FONTE + ALL AGAINST + ALPHA WARHEAD @ RCA Club, Lisboa | 18.03.23 [reportagem]

Noite de celebração do thrash lusitano. Uma frase que poderá soar mais pomposa do que o impacto que tem perante o público português, por vezes apático e sem vontade de sair do sofá e apoiar o melhor que se faz na música nacional — a verdade é que não basta sermos compatriotas, a qualidade também tem (e deverá ter sempre) uma palavra a dizer. E que não restem dúvidas em relação à qualidade das três bandas que animaram o RCA Club na passada sexta-feira, três propostas que partilham o ADN thrash mas que são bastante distintas entre si — mais um “pró” adicionado à lista, num momento em que todos querem ser iguais a todos os outros — e cujo motivo maior era a celebração da edição do álbum dos FONTE, «Já Dizia O Outro», à qual se juntava também o lançamento oficial do segundo álbum dos ALL AGAINST, «The Day Of Reckoning», e ainda a abertura por parte dos ALPHA WARHEAD.

Foi a jovem banda que iniciou a noite com o seu thrash old school a fazer o devido “tributo” a todos os clássicos do género. Apesar de terem um repertório ainda curto, os ALPHA WARHEAD compensam essa e outra qualquer falha que lhes possa ser apontada com uma verdadeira paixão às raízes do género e com uma dose enorme de boa disposição e descontracção. Algo que supera até contrariedades como o facto da primeira música, «Backfire», ter sido tocada quase às escuras. Houve oportunidade ainda para se ouvir um tema novo, intitulado «Appolyon», assim como uma cover de «Angel Of Death», cantada pelo baixista Pedro Silva, e o mítico solo da «Tornado Of Souls», que antecedeu «Fuel To The Fire». Continuam a ser uma das grandes promessas do thrash metal nacional e cada vez mais sentimos a evolução na aprendizagem do que é dar um grande espectáculo — o final, com a “pirotecnia” no final da «Code Red», terá de ser sempre referido como um ponto alto, onde não faltou ainda a homenagem a Josua Madsen, recentemente falecido baterista dos Artillery que tinha tocado naquela sala há pouco mais de um ano com a banda portuguesa.

Num ponto diferente da carreira, mas afirmando-se também uma banda que tem tido um interessante percurso na cena nacional, subiram ao palco os ALL AGAINST. Mais uma prova da persistência e perseverança necessárias para quem quer fazer música pesada neste jardim da Europa à beira-mar plantado. Quando estavam a trabalhar na composição de «The Day Of Reckoning», ficaram sem vocalista, num golpe que poderia ter sido fatal. Sem desistir, encontraram o sucessor à altura na figura de Henrique Martins, que lhes permitiu encontrarem mais um ponto alto na sua carreira. Como seria esperado, o foco foi mesmo o já mencionado álbum de originais lançado precisamente naquele dia pela Amazing Records que foi tocado na íntegra, embora o início tenha sido mesmo com um regresso ao passado e a junção de «Weapons Of Mass Distraction (WMD)» com «Medusa». Este novo capítulo vê a banda apostada em continuar a evoluir e a tornar o seu som mais trabalhado, mas sem nunca perder de vista as letras de consciência social assim como a abordagem mais moderna ao thrash. Apesar da intensidade da música em cima do palco, e das instigações por parte de Henrique Martins, o público estava algo tímido, mas a recepção foi bem positiva.

Para fechar a noite, era a vez de se apresentarem os FONTE, uma das bandas mais trabalhadoras do underground nacional e das poucas propostas crossover que temos por cá. «Já Dizia O Outro» é um disco que a banda tem vindo a tocar há já algum tempo, mas do qual ainda não nos cansámos de ouvir os temas — e parece até impossível que isso possa acontecer algum dia. Paulo Gonçalves é aquela força da natureza que parece que nasceu para cantar «Louco» ou «5 Tiros» com um carisma incontornável, que torna cada concerto da banda de Linda-A-Velha único, ainda que este fosse desde logo um espectáculo que se assumia como especial. Teve algumas particularidades, como o facto de Pedro Carvalho, o baixista, não estar presente e tet sido substituído pontualmente pelo baixista original, João, que assegurou o ritmo de forma sólida. Também contou com algumas participações especiais por parte de Paulo “DV”, o vocalista original que cantou «Fontes Não Morreu» e também esteve presente na já habitual cover de Dr. Bifes E Os Psicopratas e dedicatória a Sérgio “Bifes” Curto, «Vi Deus Na Cama Com O Diabo» em conjunto com Gonçalo Luís, dos Beyond Strength. A noite de festa acabou com uma fulgurante «Agarra-te À Vida» num RCA Club que, mesmo sem esgotar, mostrou que quem apoia marca sempre presença para fazer a festa e que a união é mesmo a receita para manter a chama viva.

Fotos: Sónia Ferreira