De repente, num ano que começa a ser negro para o metal nacional, a cena portuense vê partir um dos seus elementos mais queridos e bem-humorados – faleceu José Pereira, dos BURIED ALIVE.
A sua pose em palco, ou no circle pit quando mais novo, fazia temer. Porém, quando fora desses terrenos, com uma cerveja na mão e em conversa, revelava-se uma das pessoas mais simpáticas e despretenciosas do underground portuense. De nome José Pereira, foi um dos fundadores dos BURIED ALIVE, banda thrash do norte do país.
Como músico, esteve presente nos dois primeiros trabalhos do grupo, bem como nas maquetas que os precederam. Embora formados em 1991, ainda dentro da grande vaga de thrash portuense, os miúdos, à época, apareceriam em cena com a maqueta «The First Burial», de 1996, e a excelente «El Niño», de 1998. A primeira recordação do grupo e do Zé Pereira, no que toca a este escriba, vai para um David Duarte, na altura dos WEB e responsável pela célebre Halloween Store, que, segurando a tape com alegria, dizia serem o melhor que surgia pelo Porto na época.
O primeiro disco “a sério” para o vocalista e guitarrista, que partilhava ambas as funções com o companheiro Jorge Cardoso, foi «Spoils Of War», de 1999. Seguiram-se imensos concertos, com uma banda que era uma impressionante força em palco. Dentro e fora, todos gostavam de festejar e celebrar o momento. Fica na memória um evento, em Guimarães, iniciado já pela madrugada dentro, pois, antes de começar, alguém convidou a dupla Pereira/Cardoso para um rali das tascas, a que os músicos não souberam dizer não. Era assim a dupla nos primeiros anos do grupo.
As vicissitudes do meio discográfico, em particular do metal nacional, levaram a que o segundo disco do quarteto falhasse a divulgação. «Welcome To Reality», de 2001, é tão bom quanto quase desconhecido. A sua caixa em madeira, torna-o incontornável para coleccionadores. Pouco depois, a banda entrava em declínio, a vida tratava de separar membros, com Pereira a emigrar. Foram anos até o grupo voltar à estrada, surgindo «Exploding Ashes» só em 2015, ainda sem Pereira.
O bom gigante regressaria pouco antes da pandemia, com o colectivo a ver também regressar Eric DiMeglio na bateria e a integrar o virtuoso Nuno Pereira no baixo. Pela Firecum Records, em conjunto com os Pitch Black e Booby Trap, gravariam o three way split «Bastards United», de 2020. Já com Eric de saída, o grupo actuou no Tondela Rocks em 2023, confirmando no final do ano a partida do baterista.
A morte de José Pereira, um bom gigante, apanhou todos de surpresa neste último Domingo de Fevereiro. Um tumor no pâncreas ceifou a vida de um bom amigo para aqueles que puderam privar de perto com o personagem. Um treinador de voleibol também querido por todos. Nascido a 31 de Março de 1972, o músico partiu a 25 de Fevereiro deste ano.