HULK HOGAN

HULK HOGAN | 1953 — 2025: Morreu a lenda do wrestling alimentada a rock’n’roll e excessos

Do fenómeno HULKMANIA aos acordes distorcidos de Jimi Hendrix, passando pela associação à estética do hair metal da Sunset Strip, o icónico HULK HOGAN viveu como uma verdadeira estrela do rock.

Morreu Hulk Hogan, a lenda maior do wrestling profissional e uma das figuras mais icónicas da cultura popular norte-americana dos anos 80 e 90. Tinha 71 anos. Segundo o TMZ, Terry Bollea — o homem por trás da famosa personagem — faleceu esta quinta-feira, 24 de Julho, na sua casa, em Clearwater, Florida, vítima de paragem cardíaca. Há várias semanas circulavam rumores sobre o agravamento do seu estado de saúde, na sequência de uma cirurgia cervical em Maio.

Mais do que um lutador, Hulk Hogan foi um símbolo de excessos, carisma e grandiosidade — atributos que o aproximaram, de forma surpreendente, do universo do heavy metal. A ligação pode não ter sido musical no sentido estrito, mas a estética, o espírito e até alguns momentos específicos da sua carreira traçaram uma ponte entre o ringue e o palco.

Logo para começar, a explosão do fenómeno Hulkamania nos anos 80 coincidiu com o auge do heavy metal nos Estados Unidos. Tal como as bandas que enchiam arenas e vendiam milhares de discos, Hulk Hogan encarnava esse espírito do espectáculo exagerado, da teatralidade musculada e também do culto da personalidade. A sua imagem — bandana, bigode loiro oxigenado, músculos inchados, poses bastante bombásticas — podia rivalizar com qualquer estrela do hair metal da época.

Enquanto grupos como os Mötley Crüe, Twisted Sister ou Manowar elevavam a atitude e o visual a níveis operáticos, Hogan fazia o mesmo no wrestling, trazendo semanalmente para o ecrã televisivo uma figura que parecia saída directamente de um álbum de metal dos anos 80. A sua célebre máxima — “say your prayers and take your vitamins” — era um equivalente dos gritos de guerra que animavam palcos por todo o mundo.

Em meados da década de 90, já longe do papel de herói infantil e abraçando o lado vilão como líder do infame grupo New World Order na WCW, Hogan trocou as suas cores tradicionais por tons escuros, e os gritos patrióticos por uma aura mais rebelde. E foi aí que uma das ligações mais sonoras ao rock entrou em cena. Durante esta fase, Hogan passou a entrar no ringue ao som de «Voodoo Child (Slight Return)» de Jimi Hendrix — um tema bem pesado, carregado de distorção, improviso e atitude.

Embora Hendrix pertença ao cânone do rock psicadélico e blues, o seu legado está enraizado no DNA de inúmeras bandas de metal. O uso desta faixa como tema de entrada contribuiu para associar ainda mais Hulk Hogan à cultura do rock duro e cimentou a sua transição para um arquétipo mais sombrio — um verdadeiro bad guy com riffs a condizer.

Entre os inúmeros mitos que rodearam a figura de Hulk Hogan, há um particularmente curioso — e com raízes no metal. Durante anos, Hogan afirmou publicamente ter sido baixista em bandas de rock antes de se dedicar ao wrestling. Num dos seus episódios mais famosos, garantiu que chegou a “oferecer os seus serviços” aos METALLICA no início da década de 80, pouco antes da banda recrutar Cliff Burton.

Embora os membros dos METALLICA nunca tenham confirmado a abordagem, a história tornou-se uma lenda urbana que ainda hoje provoca sorrisos em fãs de ambas as áreas. Em entrevistas, Lars Ulrich chegou mesmo a brincar com a situação, dizendo que nunca tinha ouvido falar disso na altura — mas reconhecendo que o rumor tinha “vida própria”. Verdade ou não, o episódio demonstra até que ponto a aura de Hogan cruzava os limites do wrestling e tocava nos bastidores do metal.

Fora do wrestling, Hulk Hogan teve várias incursões no cinema — com papéis em filmes como Rocky III, Gremlins 2, Mr. Nanny ou Suburban Commando — e tornou-se presença habitual em talk shows, anúncios e vídeo-jogos. Porém, os últimos anos da sua vida ficaram também marcados por várias polémicas, que mancharam parte da sua reputação, incluindo comentários racistas divulgados em 2015 que levaram à sua suspensão temporária da WWE.

Ainda assim, para milhões de fãs espalhados por gerações, Hulk Hogan será sempre o homem que transformou o wrestling num fenómeno global — e que viveu, durante décadas, como uma verdadeira estrela do rock, mesmo sem nunca ter subido a um palco com uma guitarra em punho. Com a sua morte, desaparece uma das últimas grandes figuras do espectáculo popular dos anos 80. A sua imagem continua a ecoar em memes, t-shirts, bonecos de acção — e, quem diria, até nos riffs de guitarra de uma era em que o wrestling e o metal pareciam parte do mesmo universo bombástico e desregrado.