Uma boa oportunidade para recuarmos até 1993 e recordamos o segundo concerto da carreira dos KORN.
Às vezes, sabe muito bem voltar lá atrás e, aqui, viajamos até 1993, para escutar uma versão rudimentar da «Blind», neste caso recuperada da segunda actuação de sempre dos KORN. O baixo cheio de groove ainda não soa como nos discos, mas já lá está, acompanhado do riff de guitarra. Olhar, no RETROVISOR, para estas pequenas salas, onde os grupos podiam crescer e aceder facilmente a um palco e a uma plateia sedenta de nova música, faz reflectir sobre os dias de hoje.
Vivemos numa época em que as pequenas salas acabam, inevitavelmente, por fechar. O que nos leva a questionar se ainda existem espaços para surgiram uns novos KORN? Ou uns METALLICA? Ou outros quaisquer? Existirá público com abertura de mente, e conhecimento do que há de novo, para arriscar ir a uma sala dessas, pagar um bilhete barato e ver o grupo? Ou apostarão todos em esgotar festivais em que os nomes se repetem?
Volte-se então a «Blind», um dos primeiros temas dos KORN; na realidade, um tema que Jonathan Davis trouxe consigo quando saiu dos SEXART e que foi escrita por Dennis Shinn para esse grupo. É lógico que a canção levou todo um tratamento que lhe deu outra dimensão e o fez tornar-se no primeiro single do grupo de Bakersfield, Califórnia, mas…
Não deixa, no entanto, de ser curioso que reciclar seja a palavra de ordem numa canção que se tornou precursora de um movimento. É também no tema “reciclagem” que se pode rever este estilo, também conhecido como nu-metal e, sem dúvida, aquele que mais ódios e críticas suscitou dentro do mundo do metal. Não interessa se para a formação do estilo contribuíram nomes como FAITH NO MORE, HELMET, FEAR FACTORY, SUICIDAL TENDENCIES, PRONG, RAGE AGAINST THE MACHINE ou MINISTRY, entre outros. O ódio surgiu bem cedo e, por vezes, de forma cega.
Observada assim, num pequeno clube, numa fase ainda em busca da definição, a «Blind» revela-se mais insípida, longe de suscitar ódios ou de ser icónica, é apenas uma boa malha dos KORN. Porém, acaba por representar muito, simbolizando mesmo uma geração que anunciava, cantando sobre a introversão, roçando o tema da depressão, tocando no “eu”.
No início, todos os movimentos que surgem não se distinguem de outros que os precederam. E não é que aqui também foi assim? Anos mais tarde este estilo ajudaria a contribuir, em larga escala, para outro que predomina em alguns cantos da internet, o dos “ferrugentos”. Velhos do Dramático, musicalmente cristalizados, refugiados atrás de teclados, blindados entre paredes de um metal dito clássico. Exímios em apontar o que é o verdadeiro metal, aquele que arde na chama e lhes queimou o cérebro. Para esses só existiu uma juventude, a sua. Muitos versos da «Blind» poderiam ser sobre eles.
Em nota de rodapé, importa referir que os KORN também foram importantes para a LOUD!. Foi no final da primeira actuação do grupo em Portugal que se distribuíram cópias daquele que foi o número zero da revista. Quem teria pensado em tudo isto, quando uns miúdos subiram ao palco, na noite de 18 de Outubro de 1993?