ENTOMBED

ENTOMBED: 30 anos de «Wolverine Blues»

Pesado, intenso e extremamente criativo. Editado a 4 de Outubro de 1993, o «Wolverine Blues» mostrou os ENTOMBED a inovarem o seu som, mas sem abrirem mão das características principais que o estilo em que estavam inseridos exigia.

Existem dois tipos de pessoas no mundo”, explica Mia Wallace, interpretada por Uma Thurman, ao Vincent Vega de John Travolta, no director’s cut do clássico ‘Pulp Fiction’. “Há pessoas que gostam dos Beatles e há pessoas que gostam do Elvis.” Pois bem, se por um acaso, Tarantino se tivesse lembrado de adaptar a ideia ao contexto do metal, Wallace diria: “Existem dois tipos de fãs dos Entombed no mundo… Os fãs do «Left Hand Path»/«Clandestine» e, depois, os fãs do «Wolverine Blues»“.

Editado originalmente no dia 4 de Outubro de 1993, o «Wolverine Blues» foi lançado há três décadas, já na recta final do período clássico do death metal e ao lado de títulos tão elogiados como o «Covenant» dos MORBID ANGEL, o «Focus» dos CYNIC ou o «Heartwork» dos CARCASS, que actuam este fim de semana em Lisboa. Cada um à sua maneira, os discos mencionados anteriormente aproximaram todos o death metal do mainstream mais um bocadinho, mas foram os ENTOMBED que, com o seu terceiro LP, deram esse passo com maior desenvoltura.

Mantendo inalterado o infame som dos Sunlight Studios, os músicos reformularam a sua abordagem em torno de estruturas musicais mais tradicionais e uma injecção considerável de groove. O quinteto, ou terá sido a Earache?, teve a brilhante ideia de descrever essa nova sonoridade como death’n’roll e, claro, a ala purista do underground não tardou a virar-lhes rapidamente as costas. Convenhamos, o consenso crítico continua a não jogar totalmente a favor do «Wolverine Blues».

No livro Swedish Death Metal, o autor Daniel Ekeroth posiciona os ENTOMBED — e mais concretamente o baterista Nicke Andersson — como o verdadeiro cérebro por trás do death metal sueco na totalidade, e o «Left Hand Path» como o ponto mais alto de todo o subgénero. No entanto, também de acordo com Ekeroth, tudo começou a piorar a partir daí, e o autor acaba por ter poucas palavras gentis para escrever sobre o «Wolverine Blues».

Felizmente, nem todos gostamos de encarnado.

Sim, o «Wolverine Blues» não pode não ser tão técnico, conceitual, brutal ou atmosférico como os seus excelentes antecessores, e é verdade que abriu a porta a um subgénero formado principalmente por lixo, mas ganha pontos nos níveis elevados de arrogância criativa e, sobretudo, na sofisticação dos arranjos e da composição. Convenhamos, os ganchos são muitíssimo importantes, até na música extrema; são eles que fazem os ouvintes quererem continuar a escutar um disco e estabelecer um relacionamento com ele.

No que toca aos refrões e ganchos, os ENTOMBED conseguiram escrever o «Pyromania» do death metal sueco. Além disso, o «Wolverine Blues» é um disco com que é muito fácil estabelecermos a relação que se pretende — está recheado de dinâmicas geniais, a propensão dos músicos para usarem pausas e pontos finais é soberba. O som do Sunlight sempre foi mais denso nos acordes de baixa potência, e os ENTOMBED gostavam de tocá-los em uníssono. Resultado, a distorção HM-2 atinge o ouvinte no rosto como um punho musculado.

Para tornar as coisas ainda um pouco mais interessantes, o «Wolverine Blues» está rodeado de folclore suficiente para durar dias — a versão com o Wolverine dos X-Men na capa continua a ser um ‘item’ muito cobiçado, por exemplo. No entanto, a maior força dos ENTOMBED neste disco é mesmo a franqueza com que parece ter sido abordado. Qualquer senso de pretensão que os músicos tivessem antes, desapareceu por completo aqui. Infelizmente, a estabilidade desta formação, e até a qualidade dos temas, acabaram por ceder pouco tempo depois, mas isso, como se costuma dizer, “são outros quinhentos”.