39 anos depois, o impacto deste intemporal álbum ao vivo dos IRON MAIDEN continua a manter exactamente a mesma força colossal.
Pode dizer-se que a descoberta dos IRON MAIDEN, e particularmente «Seventh Son Of A Seventh Son», foi um momento charneira na minha vida. Embora continue a ser o meu álbum preferido da banda, tantos anos depois de o ter ouvido pela primeira vez (como o tempo passa!), o terceiro tema impede-o de ser perfeito. Depois de muito insistir, a minha mãe comprou-me a cassete original e, quase ao mesmo tempo, um amigo comprou o «Somewhere In Time» no mesmo formato, sendo as suas audições alternadas e muitas vezes em conjunto.
Mas, a dada altura, apareceu lá no bairro uma cassete BASF de 90 minutos com «Live After Death», que teria sido gravada directamente do vinil. Com os nomes dos temas escritos naquela matriz que servia de capa, e o logotipo habilmente desenhado na lombada, várias cópias da mesma foram feitas e «Live After Death» tornou-se no álbum mais ouvido naquela fase mágica de descoberta.
Apresentando algumas das melhores canções da primeira fase da carreira dos IRON MAIDEN, com o discurso de Churchill (que na altura pensava ser o mesmo fulano da introdução de «The Number Of The Beast», mas a fazer uma voz diferente) a introduzir «Aces High», seguida de «2 Minutes To Midnight» e «The Trooper», melhor sequência de abertura seria impossível.
O início de «Revelations» nunca me entusiasmou mas torna-se irresistível na sua parte final, tendo a versão ao vivo de «Flight Of Icarus» a energia que faltou em estúdio. Com «Powerslave» e «The Rime Of The Ancient Mariner» totalizam-se assim quatro temas ao disco que promoviam na altura, constituindo pontos altos desta actuação na Long Beach Arena, havendo um desfilar de clássicos até ao final do concerto de Los Angeles.
Os cinco temas finais, considerados como menos óbvios, foram incluídos para perfazer a duração do álbum-duplo, gravados no Hammersmith Odeon de Londres, mas que sempre foram para mim igualmente bons, nomeadamente «22 Acacia Avenue» e «Die With Your Boots On». Por limitações de fita, foram suprimidos daquela gravação em cassete «Children Of The Damned» e «Phantom Of The Opera», que só ouvi alguns meses mais tarde, ficando impressionadíssimo com este último.
A descoberta dos IRON MAIDEN continuou durante algum tempo pois não me era fácil ter acesso aos discos naquela altura. Num qualquer passeio, creio que para os lados da Avenida de Roma, convenci a minha avó a comprar-me o «Powerslave», também em cassete, e tornou-se numa audição obsessiva (ainda hoje me passo com «Flash Of The Blade» e «Back In The Village», além dos temas que estavam no disco ao vivo), e houve outro miúdo lá do bairro a arranjar o «The Number Of The Beast», que obteve o mesmo tratamento.
O irmão mais velho de um colega da escola tinha o vinil de «Live After Death» e segurá-lo pela primeira vez, foi como segurar um objecto sagrado, analisando todos os pormenores da capa, com o Eddie a erguer-se da terra, onde estava acorrentado à tumba, e intrigado pelo verso de H.P. Lovecraft que não tinha capacidade para traduzir ou compreender, as fotografias da banda no interior… tudo era perfeito.
Não só o alinhamento era brilhante, como a forma como eram tocados, a energia extraordinária, o barulho do público, os apelos de Bruce Dickinson: “scream for me Long Beach!”, a capa que mais me impressionou até hoje, todos esses foram ingredientes que tornaram este disco marcante para mim e tantos milhares de fãs, que sonhavam estar presentes num concerto da banda.
Recordo-me de estar no Tamariz a ver os comboios cheios a passar em direcção a Cascais, para o concerto dos IRON MAIDEN no Dramático a 20 de Setembro de 88, e a pensar que um dia seria eu num daqueles comboios. Apanhei-o muitas vezes para ir ao Dramático, mas nunca pensei que o apanharia na direcção oposta e veria recriado não só o concerto de «Live After Death» (em 2008), como o da tournée do «Seventh Son…», em 2013.
É extraordinário ver esta banda com os olhos postos no futuro, mas a forma como nos permitem viver o que achávamos perdido (no meu caso, demasiado jovem para poder ter ido), sem se tornarem numa banda de cabaret a recriar o passado pela nostalgia, mas celebrando-o e perpetuando o seu legado pelas gerações vindouras, faz dos IRON MAIDEN uma banda sem qualquer paralelo.