HIM

HIM: Antologia de amor e morte [1991 — 2017]

O Heartagram, a marca registada dos saudosos HIM, deixou um selo indelével por todo o globo, graças a uma sequência de lançamentos de qualidade superior e a uma dedicação que os viu a calcorrear o mundo de lés a lés.

Amem-se de paixão ou odeiem-se de morte, porque são daquelas bandas em relação às quais não parece haver meio-termo, a verdade é que não há como negar o impacto que os HIM, os criadores do love metal, tiveram no cenário da música pesada desde que, em 1997, lançaram o seu disco de estreia. Parece, de facto, incrível que entretanto já se tenham passado mais de duas décadas — ainda mais quando se olha para o rosto sem idade de Ville Valo, aparentemente saído de um romance de Anne Rice, sem uma ruga que seja a denunciar os anos de rock’n’roll que, por esta altura, tem aos ombros.

A verdade é que, ao longo dos últimos vinte anos, se transformaram numa das mais bem sucedidas exportações musicais finlandesas, num caso raro de sucesso estratosférico, não só no seu país de origem mas também do outro lado ao Atlântico.

Forjadas no início dos anos 90 pelos pioneiros do death doom britânico como Paradise Lost ou My Dying Bride, as melódicas e melancólicas atmosferas do metal gótico sugeriram desde bem cedo um lado mais suave e comercialmente viável para o rock herdeiro dos Black Sabbath, mas foram mantidas sob controlo pelo underground mais sombrio até ao momento em que, do outro lado do Atlântico, Peter Steele e os seus Type O Negative decidiram, de uma vez por todas, arriscar uma estética mais sexy e acessível aos riffs compassados.

No entanto, acabaram indubitavelmente por ser os finlandeses HIM a escancarar as proverbiais portas do panteão metálico para todos os sons lustrosos e sensuais que se foram tornando populares durante a viragem do milénio. Apoiados na sua visão muito pessoal, gótica e romântica q.b. do rock que não rejeita as influências de metal ou até mesmo de pop, a banda liderada por Ville Valo construiu um percurso exemplar e um fundo de catálogo repleto de temas icónicos, apoiados em refrões de cantar e chorar por mais.

Cada geração tem seus ícones e — de Johnny Cash aos Black Sabbath – as últimas décadas têm sido definidas pelos sons que produzem. Os HIM não são uma excepção a esta regra e, desde que se juntaram em 1992 ate se separarem em 2017, destilaram a sua fusão de sons pesados e envolventes, pejados de teclados luxuriantes e melodias orelhudas, para criar uma fermentação sónica excepcionalmente potente.

Criada por um grupo de adolescentes obcecados não só com os imortais Black Sabbath, mas também com a sagacidade sardónica e pesada dos Type O Negative, os HIM cresceram para se transformar num dos ícones nacionais da sua nativa Finlândia – e não se ficou por aí. A sua marca registada, o Heartagram, deixou um selo indelével por todo o globo, graças a uma sequência de lançamentos de qualidade superior e a uma dedicação que os viu a calcorrear o mundo de lés a lés.

Com um total de mais de oito milhões de discos vendidos a nível mundial, «Join Me In Death» a afirmar-se como o single mais vendido por qualquer artista finlandês até à data e a honra de terem sido também a primeira banda finlandesa a conquistar um disco de ouro nos Estados Unidos com «Dark Light», eram uma força como nenhuma outra.

Oriundos de Helsínquia, na Finlândia, e criando desde cedo uma mistura de metal, gótico e hard rock a que eles próprios decidiram chamar “love metal”, os HIM — conhecidos inicialmente como His Infernal Majesty – foram criados em 1991 pelo vocalista Ville Valo, pelo guitarrista Mikko “Linde” Lindström e pelo baixista Mikko “Migé” Paananen. Durante os primeiros anos de existência como banda, lançaram duas maquetas — «Witches And Other Night Fears» de 1992 e, três anos depois, um EP sem título, que os fãs baptizaram «This Is Only The Beginning».

Foi precisamente no ano de 1995 que adicionaram o baterista Juhana Tuomas Rantala à formação e, já depois de assinarem um contrato discográfico com a multinacional BMG, começaram a trabalhar naquele que seria o primeiro lançamento oficial. «666 Ways To Love: Prologue», de 1996, foi disponibilizado numa edição limitada de apenas 1.000 cópias, incluindo a famosa versão do grupo para a «Wicked Game», original de Chris Isaak.

Chegado o momento de lançarem o primeiro registo de longa-duração, «Greatest Lovesongs, Vol. 666», de 1997, decidem encurtar a designação da banda para o acrónimo HIM e contratam o teclista Antto Einari Melasniemi. Aquando da sua edição original, a 20 de Novembro, o álbum gerou de imediato um enorme culto em redor dos músicos na sua terra natal, mas o disco só seria disponibilizado no restante território europeu durante o Verão do ano seguinte.

Nada interessados em perder tempo com estratégias editoriais, por essa altura já o colectivo estava a preparar o seu sucessor com o novo baterista, Mika “Gas Lipstick” Karppinen. «Razorblade Romance» chegou aos escaparates em Janeiro de 2000 e, apoiados no enorme sucesso de «Join Me In Death» — que acabaria por transformar-se no single mais vendido na história do rock finlandês —, lideraram os tops de vendas não só na Finlândia mas também na Alemanha, provando todo o seu potencial de exportação.

A ganhar cada vez mais terreno no velho continente, apesar do enorme sucesso, os três primeiros discos do grupo continuavam a não ser editados do outro lado do Atlântico. Bam Margera, skater famoso pela sua participação em “Jackass” e assumido fã da música de Valo e companhia, decide então começar a divulgar o nome HIM a cada oportunidade que tem em “Viva La Bam”, a sua famosa série em nome próprio na MTV.

Mostrando uma ética de trabalho impressionante, já em 2001, Valo, Lindström e Paananen formam o projeto Daniel Lioneye e, em Setembro, lançam «The King Of Rock’n’Roll», gravado com Lindström na voz e na guitarra, Valo na bateria e Paananen no baixo. Até aqui tudo normal; não fosse o facto de, no mês anterior, terem lançado o terceiro álbum dos HIM.

«Deep Shadows And Brilliant Highlights», o primeiro registo a contar com o talento de Emerson Burton nas teclas, conquistou uma vez mais as tabelas dos mais vendidos na Alemanha e na Finlândia. A banda faz-se então à estrada de forma mais exaustiva, acabando por só retornar a estúdio dois anos depois.

«Love Metal», o primeiro álbum a exibir o famoso heartagram na capa em vez de uma fotografia do quebra-corações Valo, foi lançado em Abril de 2003, com Margera a realizar o vídeo-clip para o single «Buried Alive By Love».

Seria, no entanto, com o disco seguinte que os HIM conseguiriam, por fim, começar a ganhar terreno nos Estados Unidos — «Dark Light» atingiu a marca de ouro por cópias vendidas do outro lado do Atlântico e trepou à cobiçada listagem da Billboard. A seguir foram lançadas as colectâneas «Uneasy Listening, Vol. 1» e «Uneasy Listening, Vol. 2», em 2006 e 2007 respetivamente. Também em 2007 é lançado o sexto registo de originais do quinteto com o título «Venus Doom», que daria origem a singles de sucesso como «The Kiss Of Dawn» e «Bleed Well», assim como a nomeação para um Grammy.

Na sequência do primeiro registo “ao vivo”, «Digital Versatile Doom» de 2008, os HIM viajam até Los Angeles para gravar «Screamworks: Love In Theory And Practice» com o reputado produtor Matt Squire. Mais tarde nesse ano, lançam «SWRMXS», um álbum de remisturas disponibilizado em formato digital e como CD exclusivo nas lojas Hot Topic.

2011 marcou a cessação de contrato com a Sire/Warner Records e os músicos só voltam à atividade em Outubro do ano seguinte com «XX: Two Decades Of Love Metal», uma compilação de êxitos apimentada por uma versão de «Strange World», original de . Produzido por Hiili Hiilesmaa e misturado por Tim Palmer, com quem os HIM tinha, trabalhado em «Dark Light» e «Venus Doom», o oitavo LP dos HIM, «Tears On Tape», foi lançado a 30 de Abril de 2013. A banda separou definitivamente quatro anos depois, em Dezembro de 2017.