DREAM THEATER

DREAM THEATER: “Entre nós, há uma química para toda a vida.” [entrevista]

Em antecipação à passagem dos DREAM THEATER por Portugal, que acontece a 16 de Novembro, estivemos à conversa com o regressado MIKE PORTNOY.

MIKE PORTNOY, lendário baterista e fundador dos DREAM THEATER, está a viver um momento emocionante da sua carreira com o regresso à banda norte-americana após 14 anos de ausência. O músico, cuja abordagem técnica e emocional à bateria definiu o som progressivo do grupo durante décadas e, com o seu regresso em 2023, reacendeu a centelha da paixão em fãs por todo o mundo, abrindo portas para uma nova fase na história do grupo, que promete trazer de volta a magia que marcou os primeiros tempos da sua discografia.

Ao longo da sua carreira, Portnoy nunca deixou de inovar e explorar diferentes sons, envolvendo-se em projectos como os The Winery Dogs, Transatlantic e Sons Of Apollo. Apesar da sua saída dos DREAM THEATER, que marcou um ponto de viragem na sua carreira, o baterista manteve-se sempre uma figura central no rock e no metal progressivo, colaborando com inúmeros músicos e bandas, o que solidificou ainda mais o seu estatuto como um dos músicos mais influentes da sua geração.

É, no entanto, o regresso à sua banda de sempre que está a gerar maior entusiasmo entre os fãs, com os DREAM THEATER a iniciarem recentemente a sua digressão de 40.º aniversário, que inclui também uma passagem pela MEO Arena, em Lisboa, no próximo dia 16 de Novembro, com um apoteótico espectáculo em Londres. Em jeito de antecipação, a LOUD! viajou até Berlim, e tirou a proverbial “prova dos nove”.

Umas horas antes dos músicos norte-americano subirem ao palco do Uber Eats Music Hall, para mais um concerto arrebatador, estivemos à conversa com Mike Portnoy. Na entrevista em baixo, realizada a 22 de Outubro, o músico norte-americano reflectiu sobre as emoções que envolvem o regresso ao seu lugar de origem nos DREAM THEATER, os desafios de criar um alinhamento para uma digressão desta magnitude, o regresso ao nosso país e muito, muito mais.

Como te sentes agora que já fizeste o teu primeiro espectáculo de regresso com os DREAM THEATER? Sentes-te mais descontraído?
Sem dúvida! Quando terminámos o spectáculo em Londres disse logo aos rapazes que já podíamos todos respirar fundo. E agora podemos começar a divertir-nos. Esse primeiro concerto foi mesmo muito intenso – havia muita expectativa em jogo, de toda a gente, do público, da imprensa, de nós mesmos, por isso estávamos muito concentrados. Com isso fora do caminho, podemos finalmente respirar fundo e começar a divertir-nos.

Estavas nervoso antes desse concerto?
Admito que estava, sim. Nunca fico nervoso antes dos concertos, mas, desta vez, estava muito nervoso mesmo. Era a minha primeira vez de volta com eles, não tocámos ao vivo os cinco juntos há catorze anos e, ainda por cima, fizemo-lo num local enorme… A expectativa era enorme, o foco estava em nós e, claro, sabíamos que íamos estar sob um microscópio. Portanto, sim – foi, de facto, muito stressante.

Imaginemos que falhavas a primeira nota ou algo do género…
O espectáculo começa com a queda do “kabuki” e sabíamos que, se caísse sem problemas, então estaríamos bem… E, de facto, caiu. [risos]

Voltaste a chamar para ti a responsabilidade de escolher o alinhamento. Vai haver mudanças em relação ao que tocaram no primeiro concerto da digressão?
Durante a minha primeira passagem pela banda, adorava mudar o alinhamento todas as noites, não só para a manter interessante para os fãs, mas também para a manter interessante para nós próprios, que já fazíamos isto há 25 anos na altura em que eu saí.

Portanto, isso é algo que sei que é muito especial para a banda e para os fãs. Agora, que estou finalmente de volta, queremos alguma estabilidade, por isso vamos manter esta escolha de temas por uns tempos. Quando toda a gente se sentir de novo confortável, vamos começar a experimentar e vou ser realmente criativo e a mexer em tudo o que puder. E para os próximos tempos, esta é a lista de músicas. E em questão, como, qual foi a linha de pensamento para chegar a isso?

Qual foi a linha de pensamento para elaborares a lista de temas que vão tocar nesta tour?
Queria ter alinhamento de temas que parecesse quase um espectáculo de grandes êxitos. Não que tenhamos muitos êxitos, mas queria incluir sobretudo canções que são populares, e que agradam sempre ao público. Nós sempre soubemos quais são os temas que têm mais energia e, como é óbvio, a ideia para esta digressão d aniversário era criar um concerto que representasse toda a carreira da banda.

Por outro lado, sei que nunca seria possível tocar material de todos os álbuns. É verdade que fizemos isso na digressão de 20º aniversário, mas isso já foi há 20 anos. Nessa altura, havia oito álbuns de onde podíamos escolher, mas agora já são dezasseis. Sendo assim, e sabendo que não podemos incluir todos os álbuns, queríamos incluir todas as diferentes épocas.

Há algum tema do teu catálogo com os DREAM THEATER que nunca tenha sido tocada ao vivo?
Os únicos temas que nunca tinham sido tocados ao vivo antes eram «The Best Of Times» e «The Shattered Fortress». No entanto, eles tocaram «The Shattered Fortress» sem mim… E eu toquei «The Shattered Fortress». Agora, a «The Best Of Times» é a única música até 2010 que ainda não foi tocada por nós os cinco em palco porque, quando fizemos a digressão de promoção ao «Black Clouds and Silver Linings», estivemos, durante a maior parte desse ciclo, inseridos na Progressive Nation Tour.

Nessa altura, não chegámos a tocar o álbum todo. Sempre soubemos que, com «The Shattered Fortress», queríamos fazer a ’12 Steps Suite’, que é composta por cinco canções de cinco álbums, começa no «Six Degrees Of Inner Turbulence» e acaba no «Black Clouds And Silver Linings». Eu saí da banda, claro, isso nunca aconteceu… Portanto, ainda há alguns assuntos inacabados que vamos resolver, de certeza.

Das músicas que estão a tocar agora, houve alguma que tenha sido um pouco mais difícil de reaprender ou, no caso dos temas gravados com o Mike Mangini, de aprender?
Sim. Já olhaste para o alinhamento?

Já, sim.
OK, então não vou a ‘spoilar’ nada. A «Octavarium» foi um enorme desafio, porque é uma peça grande, muito grande mesmo. E a última vez que a tocámos foi no Radio City Music Hall, em 2006, durante o espectáculo em que gravámos o DVD «Score: 20th Anniversary World Tour Live With The Octavarium Orchestra». Essa foi, literalmente, a última vez que tinha sido tocada até há duas noites atrás. Portanto, foi provavelmente a que exigiu mais trabalho porque, para começar, é uma canção enorme, e, depois, porque a tínhamos tocado pela última vez há quase vinte anos.

Sentiste que estava tudo bem assim que começaram a ensaiar juntos?
Sim. Quando começámos a ensaiar todos juntos, pareceu-me tudo muito natural, quase como se não tivesse passado tempo nenhum. Sentimo-nos muito confortáveis imediatamente.

Como tens observado as reacções dos fãs à «Night Terror», que escolheram como primeiro single do novo álbum?
Acho que posso falar por todos quando digo que esperávamos que fosse tão emocionante como tem sido, sabes? Dada a situação, já sabíamos que ia haver muita atenção sobre ela e foi algo que todos tivemos de ponderar, porque há alguns temas no próximo álbum que sabíamos que seriam possíveis singles. Gravámos um tema que é um verdadeiro single de metal… E sabíamos que essa seria uma escolha óbvia, mas não queríamos apresentar o disco com algo que fosse apenas uma música de metal.

Depois de todo este tempo de espera, queríamos mostrar algo que tivesse um pouco de variedade e algo que talvez os fãs dos Dream Theater esperassem de nós. A «Night Terror» foi a primeira canção que escrevemos quando começámos o processo de composição. Portanto, o que as pessoas estão a ouvir é literalmente a primeira canção que criámos juntos quando nos reunimos.

De certa forma, esse tema soa como tudo o que um fã dos Dream Theater pode querer ouvir.
Era isso que esperávamos. Claro que os fãs dos Dream Theater são dos mais críticos do mundo, por isso é impossível agradar a todos. No entanto, achámos que a «Night Terror» tem um pouco de tudo e esperávamos que preenchesse todos os requisitos para os fãs.

E, como disseste, ao ouvi-la, é como se os últimos catorze anos não tivessem passado.
É o que parece, de facto. Assim que começámos a escrever juntos, a trabalhar nas ideias que se transformaram na «Night Terror», pareceu-me que só tinham passado um ano ou dois. Foi como se tivéssemos tirado um pequeno tempo de folga e pronto. Na verdade, nunca me pareceu que tivessem passado catorze anos ou algo do género. Acho inegável que, entre nós, há uma química para toda a vida.

Essa química é algo que não se pode ensinar; ou a tens com alguém ou não tens.
Isso é absolutamente verdade. E nós fizemos alguns testes, pode-se dizer isso, antes desta reunião, uma vez que toquei no álbum a solo do John Petrucci antes de voltar aos Dream Theater. Lembro-me que, mesmo nessa altura, nos sentimos imediatamente bem. Depois, fizemos a digressão dele e sentimos a energia e a excitação no público todas as noites.

Para nós, e para toda a gente que foi a esses espectáculos, a química entre os dois era inegável. E, claro, eu, o John e o Jordan Rudess também fizemos um terceiro álbum dos Liquid Tension Experiment. Essas sinergias mostraram-nos que a química ainda estava intacta, por isso sabíamos que, com base em alguns desses pequenos passos que demos de antemão, ia ser tal e qual como quando parámos.

Entretanto, já foram publicadas imagens da tua nova bateria, que é… GIGANTE! Quantas peças compõem este kit, fazes ideia?
Não contei, mas sei que está tudo a ser usado. Eu sabia que, ao voltar aos Dream Theater, tinha de ter um kit monstruoso, porque essa foi sempre a minha cena com eles. Durante todos os anos em que estive fora da banda, foi agradável reduzir a escala e fazer algumas configurações diferentes.

Na primeira digressão dos Winery Dogs, por exemplo, estava a tocar com um kit pequeno, de cinco peças, e, em bandas como os Flying Colors e os Transatlantic, também uso outras configurações. Dito isto, gostei de me afastar destes kits grandes durante algum tempo, mas agora, que estou de volta a casa, sabia que tinha que usar uma cena monstruosa.

Utilizas mesmo todas as peças?
Sem dúvida. Sei bem que, se olharmos apenas para ele, parece uma loucura. Mas, na verdade, há um método para isso. São basicamente dois kits juntos num só. Toco o lado esquerdo em algumas músicas, e o lado direito em outras. Basicamente é como ter dois kits num só, mas os tenho lado a lado, parece tudo ainda maior.

Vais regressar a Lisboa com os DREAM THEATER no próximo dia 16 de Novembro. Tens grandes expectativas para essa noite?
Pessoalmente, acho que todas as datas desta digressão vão ser incríveis. Em Londres, foi incrível. A atmosfera, a excitação e a alegria no ar eram tão intensas… Eu olhava para o público e via pessoas a chorar por todo o lado. E o que é tão emocionante para mim é que isso não é uma coisa única que só aconteceu num concerto.

Vai ser assim em todos os sítios onde formos durante o próximo ano. Sempre que tocarmos em qualquer mercado, seja em Lisboa, em Berlim, em São Paulo ou em Dallas, no Texas, as emoções vão ser muito semelhantes. Vamos, literalmente, sentir isso em todos os lugares a que formos. E, para mim, isso é mesmo muito emocionante.

Já estão a anunciar também algumas datas em festivais para o próximo ano, portanto parece-me seguro assumir, depois do álbum sair em Fevereiro, as digressões vão continuar.
De momento, já temos tudo marcado para o próximo Verão em termos de festivais, mas o que vai acontecer é que este ciclo de digressões vai, muito provavelmente, passar por duas fases distintas. A primeira está a acontecer, é esta digressão de 40º aniversário, que se centra em toda a carreira e também no entusiasmo gerado pela reunião desta formação.

Entre agora e o próximo verão, esse é o nosso foco. No entanto, depois do Verão de 2025, as coisas vão mudar e vamos fazer outra rota, que será centrada no novo álbum. Como o disco só vai sair em Fevereiro, não queremos tocar muito material do novo álbum até que as pessoas tenham tido oportunidade de se sentar com ele e digeri-lo.