Não passou muito tempo desde a última vez que os DEVIL IN ME visitaram o RCA Club, embora possamos dizer que as coisas estejam bastante diferentes. As restrições pandémicas estão cada vez mais para trás, a Europa (e o mundo) vê-se a braços com uma guerra e com as suas consequências a vários níveis e, não menos importante e numa nota mais positiva, a banda de Poli já lançou um novo álbum, o excelente «On The Grind» que promete ser o disco hardcore do ano. E era esse motivo de celebração, sendo que compareceram também em cima do palco os BESTA, BAS ROTTEN e VICIOUSLY HATEFUL. Do outro lado da barricada, um público ávido de festa que compôs muito bem o RCA Club.
Foram os VICIOUSLY HATEFUL os primeiros a subir ao palco e a animação mostrou-se logo frenética tal como seria previsível. A abordagem beatdown é bastante interessante e dinâmica e também foi possível notar uma evolução desde a última vez que os vimos ao vivo, algo que a rodagem ao vivo proporciona. O público também gostou e isso notou-se desde cedo com a festa que foi feita no pit. Bons pormenores (bons solos quando os mesmos surgiram) e ainda participações especiais onde destacamos Lucas Bishop (dos Downfall Of Mankind) na «Face The Truth» e Raphz dos Fear The Lord na «Trust None» que fechou a actuação.
Para garantir que a animação continuava, vieram os BAS ROTTEN. Já os vimos algumas vezes ao vivo e é impressionante como conseguem sempre levar tudo à frente. Grind/crust daquele que faz prédios ruírem e que também serviu o propósito de manter as hostes aquecidas para a banda da noite. É certo que há algumas diferenças estilísticas mas ainda assim o público não se fez rogado em continuar a festa ao som do apocalipse sonoro ao som dos blastbeats em vez dos breakdowns. Ninguém se queixou da diferença.
Na mesma linha grind destruidor vieram os mestres BESTA que tem um arsenal destruidor que não se manteve alterado apesar de agora se apresentar como trio, ou seja sem baixista. Nem mesmo os problemas com o pedal duplo (que teve de ser substituído) de Paulo Lafaia impediram que estivessemos perante violência de proporções cósmicas. Como disse Paulo Rui, “o gajo em dez músicas consegue partir o pedal”. Aquelas descargas com um sabor distinto a grind sabem mesmo bem e não poderia haver melhor forma de antecipar aos DEVIL IN ME.
A excitação era palpável e foi em crescendo conforme a intro se começou a ouvir, a intro que antecedeu «The End» o primeiro tema que Poli e os seus pares debitaram, que causou logo uma explosão frenética de movimento. Os DEVIL IN ME apresentaram-se com um novo baixista para esta série de concertos, tendo sido escolhido Tiago Afonso, vocalista dos Tara Perdida, que fez com que o groove estivesse sempre presente. Groove hardcore não faltou mesmo conforme a banda conciliou os seus clássicos incontornáveis como «On My Own» e «Back Against The Wall».
A definição mais apropriada para descrever aquilo que a banda faz é palco e a forma como os fãs (ou simplesmente qualquer pessoa que não seja dura de ouvido) interagem com a sua música é “caos organizado”. Claro que esse caos poderá levar a que por vezes existam alguns desentendimentos – algo que Poli prontamente interrompeu o concerto para relembrar. Que naquele sítio, ao som daquela música, não há espaço para separação, não há espaço para conflito. Ali é onde tudo flui de maneira perfeita e tudo tem sentido, onde só temos que sentir – num mundo cada vez mais adormecido, é urgente sentir esta união, este sentimento de pertença. O final viria com a antémica «Soul Rebel» que seria apropriada para fechar mais uma tarde de comunhão hardcore.
Fotos: Sónia Ferreira