IRON MAIDEN: «Senjutsu», a primeira review

IRON MAIDEN
«Senjutsu»
[Parlophone]

A curiosidade sobre cada novo álbum de estúdio dos Iron Maiden reflecte não só a poderosa máquina de marketing que têm por trás, mas também a relevância do grupo ao fim de quase cinco décadas no activo. Claro que isto passa também pelo interesse que novas faixas ainda são capazes de suscitar, mesmo sabendo-se que pouco espaço terão num setlist já repleto de temas “obrigatórios”.

«Senjutsu» é então o novo álbum. Longe de ser inesperado – apenas o timing específico não o indicava -, mas da forma como tudo se precipitou, a meio do Verão, criou um buzz que ainda acentuou mais a curiosidade. No primeiro balanço, após escuta de uma dezena de faixas, distribuídas por dois CDs ou três rodelas de vinil, o disco passa a prova e facilmente poderá, num par de anos, situar-se como o melhor deste século, logo a seguir ao fabuloso «Brave New World». Mas não é uma obra imediata, nem estará perto de agradar à maioria dos fãs da banda.

Desde logo, é o disco mais lento do grupo, por vezes com temas que poderiam ser encurtados, e nunca justificando plenamente o duplo, ou triplo, álbum. Aqueles que glosam com o estilo das guitarras Maiden, ficarão aqui sem argumentos, com o som muitas vezes a ficar mais próximo do hard rock que do metal – basta escutar o solo aos quatro minutos de «Darkest Hour», em que Adrian Smith como que regressa aos A.S.a.P.. Um excelente arranque para o segundo CD, tal como «Senjutsu», também com marca de Smith, é um grande arranque para a obra a que dá nome. Bateria tensa, tema com ritmo, sempre à beira da explosão, que nunca chega a acontecer.

«Stratego», falha como single e podia bem ter ficado de fora. «The Writing On The Wall» dispensa comentários, pois todos já escutaram e tiveram algo a dizer sobre o tema. Certamente poderá ocupar um lugar no setlist dos próximos cinco anos. Dificilmente sobreviverá a vinte anos, mas nessa altura dificilmente o Eddie andará por aí. «Lost In A Lost World» é também um tema digno deste trabalho. Há aqui um pouco de «Wasting Love», e de um caminho que tentou ser seguido por altura do «Fear Of The Dark». E se «Days Of Future Past» tinha tudo para ser uma malha rápida, percebe-se que, em 2021, os Iron Maiden pretendem desacelerar. Afinal, a idade pesa.

«The Time Machine» é um tema interessante, que a meio resolve voltar ao passado do colectivo e trazer à memória o “som Maiden” que tantos gostam. É daqueles que sofre mais com o “excesso” de música que o grupo pretende trazer para este trabalho. Com um título como «Death Of The Celts», podia esperar-se o pior, alguma incursão pela folk, hoje tão popular, mas a inteligência do grupo, consegue evitar isso quase até ao final, e o resultado é uma espécie de «The Clansman» mais arrastada e, novamente, com um par de minutos a mais.

As três últimas faixas ultrapassam a dezena de minutos, «The Parchment» é a mais longa, mas ilustrativa de como é este disco, muita música, rica em pormenores, e que a um dado instante faz perder a noção de tempo. Quando se chega a «Hell On Earth», qualquer um já se encontra saciado de música e dispensa.

Definitivamente, o disco mais versátil em termos de guitarras da carreira da banda, e nesse campo poderá até surpreender. Em termos vocais, Bruce Dickinson tem um dos seus trabalhos mais ousados, e nem sempre ganha com isso. Harris está lá, mas percebe-se que passou mais tempo a procurar a musicalidade que a fazer maratonas de baixo, enquanto Nicko, brilha em dois ou três pontos e no resto fica a marcar ritmo à sua maneira muito própria.

O balanço final é obrigatório. O disco estará longe de ser consensual. Audacioso, mas nunca arriscando demasiado. Será muito interessante para o veterano que, com os anos, aprendeu a apreciar uma guitarra acústica ou um bom solo. Sentado no sofá, a olhar para a colecção de discos e com uma cerveja na mão, terá aqui motivo de longas conversas no próximo concerto. Dificilmente agradará a quem insiste no shuffle de uma aplicação de streaming, e quer apenas ouvir algo para postar numa story. Um disco com gorduras, sim, mas também a pisar num campo em que estas são apreciadas.

[8] E.F.