IRON MAIDEN

AQUELA VERSÃO: Os IRON MAIDEN e a fixação inicial com as suas influências

Através dos seus singles em vinil, os IRON MAIDEN fizeram uma verdadeira homenagem a bandas que influenciaram o grupo e, particularmente, Steve Harris. Hoje, revisitam-se alguns desses temas.

Na mutação do mercado discográfico, os singles transformaram-se em vídeos, ou lyric vídeos, lançados na rede digital. Tema isolado, entregue à sorte dos “likes”, ou “views”, por vezes maltratado pelo realizador ou até pela própria banda. Noutra época, foram a escada para o acesso aos tops, a forma de promover algo maior, o álbum. A edição física urgia encontrar um segundo tema, ou até terceiro, para o caso dos maxi-singles.

Nos anos 80, os IRON MAIDEN foram mais um exemplo de banda que lançou singles mirando a promoção de álbuns ou digressões, bem como a entrada nos tops de vendas. Curiosamente, encontraram uma boa solução, embora não inédita e, para os lados B, escolheram versões de temas relativos a bandas que marcaram a juventude de Steve Harris.

Longe de ser exaustiva, a LOUD! foi procurar esses temas agora um pouco perdidos, alguns reunidos num CD incluído na caixa «Eddie’s Archive», editada há duas décadas, e de título «Best Of The B’Sides». Também uma das muitas reedições dos discos dos IRON MAIDEN contemplou a inserção destes temas.

Logo em 1980, os IRON MAIDEN lançariam «Women In Uniform», uma versão do tema dos australianos SKYHOOKS. Para a história, diga-se que foi o último tema gravado por Dennis Stratton para a banda. Steve Harris detestou o tema e muita da sua popularidade deve-se ao trabalho do produtor Tony Platt. A mistura entre o ainda popular punk, à época, e o som dos THIN LIZZY, convenceu muitos, mesmo que a letra tivesse pérolas como “Commando raid on the Lebanese border / Sergeant Anita gives the order”. O tema acabaria a destoar do que viria a seguir, pois não só foi o lado A, como a escolha, face às versões seguintes, que acabaria por soar desenquadrada.

Seria assim, em 1983, que tudo realmente começaria. O single era «Flight Of Icarus», primeiro com Bruce Dickinson na voz, por altura do LP «Piece Of Mind». A escolha, caiu logo sobre os MONTROSE, banda algo esquecida e subvalorizada. O tema, o excelente «I’ve Got The Fire», recebeu mesmo duas versões dos IRON MAIDEN, uma ao vivo, ainda com Paul Di’Anno na voz, e uma segunda, de estúdio, já com Bruce.

Hoje quase desconhecidos, os norte-americanos levavam o nome do seu guitarrista, um dos maiores nomes norte-americanos no princípio dos anos 70. Ao longo dos quatro anos de existência, foi ao disco de estreia, com Sammy Hagar na voz, que Harris foi encontrar o tema. Curiosidade para uma recuperação posterior do tema, no encontro entre Davey Pattison e Michael Schenker, para o álbum «The Endless Jam».

A 20 de Junho de 1983 chegava o single «The Trooper», contemplando um tema dos JETHRO TULL, «Cross-Eyed Mary», originalmente contida em «Aqualung», talvez o melhor álbum da banda. Iniciada a “tradição”, durante muitos anos os singles do grupo foram contemplados com versões que, ao longo das décadas, permitiram ver as influências e gostos de Steve Harris. Os norte-americanos CLUTCH, teriam a coragem de pegar no tema em 2002, diga-se.

Em 1984, com a edição de «Powerslave», já havia curiosidade sobre a escolha, e no single de «2 Minutes To Midnight» a surpresa foi grande. A escolha recaía sobre uns completos desconhecidos BECKETT e a malha «A Rainbow’s Gold». Ingleses, com apenas um álbum e um vocalista claramente inspirado por Robert Plant, foi fácil perceber, a partir daí, que o objectivo era render homenagem a heróis da juventude de Harris, à semelhança do que um par de anos mais tarde os METALLICA fariam também. Esta é daquelas versões que não envergonharia os IRON MAIDEN se tivesse surgido num álbum, a ombrear com originais.

Com «Aces High» visitavam-se os progressivos NEKTAR, através de «King Of Twilight», e percebiam-se claramente as influências progressivas do baixista que, uns anos mais tarde, se revelariam em pleno a partir de «Brave New World», de 2000, e claramente assumidas em 2021, com o mais recente «Senjutsu». A edição de «Live After Death», em 1985, e dos seus singles, marcaria um curto intervalo neste hábito, mas ele seria retomado depois… O que nos deixa com assunto nas mãos para outro artigo.