Os LORD OF CONFUSION não são um projecto de veteranos que sabem onde cortar a gordura, e polir a superfície, mas a verdade é que parecem. Escuta-se «Evil Mystery», lê-se a biografia e descobre-se que isto trabalho de “putos”, mas daqueles que sabem o que fazem e têm a lição muito bem estudada. E tudo isso é bom. Muito bom. A capa pode remeter para os Mayhem e o seu «De Mysteriis…», mas o violeta escolhido para o título do álbum grita Black Sabbath bem alto. Ponto marcado, claro está. “O Nelson e o Fonseca já tocam juntos desde 2011, tiveram bandas de versões e um projecto de originais, os Made In Mars”. Quem nos conta isto é o guitarrista Danilo Sousa. O tal “Fonseca” é João Fonseca, o baixista, enquanto o “Nelson» é Nelson Figueiredo, o baterista. Portanto, guitarrista e baterista conheceram-se, ainda estudantes, em 2015. “vê-los tocar inspirou-me a aprender um instrumento, nomeadamente guitarra eléctrica, um ano depois estávamos a tocar covers e, em 2017, fizemos o nosso primeiro projecto de originais, The Shrink Age, que duraram até o início do ano de 2018”. A quadratura do círculo completa-se com Carlota Sousa, responsável pelos teclados e pela voz, por vezes frágil, outras angustiada. É também dela o artwork do álbum, editado apenas em CD e cassete, mas que pedia um bom vinil, de preferência em púrpura.
Segundo nos contam, a vocalista “deu início à sua carreira aos 14 anos, tendo pelo meio um projecto a solo. Já era nossa conhecida, e deixou-se levar pela harmonia dos ensaios”. Os “ensaios” começaram por ser “jam sessions por diversão e foi daí que nasceram os Lord Of Confusion”. O primeiro EP, em edição de autor, surgiu em Junho de 2019, intitulado «Burnin’ Valley». Mais psicadélico, consegue agradar desde logo pela capa de Ângela Matias, mas dificilmente deixou antever o que viria neste longa-duração. Segue-se o lançamento de um single, «Witchmantia», registado ao vivo, em Agosto de 2020, no Cine-Teatro Capitólio, em Lisboa, a propósito de um convite dos Fuzzil. “Gostámos bastante da edição em live take que temos”, refere Danilo a propósito de uma edição mais apropriada para o tema. “A música tem muitas secções de improviso e a verdade é que, se fossemos gravar agora em estúdio, a magia não seria a mesma e a própria performance não seria igual”. Já em Setembro de 2022, a banda estreía-se finalmente no formato de longa-duração, com um disco editado em conjunto pela nacional Gruesome Records, e pela norte-americana Morbid And Miserable Records.
Logo no arranque, «Evil Mystery» já soa auspicioso, com um instrumental que resulta de uma desaceleração dos Slayer em paleta sonora dos Black Sabbath. São apenas os primeiros segundos de «Land Of Mystery», mas há mais; bastante, mesmo. É o caso da sensacional voz de Carlota ou o lado hipnótico das guitarras, muito para além do fluir presente em «Interludium», faixa claramente a pensar na edição de vinil. Na segunda metade, o disco soa mais doom, hipnótico, com pouca riffagem, porventura mais psych, mas longe do psych rock tão em voga nos dias de hoje. Basta escutar «Hell» e perceber que Lee Dorrian certamente sorrirá se um dia este disco lhe chegar às mãos. “As nossas influências musicais actualmente estão muito focadas em todas as décadas do doom metal, pois o género foi mudando bastante a sua sonoridade e visão de década para década. Dos mais primitivos Black Sabbath, Pentagram, Paul Chain e Black Hole ou até aos Reverend Bizarre, levando o doom tradicional ao extremo mas sempre na vertente mais old school”, explica Danilo. “Depois nomes mais actuais como Electric Wizard e Sleep, e também a colaboração de Emma Ruth Rundle com os Thou, que foi uma grande inspiração”. Certamente que estas referências farão muitos abrir o olho, ajeitar o ouvido e salivar face à lista de referências, nem todos tão óbvios e longe das referências mais delicodoces do “doom” vertente pop.
“São tudo bandas de doom, mas que soam muito diferente umas das outras, umas mais experimentais, outras menos, umas mais psych, por aí fora”, prossegueo o músico. “O rock antigo, como os Black Widow e os Vanilla Fudge, tiveram muito peso na nossa sonoridade, mas também gostamos bastante de improvisar e de ser experimentais com sons”. Apesar de todos terem “gostos diferentes”, as referências e influências não ficam pela música, “alguns filmes antigos maioritariamente de horror são uma grande inspiração, pois captam uma aura e uma magia difícil de encontrar oureplicar”, também “a literatura teve influência na composição das letras do álbum” e, claro, “algumas vivências pessoais transpareceram para as letras, como o isolamento social e contacto com a natureza, mas tudo de uma forma muito subtil”. Este final de ano vai certamente marcar o arranque desta banda nacional. Já a 21 deste mês, o quarteto une-se aos também leirienses Manferior, numa associação sonoramente improvável, e parte para a estrada. Dia 21 tocam na Ortigueira, já em Espanha, depois seguem-se datas também em França, numa digressão já com oito datas confirmadas e duas ainda por preencher, já em pleno asfalto. A 5 de Novembro, já recuperados, estarão em Pombal, na ADAC. “Acima de tudo louvamos o peso do riff”, afirma Danilo. Assim seja louvado.