KATATONIA

KATATONIA: «Brave Murder Day», o ápice da desolação melancólica

Foi no «Brave Murder Day» que os suecos KATATONIA traçaram um novo caminho, enquanto o resto do underground se mantinha a coçar a cabeça em perplexidade.

Formados no ano de 1991 em Estocolmo, na Suécia, os KATATONIA deram os primeiros passos como um projecto de estúdio composto por apenas dois elementos. O vocalista e baterista Jonas Renkse (então conhecido como Lord Seth) e o guitarrista Anders Nyström (sob o pseudónimo Blakkheim) passaram o primeiro ano de existência da banda a compor e a ensaiar, com o processo a culminar na gravação de uma maqueta com o reputado Dan Swanö.

Composta por 5 temas de death/doom com influências de black metal, «Jhva Elohim Meth» foi editada em 1992 e não demorou muito a transformar-se num êxito a nível underground, inspirando até reedição em CD – através do selo independente holandês Vic Records – no ano a seguir. É nessa altura que lhes surgem as primeiras propostas para tocarem ao vivo e os KATATONIA iniciam uma colaboração com o baixista Guillaume Le Huche, sendo com esta formação que, em 1992, disponibilizam o longa-duração de estreia através da No Fashion Records.

«Dance of December Souls» mostrou-os a abandonarem parcialmente os sons mais cortantes que tinham caracterizado as primeiras composições, a adoptarem uma sonoridade consideravelmente mais expansiva e a darem início ao processo de mudança que lhes permitiria apelarem a uma audiência mais vasta. O ano seguinte cimentou a vontade de crescer, com «Scarlet Heavens»«Black Erotica» e «Love Of The Swan» – três temas com mais em comum com os The Cure ou The Sisters of Mercy que com os Marduk ou Darkthrone — a serem incluídos num split EP com os Primordial e numa compilação da Avantgarde Music.

Ainda em 1994, após a incapacidade de assegurarem uma formação estável, Renkse e Nyström optam por colocar a banda em stand by e passam a dedicar-se com mais afinco a outros projetos. No entanto, sem Le Huche, mas com Fredrik Norrman na posição de segundo guitarrista e Mikael Åkerfeldt (dos Opeth) na voz, que os KATATONIA voltam ao activo em 1996 com a edição do icónico «Brave Murder Day» via Avantgarde.

Contexto. Quando o death metal — aquele death metal mais atmosférico, carregado de doom e com um altamente toque extravagante — emergiu em 1996, despir a música aos seus elementos mais básicos era um conceito completamente estranho. Tudo era orquestral, e conceptualmente grandioso… O céu era o limite, mas as bandas alcançavam as estrelas. E sim, mais tarde ou mais cedo, essa visão das coisas tinha de acabar.

Verdade seja dita, nunca acabou realmente (a conta de estúdio do «Dark Passion Play» dos NIGHTWISH foi, segundo consta nos meandros da indústria discográfica, superior a 680,000 dólares), mas, nesse ano, os KATATONIA imaginaram, criaram e lançaram a antítese. Desarmónico e desprovido de brilho sinfónico, o «Brave Murder Day» dependia, em vez disso, de um ritmo pulsante, sem complicações, em ritmo 4/4, uma parede de guitarras ao estilo shoegaze, solos tristes e carregados de delay, e o rosnado inquietante de Åkerfeldt. Surpreendentemente simples e, ainda assim, assombroso.

Embora poucos o tivessem apreciado ou percebido quando foi editado — até o veterano produtor Dan Swanö o considerou “insatisfatório” — a abordagem austera do «Brave Murder Day», com temas como «Brave», «Day», «Muder», «Rainroom» e «Endtime», acabou por revelar-se tão ousada quanto influente. E sim, para todos os efeitos, para o melhor e para o pior, os KATATONIA foram efectivamente a primeira banda a unir metal e shoegaze com resultados satisfatórios.