Chegados a 2023, com 33 anos de carreira e uma extensa e dicotómica discografia na bagagem, há ainda quem mantenha a expectativa de que os suecos In Flames voltem ao típico som de Gotemburgo e aos tempos de «The Jester Race» ou «Whoracle», batendo irremediavelmente na banda a cada novo disco. A questão é que este estado de espírito já dura há tanto tempo, que já se tornou uma rotina e uma verdade absoluta: cada novo disco dos In Flames é cada novo prego no caixão e mais um motivo para apelidar a banda de, no mínimo, vendida. Mas eis que, entretanto, sem nos apercebermos claramente do passar dos anos, «Reroute To Remain», o álbum que “americanizou” os In Flames e redefiniu o seu trajecto, já celebrou vinte anos, pelo que temos bem mais de In Flames “fora de Gotemburgo” do que embrenhados no death metal melódico que ajudaram a criar e a notabilizar. Mas, sejamos sinceros, da mesma forma que o público mais saudosista e conservador foi e continua a ser implacável na forma como menospreza o rumo seguido pela banda, a própria também tem uma boa quota parte de responsabilidade naquilo a que se expôs, ao assinar trabalhos de qualidade duvidosa – com «Sounds Of A Playground Fading», «Battles» ou «I, The Mask» à cabeça – e ao piscar demasiado o olho e a forçar uma aproximação a um público juvenil. Com resultados duvidosos a nível artístico, vieram as mudanças de formação profundas, com elementos fundadores a abandonar o barco ao longo do percurso.
Neste cenário, será justo afirmarmos que a novidade «Foregone» não trouxe propriamente consigo um entusiasmo palpável, pese embora a presença de Chris Broderick no seio da banda alimentasse alguma curiosidade. Dada a oportunidade a este disco e colocado de lado qualquer estigma ou preconceito, é justíssimo afirmar que «Foregone» é o melhor disco dos In Flames pós-«Clayman»! E não, a banda não voltou aos tempos de «Whoracle» nem seria, de todo, expectável que o fizesse, mas voltou sim a sacar um disco viciante, cheio de grandes canções e com uma personalidade e uma homogeneidade muito vincadas. E não vamos menosprezar os bons momentos que assinaram em «Reroute to Remain», «Soundtrack To Your Escape» ou mesmo nos que já atrás mencionámos como menos conseguidos, porque se há coisa que os In Flames fazem e sempre fizeram muito bem é grandes canções. O que distingue «Foregone» dos antecessores dos últimos vinte anos é a quantidade anormalmente alta dessa tais grandes canções que encerra, tornando-o, de forma muito objectiva, um excelente disco. E podemos pegar pelo equilíbrio perfeito entre peso e melodia que ambos os temas pelos quais o tema-título está dividido (pt. I e pt. II) apresentam, pela aproximação ao death metal sueco mais tradicional que «The Great Deceiver» revela, pelas melodias viciantes e envolventes de «In The Dark», «A Dialogue In B Flat Minor» ou por uma enorme canção com tudo no sítio como é «Meet Your Maker», com doses de melodia, peso, agressividade, solos e alma naquele ponto de rebuçado que nos deixa perfeitamente reconfortados. Ok, este não é um álbum que vai desafiar os nossos sentidos, que vai esticar limites do que quer que seja, que vai mudar as nossas vidas ou que vai elevar-nos a um qualquer estado de espírito transcendental. Mas é honesto, extremamente bem executado, composto e produzido, capaz de nos proporcionar excelentes momentos e de constituir a banda sonora para quando apenas queremos ouvir música que nos entretenha e nos ponha a cantarolar um ou outro refrão em conjunto com o mestre de cerimónias Anders Fridén, que assina aqui uma prestação muito inspirada. E sim, o Broderick também veio trazer aqui algo de muito refrescante, sem, contudo, deixar cair a matriz In Flames, mais vincada até do que era hábito em trabalhos anteriores. [8.5]