KATATONIA

KATATONIA: «Nightmares As Extensions Of The Waking State» para ouvir na íntegra [review + streaming]

Mesmo com mudanças de formação, expectativas cruzadas e alguns momentos que podem roçar o soporífero, o 13.º álbum dos KATATONIA mostra que a sua essência permanece intacta.

Chegar ao 13.º álbum de estúdio é, por si só, uma proeza digna de nota — ainda mais quando se trata de uma banda como os KATATONIA, que, desde os tempos de «Discouraged Ones», se têm recusado a ficar reféns das amarras do death/doom que os viram nascer. Hoje em dia , a sonoridade do grupo oriundo de Estocolmo balança mais para o lado progressivo do que para o peso puro — e, mesmo com a saída do guitarrista e cofundador Anders Nyström, a chegada de reforços vindos de bandas como os ENTOMBED AD e PAIN não faz desta transição um retrocesso, mas um ajuste de rota que, na verdade, pouco mexe na bússola principal.

O «Nightmares As Extensions Of The Waking State» começa, curiosamente, com quatro segundos de distorção quase doom, apenas para recuar logo em seguida para aquele registo etéreo e delicado que os KATATONIA tão bem domam. «Thrice», a faixa de abertura, embala o ouvinte num jogo de luz e sombra, construindo progressões dramáticas que alternam entre a melancolia e o quase-crescendo. O mesmo se pode dizer de «The Liquid Eye», que mantém a tensão emocional com elegância.

No outro extremo desse espectro, «Departure Trails» e «Warden» funcionam como pontos de reflexão, momentos de pausa que, embora serenos, mantêm viva a introspecção que sempre guiou Jonas Renkse e companhia. É aqui que a voz discreta e quase fantasmagórica de Renkse encontra o seu habitat natural — muito mais confortável neste registo do que nos ocasionais “hail satan” lançados para o ar na muito mais sombria «Wind Of No Change», onde a banda esboça breves piscadelas ao passado mais pesado.

Mas não se enganem: a classe que caracteriza os KATATONIA continua intacta, e faixas como «Lilac» e «Temporal» são a prova disso mesmo. Ambas apostam numa acessibilidade quase pop, sem nunca perderem a profundidade lírica e emocional. Destaque para o solo de guitarra em «Temporal», uma daquelas peças que, ao vivo, promete tornar-se um clássico instantâneo.

O final chega com «In The Event Of», que encerra o álbum de forma quase cinematográfica, misturando lamento e experimentação — um retrato onírico de um pesadelo real que, ao integrar um sintetizador próximo da estética trance, arrisca ser a peça mais arrojada do disco. É o exemplo perfeito de como os KATATONIA continuam a surpreender, mesmo sem revolucionarem.

E sim, é verdade que alguns momentos mais brandos podem roçar o soporífero — algo que a banda já nos habituou nos álbuns mais recentes —, mas há sempre algo que nos acorda do torpor. Quanto mais vezes se escuta «Nightmares As Extensions Of The Waking State», mais camadas se revelam, como se cada audição nos puxasse para dentro do próprio pesadelo.

Feitas as contas, a banda sueca mostra que, mesmo com mudanças de formação e expectativas cruzadas, a sua essência permanece intacta: uma viagem emocional, onde a escuridão se estende para lá do sono, desafiando-nos a permanecer acordados para a próxima encruzilhada. E enquanto esse convite existir, os KATATONIA vão continuar a ser uma das propostas mais fascinantes do metal contemporâneo.