EVILLIVƎ FESTIVAL

EVILLIVƎ FESTIVAL: Dia 2 | 30.06.2024 | MEO Arena, Lisboa [reportagem]

Ao segundo dia de EVILLIVƎ FESTIVAL, a MEO Arena encheu-se para receber novas e velhas glórias da música pesada.

Com o dia imaugural da edição de 2024 do EVILLIVƎ FESTIVAL a registar uma afluência bastante mais modesta do que se tinha antecipado, mas durante o qual os MACHINE HEAD ainda conseguiram colocar a MEO Arena em proverbial ponto de rebuçado, a curiosidade era imensa para perceber se o segundo dia do evento trataria melhorias a nível do som e se o muito esperado regresso dos MEGADETH e AVENGED SEVENFOLD a Portugal arrastaria mais gente para a sala localizada no Parque das Nações. Pois bem, ao entrar no espaço, ainda sem qualquer banda em palco, já havia muito mais gente no recinto do que durante a última actuação do dia anterior. Bons prenúncios, portanto.

Feitas as contas, 24 horas fizeram uma enorme diferença no EVILLIVƎ FESTIVAL. Se, no Sábado, a plateia se manteve demasiado despida para se sentir realmente o ambiente próprio de um festival, no Domingo a arena encheu para receber um cartaz multidisciplinar dentro da música pesada, com várias gerações a conviverem lado a lado e, sobretudo, a divertirem-se sem grandes palas nos olhos.

W.A.K.O.

Verdade seja dita, as bandas acabaram por ser talvez as mais beneficiadas com o ambiente que se viveu ali – e os W.A.K.O. que o digam. Apesar de, mesmo ali ao nosso lado, haver gente que nunca tinha ouvido falar deles os WE ARE KILLING OURSELVES juntaram-se em 2000 e, logo na fase inicial da sua carreira, ensaiaram uma tentativa de internacionalização no Reino Unido e também do outro lado do Atlântico. Em 2024, com 22 anos de existência e centenas de concertos nos ombros, alguns deles em festivais de Verão por todo o país, mas também em Espanha e Inglaterra, são reconhecidos e respeitados como uma das maiores bandas de metal em Portugal da sua geração.

É certo que os últimos anos não têm sido propriamente profícuos para os músicos, com o grupo a sofrer várias mudanças de formação e sem gravar desde o longínquo «The Road Of Awareness», de 2011, mas neste que foi o seu concerto de despedida, os músicos liderados por Nuno Rodrigues apresentaram-se como uma máquina sonora poderosa, apoiados em grooves acutilantes e, com a plateia na mão desde o primeiro momento, entregam uma intensidade estridente e furiosa, que não deixou muita gente indiferente.

Para esta presença como banda de abertura deste segundo dia do EVILLIVƎ FESTIVAL, os W.A.K.O. tinham prometido um concerto único e exclusivo, para homenagear o percurso que chegava ao fim ali. Pois bem, foi exactamente o que fizeram, debitando uma sequência de temas (entre os quais se ouviram «Abyss», «Eternal Spire» e «Ship Of Fools», mas também uma composição mais recente e nunca editada com o título «Perish») que, em apenas 30 minutos, conseguiu fazer um resumo bastante aceitável do melhor que apresentaram durante a sua carreira de mais de duas décadas.

A meio da actuação, olhando para a enorme wall of death que se abriu a meio da plateia, ficou não só a ideia de que podiam ter ido mais longe, mas também que vão deixar saudades.

EMPIRE STATE BASTARD

O objectivo primordial é sermos extremos a qualquer custo”, disse recentemente Simon Neil,dos Biffy Clyro, sobre os EMPIRE STATE BASTARD, ao NME. “Mesmo que não seja brutalidade – tem de ser extremamente estranho.” Ora bem, esta afirmação vem de um artista que passou toda a sua carreira a desafiar-se nos cantos mais estranhos do rock indie, conciliando o mainstream com refrões enormes, ao mesmo tempo que brinca com arranjos matemáticos capazes de partir o pescoço ao ouvinte mais incauto.

Portanto, a maior curiosidade relativamente a esta estreia da sua nova banda em Portugal era mesmo perceber se tinha conseguido efectivamente libertar-se das amarras dos elementos mais pop do rock – e sim, pela amostra, não só conseguiu fazê-lo com o fez com sucesso.

Acompanhado pelo ex-vocalista dos Oceansize, Mike Vennart, na guitarra, pela baixista Naomi Macleod, dos Bitch Falcon, e por um baterista que não conseguimos identificar, mas que não teve grandes dificuldades a assegurar as partes captadas pelo lendário Dave Lombardo em estúdio, ali, frente a uma plateia a rebentar pelas costuras no segundo dia de EVILLIVƎ FESTIVAL, os EMPIRE STATE BASTARD soaram como uma lufada de ar fresco com a sua abordagem espástica ao pós-hardcore mais impiedoso.

Do início com a esquizofrénica descarga de pedal-duplo e gritaria de «Stutter», passando pela speedball de rock’n’roll selvagem de «Harvest», pelo screamo de «Blusher» e pela tortuosa e bem surpreendente viagem às profundezas sombrias da mente apelidada «Moi?», o trio capturou de forma perfeita a ambição e os extremos que tornam a sua música tão apetecível.

E sim, é provável que isto seja tudo demasiado “difícil” para a maioria dos fãs dos Biffy Clyro (e que não seja puro o suficiente para muitos fiéis dos Slayer), mas ficou vincada a ideia de que os EMPIRE STATE BASTARD são, de facto, uma fera maravilhosamente estranha.

ELECTRIC CALLBOY

Com bom humor, boa disposição e muita criatividade, os ELECTRIC CALLBOY recuperam a diversão despreocupada com uma colorida festa de metalcore injectado de electrónica. Mais ainda, num universo por demais sisudo, preocupado com rótulos e aparências, como é o da música mais pesada, funcionam como uma proverbial lufada de ar fresco com uma montanha-russa sonora que já lhes valeu mais de 20 milhões de streams nas mais populares plataformas digitais e 11 milhões de visualizações no Youtube – sendo que tendência é para que estes números continuem a aumentar a cada dia que passa.

Resultado, transformaram-se num fenómeno de sucesso mundial e, em Março de 2022, o processo de transformação culminou na edição do muito celebrado «TEKKNO», um petardo de metalcore, vertente electronicore, fulminante e inigualável.

Dois anos volvidos, sob luzes rosa e verde fluorescentes, milhares de fãs enlouquecem dentro da imensa MEO Arena enquanto serpentinas explodem no ar e torres de pirotecnia irrompem com uma potência avassaladora em direcção ao tecto. Os músicos debitam uma sequência de breakdowns colossais, impulsionados por um ritmo electrónico que, outrora, poderia ter inspirado o tipo de catarse em massa que se esperaria encontrar numa rave encabeçada pelos veteranos da EDM Scooter.

Momentos depois, os ELECTRIC CALLBOY, que orquestram este caos sempre com um sorriso rasgado no rosto, surgem em palco com perucas em corte de tigela, atiram-se ao single «Pump It», soltam um groove mais carnudo que uma coxa do Till Lindemann e a confusão sobe uma vez mais de nível, com mosh pits fervilhantes a absorverem corpos como se fossem gigantescos buracos negros.

A meio do segundo dia de EVILLIVƎ FESTIVAL, torna-se por demais óbvio, impossível de negar mesmo, que, independentemente do facto de gostarmos mais, menos ou absolutamente nada do conceito (e do som) debitado pelos ELECTRIC CALLBOY, o que temos pela frente é um verdadeiro fenómeno.

De resto, este tipo de caos tornou-se comum no universo da banda alemã desde que, ainda em plena pandemia, lançaram o êxito viral «Hypa Hypa», um hino carregado de adrenalina que funde de forma muito inteligente EDM e metalcore brutal. O tema teve um impacto imediato, mas foi o vídeo-clip, com sacudidelas de mullet, movimentos pélvicos e afagos de bigode, que os tornou no caso raro de sucesso que são hoje.

Seguiram-se outros singles de enorme sucesso, como «Tekkno Train»«Spaceman»«MC Thunder» ou «We Got The Moves», todos tocados nesta noite, assim como «RATATATA», a recente colaboração com as japonesas BABY METAL. Pois bem, pelo que nos foi dado a crer, agora ninguém os pode parar.

o longo de um alinhamento de onze temas, vimos os membros da banda encarnarem uma série de personagens e sucederam-se as trocas de perucas e indumentárias, recebidas com fervor e uma “boa onda” contagiante por uma plateia que berrou refrões, saltou sem parar e, a dada altura, até se sentou a “remar”, com a banda e os seus muitos fãs a transformarem a MEO Arena numa proverbial festança de arromba.

Tudo isto é, claro, indicativo do ímpeto crescente que viu os ELECTRIC CALLBOY a passarem de pequenos clubes para arenas esgotadas numa questão de meses, mas o que mais impressionou nesta ocasião foi mesmo o sentimento de comunidade que se viveu enquanto estiveram em palco.

Ào observar o que se passava à nossa volta, com fãs de todas as idades e estratos sociais – pais com crianças, fãs de metal, fãs de EDM e tudo o mais – a juntarem-se naquilo que só de pode descrever como uma enorme e frenética celebração do que um concerto pode ser, o facto dos ELECTRIC CALLBOY serem uma das mais recentes histórias de sucesso improvável no universo da música pesada acabou por nem sequer parecer assim tão estranho.

SUICIDAL TENDENCIES

Depois da festança proporcionada pelos ultra-modernos ELECTRIC CALLBOY, que puseram a plateia da MEO Arena em polvorosa, os SUICIDAL TENDENCIES destacaram-se como uma proposta muito mais terra a terra. Sem quaisquer adereços extra, nem sequer o logotipo tinham projectado no fundo do palco, os músicos foram subindo descontraidamente ao palco para fazer o line check e, com o habitual MC a anunciá-los (“Are you ready?! From Venice Beach, California… SUICIDAL TENDENCIES!!!“) deram início ao concerto com as luzes de serviço do palco acesas – que se mantiveram assim durante toda a actuação – e uma garra considerável.

Liderados pelo sempre intrépido Mike Muir, os SUICIDAL TENDENCIES são o exemplo perfeito de uma banda de crossover thrash surgida nos 80s e servem um som enérgico e agressivo que mistura elementos do punk, hardcore e thrash que, ao longo das últimas quatro décadas, incorporou funk, skate punk e até rap na sua descarga. Desde que lançaram a estreia homónima, que inclui o single «Institutionalized», captaram a atenção de uma juventude em luta contra a autoridade e a sentir-se presa na sociedade, sentimentos espelhados também nos agora já clássicos «Lights… Camera… Revolution!» e «The Art of Rebellion».

Claramente uma banda mais “de época”, tendo marcado a juventude de muitos de forma indelével, é certo que não mantiveram, de todo, a relevância da sua era dourada nas décadas que se seguiram. Nesta ocasião, apresentaram-se com uma formação de palco composta pelo guitarrista Dean Pleasants, que é o único elemento resistente da formação “clássica”, completando-se o quinteto live com Ben Weinman (dos The Dillinger Escape Plan) na outra guitarra, Tye Trujillo – sim, filho desse que estão a pensar (que fazia parte da banda da primeira vez que os SUICIDAL TENDENCIES vieram a Portugal, abrir para… o seu empregador actual!) – no baixo e o exímio Jay Weinberg, ex-SLIPKNOT, a dar espectáculo na bateria.

Quaisquer dúvidas que restassem em relação à validade desta encarnação ou à relevância dos SUICIDAL TENDENCIES na actualidade se desvaneceram assim que o espectáculo arranca com uma sequência de temas avassaladores: a «You Can’t Bring Me Down» e a «War Inside My Head»back to back, deixaram a multidão rendida desde o primeiro momento.

Assinando uma actuação explosiva, durante a qual se ouviram pérolas como «Memories Of Tomorrow», «Send Me Your Money»«I Saw Your Mommy»«Subliminal» ou «Cyco Vision», foi basicamente como se tivéssemos voltado três décadas atrás no tempo, com o desfilar de clássico atrás de clássico, sempre pontuado pelo discurso motivador e P.M.A. de Muir, que, apesar de já o conhecermos quase palavra por palavra, é sempre atirado para a plateia com uma convicção desarmante.

Convenhamos, o homem, aos 61 anos, é um verdadeiro dinamo de energia incontrolável capaz de envergonhar qualquer adolescente hiperactivo, a banda que o acompanha não dá palcos em falso e, mesmo sem tempo para mais que os clássicos obrigatórios, foi com o palco cheio de fãs (que o cantor foi chamando entre temas lá para cima) que o ponto de ebulição foi atingido com a tríade selvagem «Possessed To Skate» / «How Will I Laugh Tomorrow» /«Pledge Your Allegiance», e a temperatura da MEO Arena deve ter subido uns quantos graus ali naquela horinha entre as 20:00 e as 21:00.

MEGADETH

Formados em 1983 pelo guitarrista e vocalista Dave Mustaine, os MEGADETH continuam a ser uma das bandas de metal mais aclamadas e bem-sucedidas dos 80s e muito além. Com uma enorme dose de engenho, Mustaine expandiu o som do heavy metal, acelerou os tempos, colocou ênfase na habilidade técnica e rápida das guitarras e cuspiu letras niilistas com um rancor palpável. Esse novo som revelou-se implacável e, durante os anos 80 e 90, deu origem a vários clássicos do thrash.

«Peace Sells… But Who’s Buying?», o «Rust In Peace» e o «Countdown To Extinction» são marcos de todo um estilo e venderam milhões de cópias. No entanto, a banda californiana nunca baixou os braços e, apesar de alguns percalços, continuou a editar música nova periodicamente e, verdade seja dita, a última década viu-os a recuperarem muito do vigor que, a dada altura, parecia irremediavelmente perdido. Essa tendência ascendente culminou na edição de «The Sick, The Dying… And The Dead», de 2022, que se afirmou como mais uma prova de vitalidade inegável e serviu de mote a mais um regresso a Portugal, desta vez para a estreia no EVILLIVƎ FESTIVAL.

De resto, já era do conhecimento geral que, por esta altura, os MEGADETH são o Dave Mustaine acompanhado uma selecção internacional de músicos topo de gama contratados: o belga Dirk Verbeuren na bateria, James Lomenzo no baixo e, de há um ano a esta parte, o guitarrista Teemu Mäntysaari, que substituiu o brasileiro Kiko Loureiro no Verão do ano passado.

O que ainda não tínhamos tido oportunidade de comprovar é que esta é, muito provavelmente, a formação mais forte que tiveram nas últimas décadas, executando de forma incrivelmente limpa e imaculada o metal de precisão, muitas vezes singular, que sempre caracterizou o grupo de Los Angeles.

Aquando da última passagem dos MEGADETH por cá, em 2022, no Estádio Nacional, assistimos a uma actuação inconstante. O alinhamento, a revelar umas quantas escolhas algo supérfluas que acabaram dar origem a um espectáculo com tantos pontos altos como baixo, mostrou o quarteto em forma, mas a proporcionar ao público uma experiência bem capaz de ir ao êxtase ao limiar do bocejo em pouco minutos.

Foi já depois das actuações dos W.A.K.O.EMPIRE STATE BASTARDELECTRIC CALLBOY e SUICIDAL TENDENCIES que os norte-americanos MEGADETH subiram ao palco e assinaram uma actuação imaculada, a que nenhum fã poderá apontar outros defeitos que não seja o facto de, devido a óbvias limitações inerentes ao facto de não terem duas ou mais horas para tocar, alguns dos seus temas favoritos terem ficado de fora do setlist.

Quiçá cientes disso (ou terá sido apenas uma questão de sorte?), desta vez Mustaine e companhia escolheram um alinhamento que funcionou na perfeição e, desde o arranque da actuação, com o tema-título do mais recente álbum de originais seguido sem perder tempo pela clássica «The Conjuring», tiveram o público na mão do primeiro ao último instante.

Peso facto de insistirem em tocar a «Dread And The Fugitive Mind», que a espaços soa como uma revisão de uma canção bastante melhor, a «Sweating Bullets», que por acaso até foi tocada mais à frente no alinhamento, os MEGADETH regressaram rapidamente aos eixos tocando uma sequência de êxitos que incluiu a roqueira «Angry Again», os solos alucinantes e as mudanças de ritmo selvagens de «Hangar 18» e a já citada «Sweating Bullets».

Mesmo com a capa de «The Sick, The Dying… And The Dead» a decorar o fundo de palco, o colectivo manteve-se estoicamente em território familiar com «Kick The Chair»«Skin O’ My Teeth»«Trust» e «We’ll Be Back», o primeiro single do mais recente álbum, a antecederem a sequência final apoteótica.

Mustaine e companhia atirarem-se com afinco à santa trindade composta pelas colossais «Symphony Of Destruction»«Peace Sells» e «Holy Wars… The Punishment Due», e, claro, a plateia abanou a cabeça colectiva em aprovação, saudando uma actuação recebida, como todas neste segundo dia de EVILLIVƎ FESTIVAL, com um entusiasmo palpável por uma MEO Arena perto de esgotada.

AVENGED SEVENFOLD

Um dos nomes mais acessíveis e bem-sucedidos saídos do movimento metalcore que começou a entrar em ebulição no início do séc. XXI, os AVENGED SEVENFOLD regressaram finalmente ao nosso país para encabeçarem o segundo dia da edição de 2024 do EVILLIVƎ FESTIVAL, mais de uma década depois de nos terem visitado pela última vez.

Entretanto, sofreram mudanças, não só estilísticas como internas, e acabaram mesmo por ascender a um dos lugares de destaque no panteão do metal contemporâneo. Pelo caminho, recolheram discos de ouro e platina, com «Life Is But A Dream…» a marcar o regresso às edições em Junho do ano passado.

Ora bem, quando uma banda lendária e experiente retorna a um país em que a sua base de seguidores tem estado, literalmente, a crescer após anos de ausência, as expectativas são obviamente elevadas — e os AVENGED SEVENFOLD não desapontaram. Num dia que contou também com actuações dos WAKOEMPIRE STATE BASTARDELECTRIC CALLBOYSUICIDAL TENDENCIES e MEGADETH – acerca das quais vos falaremos de forma detalhada muito em breve – e em que se provou que uma arena cheia de público disposto a “dar tudo” faz realmente diferença, os músicos liderados por M. Shadows assinaram um concerto imaculado.

Acima de tudo, apoiado no seu metalcore injectado de hard rock e cheio de ganchos, e na sua evolução musical e destreza técnica que têm desenvolvido ao longo dos anos, o grupo norte-americano tratou de lembrar aos seus fãs portugueses porque os têm aguardado com tamanho entusiasmo.

Desta vez, pensava-se que o foco dos AVENGED SEVENFOLD estava firmemente fixado no mais recente lançamento, «Life Is But A Dream…», o disco de 2023 que inspirou a digressão europeia de Verão que terminou agora em Lisboa e tem gerado falatório, nem sempre consensual, entre os entusiastas do rock um pouco por todo o lado. O início da actuação, com M. Shadows a envergar uma balaclava, sentado numa cadeira de praia mesmo no centro do palco, enquanto a intro acústica de «Game Over» tocava através do sistema de som, confirmou essa expectativa. O tema seguinte, «Mattel», também do novo álbum, reforçou-a. No entanto, o que se seguiu foi uma verdadeira surpresa…

Apesar de terem pontuado este concerto de regresso ao nosso país com algum material mais recente, o quinteto evitou a tentação de mergulhar de cabeça no louco álbum de 2023 e traduzirem as suas ideias ultra-modernas em palco (generalizada na maior parte dos espectáculos desta tour) e levou os fãs numa viagem bastante emocionante, dominada por aquilo que só se pode descrever como uma fusão da força do metalcore com as melodias pegajosas da música pop.

Logo na sequência dos dois temas de abertura, os AVENGED SEVENFOLD trataram de energizar a MEO Arena com uma poderosa interpretação de «Afterlife», seguida por «Hail To The King», uma daquelas canções que há muito tempo é um pilar nos seus alinhamentos e goza de imensa popularidade entre os fãs. Verdade seja dita, a partir desse momento, o quinteto ficou de imediato com a sala em peso na mão — e, apoiados em canções tão celebradas (e cantadas em uníssono) como «Almost Easy»«Seize The Day»«Shepherd Of Fire» ou «Unholy Confessions» não mais a largaram.

Com um palco minimalista, em que brilharam os lasers e as luzes estroboscópicas a fazerem mais umas horas extra, os ecrãs posicionados na parte de trás e nos lados do palco foram projectando animações e imagens estilizadas da actuação e, além de complementarem bem a música, ajudaram a compensar uma produção de outra forma estática, sobretudo quando comparada com a brutal demonstração de poderio dos MACHINE HEAD (na noite de Sábado) e dos ELECTRIC CALLBOY (apenas umas horas antes).

Verdade seja dita, olhando à volta, também não nos pareceu que houvesse ali muita gente a pensar que uma produção mais ambiciosa podia ter aumentado o impacto dos AVENGED SEVENFOLD e percebe-se porquê. Evitando a manobra arriscada que teria sido apostar em demasiados temas novos quando a sua actual popularidade advém principalmente do material mais antigo, a sequência de clássicos, a presença enérgica em palco e a intrincada destreza musical que os caracterizam bastaram para enfeitiçar o público, e não deixaram dúvidas sobre o seu talento.

Depois de mais um tema novo, «Nobody», o entusiasmo atingiu um novo o pico em «Nightmare», outro tema icónico que originou aplausos e cantoria fervorosa, dando início à recta final sempre em crescendo, que teve seguimento com «A Little Piece Of Heaven»«Save Me» e, mesmo a fechar, «Cosmic». Feitas as contas, a actuação dos AVENGED SEVENFOLD no EVILLIVƎ FESTIVAL serviu como um crucial lembrete do seu compromisso em servir música de alta qualidade, que deixa seus fãs ansiosos pelo que está para vir, da sua adaptabilidade e, sobretudo, da qualidade de uma discografia de proporções icónicas.