Quase três décadas passadas depois da edição do seu disco de estreia, os KAMELOT estão de regresso com o 13.º longa-duração de estúdio, intitulado «The Awakening», que sucede a «The Shadow Theory», editado em 2018. Mesmo numa escutadela inicial, percebe.se bem que a banda soube adaptar-se e, neste que é o quarto registo com o vocalista sueco Tommy Karevik, os músicos parecem soar melhor que nunca, naquele que bem poderá ser um dos registos mais completos e bem sucedidos da sua já longa carreira. Para falar sobre esta novidade, a LOUD! esteve à conversa com o guitarrista e membro fundador do grupo, Thomas Youngblood.
Como estão as coisas por aí?
Está tudo bem. Estou incrivelmente ansioso para voltar à estrada.
Já lá vai algum tempo…
Nem me digas nada! [risos] Demos dois concertos recentemente, por isso tenho praticado que nem um louco.
E como correram esses dois primeiros espectáculos depois de tanto tempo sem poderem tocar ao vivo?
Foram inacreditáveis. Ea té parecia que o tempo não tinha passado, o que foi um pouco estranho. É estilo andar de bicicleta, de certa forma. O primeiro tema foi um pouco estranho, porque não tocava ao vivo há três anos, mas depois quando o público começou a reagir – foi na Bulgária e com a maior assistência que já tivemos naquele país – foi quase surreal. Ao mesmo tempo, aquele sentido de validação foi espectacular.
Sei que já tinham previsto gravar o disco durante o período em que se deu a pandemia. Foi melhor ou pior para vocês, tendo em conta que têm os elementos da banda espalhados um pouco por todo o mundo?
Acabou por ajudar, porque normalmente temos prazos para cumprir e, quando se deu a pandemia, sabíamos que não podíamos lançar um disco se não houvesse uma digressão de promoção. Acabámos por ter um tempo extra de seis a oito meses para podermos trabalhar em pequenos pormenores do disco. Quando os fãs o ouvirem, vão perceber que há tanta música nas canções que só podemos ter passado muito tempo a trabalhar nelas. Acho que esse tempo extra que tivemos acabou por ajudar ao resultado final.
Este disco podia bem ser um best of dos KAMELOT, porque mistura tudo o que foram e, muito provavelmente, tudo o que vão ser.
Acho que essa é uma grande análise, para ser sincero. Quando estávamos a compor, eu e o Tommy falámos do que fazia os Kamelot serem uma banda única. Por exemplo, o que fez do «The Forth Legacy», do «The Black Halo» ou do «Karma» discos únicos? Tentámos olhar para as coisas assim, mas reconhecendo sempre aquilo que temos feito mais recentemente. Quisemos manter o ADN, mantendo as transições, os refrães melódicos, sejam eles mais alegres ou obscuros. Tivemos consciência disso, sem nenhum disco particular em mente. Acho que a tua análise acerta em cheio porque também há coisas neste álbum que nunca fizemos antes , mas ao mesmo tempo temos canções como a «Midsummer’s Eve» que podia fazer parte do «The Forth Legacy» ou dos primeiros discos, porque tem aquele ambiente celta. Depois a «One More Flag In The Ground» tem a melodia do médio oriente, que também podia fazer parte do «The Forth Legacy» ou do «Karma». Portanto, é bem porreiro perceber que pessoas como tu, que nos acompanham desde o início desta viagem, ainda estão connosco. É para essas pessoas que continuamos a fazer músicoa, mas também temos consciência de que há certos elementos que se ligam aos fãs mais recentes. Acho que, com este novo disco, conseguimos fazer isso.
Às vezes fica-se a pensar de que não vão conseguir fazer melhor que no disco anterior, vocês conseguem sempre superar-se.
Como dizia à pouco, nós não descansamos à sombra da bananeira, nem fazemos música rapidamente para entregar à editora e dizer-lhes “tomem lá mais um disco”. Fico contente por perceberes que há trabalho neste disco, que tem o ADN dos Kamelot e que nos continuamos a desafiar musicalmente. Há muito trabalho árduo neste álbum e acaba por ser um testemunho de que temos grandes fãs, que percebem quem são os Kamelot.
O primeiro single foi «One More Flag In The Ground», mas quando ouvi o disco pensei que o «The Great Divide» fizesse mais sentido, porque é Kamelot clássico. Escolheram a «One More Flag In The Ground» porque dava um vídeo-clip melhor? [risos]
Quando lançamos um vídeo-clip, qual é o objectivo? Fazê-lo para os fãs que já conhecem a banda ou tentar chegar a novos fãs? Se nos lembrarmos dos vídeos que fizemos para «The Haunting» ou «March Of The Mephisto», não eram temas típicos Kamelot na altura. Acho que as pessoas se esquecem que a «The Haunting» era muito diferente do resto do disco e acabou por abrir as portas a outro tipo de fãs, que não os de power metal melódico. O «One More Flag In the Ground» já fez isso. Entre equipas de desporto usarem o tema, a termos mais rádios a passar a canção, acaba por ajudar a banda a chegar a mais público e, quem sabe, tocar em salas maiores, com melhor produção. O próximo single vai ser mais tradicional e queremos fazer um clip para a «Midsummer’s Eve» porque é uma daquelas baladas típicas dos Kamelot.
Por falar em baladas: há duas neste disco, o que penso ser uma primeira vez em discos vossos. Não sei… Já tivemos discos com temas que misturavam um pouco baladas, como a «Elizabeth» no «Karma». Neste disco temos treze temas, mas em termos de direitos só nos pagam 10! Podíamos deixar um tema de fora, mas achamos que as duas baladas eram tão boas, que seria uma pena deixar uma delas de fora do disco. A forma como muita gente ouve música nos dias de hoje também tem a ver com isso, porque uma boa parte do pessoal não ouve um disco completo. Nós ainda escrevemos álbuns para as pessoas, mas com os serviços de streaming já sabemos que a maioria só ouve dois ou três temas. Queríamos colocar as melhores canções que fizemos neste disco.
Voltando a «One More Flag In The Ground». Há dois solos de guitarra no tema, o que penso ser também inédito da tua parte numa canção dos Kamelot.
Acho que em modo shredding, sim… Penso que já tivéssemos feito algo parecido onde o final teria uma linha melódica de guitarra. Esses são solos que tenho andado a praticar para a digressão. Parece complexo, mas não é. Não sei bem [risos]… Não gosto muito de show off, para mim é o que a música está a pedir. Para ser sincero, não pensei muito nisso. Neste disco gá bons momentos de guitarra para os fãs de guitarra, mas eu só faço o que a canção pede.
Como sempre, há por aqui convidados especiais. A Tina Guo gravou um solo de violoncelo para a «Opus of the Night (Ghost Requiem)», que traz à memória o «Ghost Opera».
Essa música foi escrita para ser o requiem do «Ghost Opera». A história é sobre a neta da personagem do vídeo-clip de «Ghost Opera», que concretiza o sonho da avó de cantar na opera, por isso há ali alguns momentos feitos propositadamente para invocar essa memória. Foi uma ideia do Tommy. Para mim é um dos temas que se destaca no disco. O refrão, escrito pelo Tommy, é fantástico.
O Tommy não só é um vocalista fantástico como está a tornar-se um compositor de excelência.
Concordo. Escreveu muito para este disco. A «Midsummer’s Eve» é toda da autoria dele, incluíndo as partes orquestrais. Até lhe perguntei onde aprendeu a tocar guitarra e a compor partes orquestrais. É super talentoso! É uma pena que não tenha boa aparência. [risos]
Foi fácil convidar a Tina para tocar no disco?
Tenho uma lista de pessoas com quem gostaria de trabalhar. A Tina está nessa lista há uns oito anos. Acho que, recentemente, esteve com os Sabaton e, quando estava a trabalhar no disco, contactei-a e os horários coincidiram perfeitamente. Ela estava entusiasmada, porque no fundo é fã de metal – o que é muito porreiro. Foi um sonho tornado realidade tê-la no disco e também sou um fã enorme do Hans Zimmer, e ela toca com ele e dia sim, dia não, coloca uma foto com o Hans Zimmer nas redes sociais. [risos] O mesmo aconteceu com a Melissa Bonny, que tem crescido imenso nos últimos dois, três anos com os trabalhos que tem feito. Consegue cantar com voz limpa, mas também tem aqueles growls que se encaixam na nossa música. Portanto, tivemos sorte de poder contar com ela também. Mas há muito talento, principalmente nos coros que não divulgamos, mas que nos ajudaram imenso neste disco.