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HALESTORM: “A nossa atitude sempre foi tudo ou nada, nenhum de nós tinha um plano B” [entrevista]

Uma década depois de se terem estreado por cá, os HALESTORM vão regressar finalmente a Lisboa. Com a lotação do LAV – Lisboa ao Vivo já esgotada, estivemos à conversa com o simpático Josh Smith.

A vocalista/guitarrista Lzzy Hale e o seu irmão, o baterista Arejay formaram o HALESTORM quando ainda estavam no liceu, corria o ano de 1998. O guitarrista Joe Hottinger juntou-se a eles em 2003, seguido pelo baixista Josh Smith em 2004. Liderados pela carismática Lzzy, transformaram-se numa das bandas de hard rock mais bem-sucedidas do início do século XXI. Com um som agressivo, mas orelhudo, que colou nas rádios rock norte-americanas, têm feito digressões incansavelmente e já dividiram o palco com quase todos os seus parceiros mais populares do outro lado do Atlântico.

Há exactamente uma década, os HALESTORM foram presenteados com um muito cobiçado Grammy para ‘Melhor Performance Hard Rock/Metal’ pelo single «Love Bites (So Do I)», do segundo álbum de estúdio, «The Strange Case Of…». Os seus lançamentos subsequentes, «Into The Wild Life» (de 2015), «Vicious» (de 2018) e o muito elogiado «Back From The Dead», do ano passado, transformaram-nos num enorme caso de popularidade à escala global.

Agora, mais de duas décadas e cinco muito bem sucedidos álbuns depois de terem dado os primeiros passos, os músicos norte-americanos vão fazer-se à estrada na Europa e, pela primeira vez em dez anos, vão tocar também em Portugal. A 2 de Dezembro, os HALESTORM vão estar no Lav – Lisboa Ao Vivo, com os muito aplaudidos BLACK VEIL BRIDES e a revelação MOTHICA como “suporte”.

Mais um dia passado a falar com desconhecidos?
Não, felizmente hoje só tenho duas entrevistas – e esta é uma delas. [risos] Não, a sério… É muito fixe que as pessoas se interessem pela banda e, ainda mais, que queiram falar comigo. Isso é algo a que nunca me vou habituar.

Como assim?
Bem, eu sou só baixista dos Halestorm. [risos] É engraçado porque, a determinada altura, achámos que faria sentido fazermos as entrevistas todos juntos. Estávamos sempre os quatro presentes. No entanto, tornou-se rapidamente óbvio que os jornalistas só queriam falar com a Lzzy. Era a ela que as perguntas eram dirigidas e, pior, as perguntas eram quase sempre as mesmas. E nós estávamos ali, a apanhar uma seca desgraçada.

Imagino.
A sério, meu; não estou a brincar. Uma vez estava tão cansado que até adormeci a meio de uma dessa entrevistas. Foi constrangedor. [risos] Ouvi daquelas conversas todas tantas vezes, dia após dia, noite após noite, que podia perfeitamente responder às perguntas pela Lzzy e ninguém ia notar a diferença.

E. de resto, como é estar numa banda com uma líder tão forte e carismática como a Lzzy?
Sinto-me abençoado todos os dias. Estou rodeado de pessoas incrivelmente talentosas e, além de ter uma pessoa tão carismática como a Lzzy à minha frente todas as noites, atrás de mim está o Arejay, que também é uma verdadeira força da natureza. Às vezes penso que esse miúdo tem energia suficiente para iluminar uma cidade pequena, sabes? É incrível.

Sou mesmo muito sortudo por ter gente tão carismática ao meu lado e sou, definitivamente, o mais calmo deste grupo, mas está tudo bem. Divertimo-nos imenso juntos e, no fim do dia, sei que estar com eles torna o meu trabalho mais fácil. Muito mais fácil. Na verdade, a onda é tão boa, que nem gosto muito de chamar trabalho ao que faço, mas acaba por ser isso, de facto.

Bem, eu sei que é um emprego de sonho, mas não deixa de ser um emprego.
Sim, isso é verdade, tens razão. Penso que posso falar por todos na banda quando digo que temos o nosso emprego de sonho, porque foi com isto que sempre sonhámos e foi para isto que sempre trabalhámos tão afincadamente ao longo dos anos. Sustentar a minha família a fazer aquilo que mais adoro não é sequer quantificável.

Só digo isso como salvaguarda, porque não é um trabalho convencional, em que entramos às 09:00 e saiamos às 17:00. Acho que se disseres a alguém que trabalhe numa fábrica ou numa cozinha de restaurante, que o meu emprego é tocar baixo numa banda, vão rir-se a mandar-te à fava.

Era algo que podias antever quando começaste a tocar com eles em 2004?
Sei que isto pode soar um bocado presunçoso, mas era algo que podia antever, sim. Era algo de que andava activamente à procura naquela época. Deixei a faculdade para fazer isto, mas as coisas não estavam a funcionar e, mesmo antes de os conhecer e de me juntar à banda, passei por um período em que já achava que não era possível fazê-lo.

Aliás, até já me tinha convencido que ia passar o resto da vida a trabalhar nas obras e a tocar baixo nas horas vagas, e estava bem com isso. Depois conheci-os e foi uma revelação, porque tinha encontrado três pessoas cheias de garra, em sintonia e apostadas em tornar todos os seus sonhos realidade.

Achas que era esse foco que faltava às bandas em que estavas anteriormente, quando “as coisas não estavam a funcionar”, como disseste?
Penso que, em parte, isso foi crucial, sim. Nós os quatro pensamos todos da mesma forma, essa sintonia esteve lá desde o primeiro momento. No que toca aos Halestorm, a nossa atitude sempre foi tudo ou nada, nenhum de nós tinha um plano B e ter conhecido três outras pessoas que não queriam nada mais do que transformar esta banda num sucesso, foi um momento definidor na minha vida. Nas bandas em que tinha estado antes, havia sempre alguém que não queria, ou não podia, comprometer-se a 100%.

Uns tinham empregos e carreiras estáveis e não queriam abdicar desse conforto. Outros não queriam deixar a namorada ou as famílias durante longos períodos de tempo… No entanto, isso são tudo sacrifícios que nós tivemos de fazer. Tivemos de nos mentalizar que íamos passar muitos anos a sobreviver graças a sanduíches de manteiga de amendoim e sopa instantânea. [risos]

Actualmente, as pessoas olham para os Halestorm e vêem uma banda gigantesca, incrivelmente popular, mas nem fazem ideia de que tiveram de suar as estopinhas para chegarem onde estão.
Esses primeiros anos foram incríveis. E há tantas histórias engraçadas. Antes de termos assinado o primeiro contrato discográfico, já tocávamos quatro noites por semana, mas o Arejay só tinha 18 ou 19 anos, por isso havia bares em que não podia entrar ou tinha de entrar à sucapa. [risos] Nos sítios em que nos conheciam, o esquema não funcionava, por isso a Lzzy e o Joe faziam actuações acústicas…

A Lzzy, às vezes, cantava durante três ou quatro horas seguidas e, logo no dia seguinte, lá estava ela outra vez em palco, com uma energia inacreditável. A tal determinação de que estavas a falar esteve lá desde sempre e foi por isso que, quando comecei a trabalhar com eles, conseguia antever o sucesso iríamos gozar eventualmente. Seria muito injusto se não fosse assim.

Como sabes, há por aí muitos músicos a clamar por justiça, digamos assim.
Sim, eu sei que sim. Infelizmente, no mundo da música, o trabalho árduo muitas vezes não chega para pagar dividendos, o que é uma enorme injustiça. Mesmo no nosso caso, mesmo para uma banda que tem alguém como a Lzzy Hale à frente, o timing, por exemplo, foi algo crucial. Às vezes parece que as estrelas têm de se alinhar para uma banda conseguir singrar neste negócio muito estranho que é o do entretenimento. Os riscos envolvidos numa aventura desde género são enormes, mas nós decidimos assumi-los e apostámos tudo com o intuito de nos divertirmos ao máximo.

Uma apostada acertada, que está agora a pagar dividendos incríveis.
Foi, sem qualquer dúvida, a melhor aposta que fiz na vida! [risos]

Quando sentiste pela primeira vez que as coisas estavam realmente “a funcionar”?
Provavelmente depois de termos lançado o nosso segundo álbum, o «The Strangest Case Of…». O facto de termos sido nomeados para os Grammy Awards, e termos ganho, ajudou-nos de formas que nem consigo quantificar. Não sei explicar bem, mas lembro-me de sentir que, nesse momento, já tínhamos passado para um patamar superior e que, a partir daí, nada seria como antes.

Por essa altura já tínhamos tocado com muitas, muitas bandas, mas éramos sempre a “banda de abertura”. Tínhamos passado anos a estabelecer uma reputação e uma base de fãs sólida, que nos permitisse fazer os nossos concertos em nome próprio em salas maiores para podermos seguir em frente de uma forma mais confortável, sem estarmos quase sempre no vermelho financeiramente. Foi nessa altura que demos esse salto.

Como olhas agora para esses primeiros anos com a banda?
De uma forma muito romântica, confesso. Verdade seja dita, são algumas das melhores memórias da minha vida. Andámos anos a viajar pelos Estados Unidos numa auto-caravana que mais parecia uma caixa de sapatos com rodas e a única coisa que nos interessava era chegar à próxima cidade…

Sempre assumimos todos os compromissos, mas sempre fizemos também questão de nunca falhar com aquilo com que nos comprometíamos e as nossas famílias ajudaram-nos imenso. O apoio que reebemos do pai da Lzzy e do Arejay, do meu irmão mais velho, do meu pai… Criámos laços que vão muito para além de estarmos juntos numa banda e isso não tem preço.

Achas que é isso que vos tem mantido juntos, sem uma única mudança de formação?
Sem dúvida. É óbvio que todas as bandas são diferentes e que mudanças de formação acontecem, mas às vezes olho à nossa volta e acho que somos uma anomalia, porque não restam por aí muitos grupos que tenham conseguido manter a formação original intacta durante tanto tempo.

O facto de termos os mesmos objectivos tem sido crucial e gostarmos de passar tempo juntos tantos anos depois, também ajuda bastante. Vamos ao cinema juntos nos dias de folga, vamos conhecer as cidades onde estamos quando há tempo para isso…

Recentemente estivemos a trabalhar em material para o próximo álbum e, depois de andarmos constantemente uns em cima dos outros em digressão, achámos que o melhor seria irmos viver todos juntos para que a criatividade fluísse melhor. [risos] A sério, acho que, para a grande maioria das bandas, isso seria impensável.

Já estão, então, a trabalhar no sucessor de «Back From The Dead». O que mais podes adiantar?
Acho que ainda é prematuro falar muito sobre isso, mas as três semanas que passámos a escrever foram incríveis. A música que saiu é inegavelmente Halestorm, por isso acho que os fãs vão adorar. De certa forma, acho que vai soar tudo ainda mais honesto e humano, porque o produtor com que estamos a trabalhar quer trazer para o estúdio a nossa essência em palco.

Aproveitando o facto de estarmos já na recta final de 2023, como foi este ano para vocês?
Foi incrível! Passámos o Verão na Europa, tocámos em quase todos os grandes festivais e, por incrível que possa parecer, as reacções foram espantosas. Essa é uma daquelas coisas que também nunca dou por garantida, por isso é incrível perceber que há tanta gente interessa em ver-nos e em ouvir-nos. A sério, é incrível.

E, uma década depois, vão finalmente regressar a Portugal.
É verdade! Só estivemos uma vez em Lisboa, e estamos mesmo muito felizes por voltar finalmente. Lembro-me que, da última vez que aí estivemos, o público foi verdadeiramente fantástico. Além disso, a cidade é lindíssima e vai ser bom regressarmos.

E o que é que os vossos fãs podem esperar deste muito aguardado concerto?
No início deste ano, trabalhámos arduamente para perceber o que queriamos fazer com o nosso espectáculo, com o alinhamento e tudo o mais. Basicamente, queríamos definir a forma mais eficaz de apresentar estes temas ao público e chegámos rapidamente à conclusão que tínhamos de criar tantos momentos inesquecíveis e marcantes no alinhamento quanto possível.

Antes, fazíamos o alinhamento umas horas do espectáculo… As canções que tocávamos mudavam todas as noites e, além de ser muito divertido, também era desafiante e mantinha-nos sempre alerta. [risos] Na verdade, de certa forma, é o que fazemos ainda, mas agora focamo-nos mais na estrutura do espectáculo como um todo. Além disso, decidimos expandir e alterar ligeiramente alguns dos temas que tocamos desde sempre e isso torna tudo mais interessante, não só para nós, mas também para os fãs.