser lançado em 2026.