Se vai ser recordado ao lado do «White Pony» como um dos marcos absolutos da sua discografia, só o tempo dirá. Mas, para já, uma coisa é certa: «Private Music» é o disco que prova que, mesmo em 2025, os DEFTONES ainda têm muito para dizer — e o mundo continua ávido por escutá-los.
Os DEFTONES estão a atravessar um dos momentos mais surpreendentes e intensos da sua carreira. Vinte e cinco anos depois de «White Pony» ter redefinido os limites do metal alternativo, a banda de Sacramento surge com um disco que não só consolida a sua relevância como também reabre a discussão sobre qual será, afinal, a sua fase criativa mais inspirada. «Private Music» apresenta-se como o trabalho mais completo e essencial dos DEFTONES em muito tempo, um álbum que cristaliza o renascimento da sua carreira e os reafirma como uma força absolutamente singular dentro da música pesada.
O fenómeno é tanto mais notável porque os DEFTONES nunca desapareceram verdadeiramente do mapa. Ao longo de mais de três décadas, construíram uma reputação de consistência, mesmo quando alguns dos seus discos mais arriscados — como o «Saturday Night Wrist», de 2006, ou o «Gore», de 2016 — foram inicialmente recebidos com reservas.
Hoje, esses mesmos álbuns são revisitados como obras injustamente subestimadas, e esse processo de reavaliação só veio reforçar a perceção de que os DEFTONES nunca deixaram de perseguir a sua própria visão artística. Ainda assim, a forma como o novo álbum se impõe faz lembrar os momentos mais luminosos da sua discografia, despertando memórias de «Diamond Eyes» e «Koi No Yokan», os dois discos que marcaram a última grande fase criativa da banda.
Parte crucial deste impacto reside na produção de Nick Raskulinecz, veterano que já trabalhou com nomes como os FOO FIGHTERS, ALICE IN CHAINS, KORN e MASTODON. A sua mão é evidente em cada detalhe: riffs que soam mais densos, melodias que se elevam com naturalidade e silêncios que respiram com uma leveza quase etérea. Se Terry Date permanece como o produtor de culto da história dos DEFTONES, o facto de Raskulinecz ter assinado dois dos discos mais amados da era moderna da banda e regressar agora para moldar «Private Music» é uma prova de confiança e de continuidade artística.
No entanto, a verdadeira essência do álbum está, como sempre, na química quase mística entre os membros dos DEFTONES. A voz de Chino Moreno, ora sussurrada, ora gritada, desliza e rasga ao encontro das guitarras monumentais de Stephen Carpenter, enquanto a secção rítmica, marcada por batidas que bebem tanto do hip hop como do trip hop, sustenta a intensidade com uma fluidez que nunca perde o balanço. Em pano de fundo, os ambientes de Frank Delgado funcionam como fios invisíveis que ligam todas as peças, preenchendo os interstícios com camadas subtis de electrónica e texturas atmosféricas.
Logo no arranque, «My Mind Is A Mountain» estabelece o tom: é o som de uma banda unida, quase telepática, capaz de equilibrar peso e melodia sem esforço. A seguir, o riff intrincado e contagiante de «Cut Hands» mostra um Stephen Carpenter em plena forma, explorando a técnica com groove e agressividade. O contraste chega com «I Think About You All The Time», balada melancólica em que Moreno evoca o lirismo vulnerável de Morrissey, provando mais uma vez a elasticidade emocional da sua voz. Já em «Ecdysis», os DEFTONES surpreendem ao cruzar a densidade do metal com ecos dos THE SMASHING PUMPKINS e a pulsação fria dos NEW ORDER, criando um híbrido que soa tanto a homenagem como a reinvenção.
Mais do que uma colecção de boas canções, «Private Music» distingue-se pela coesão. Onde «Gore» arriscava com desvios subtis pelo rock alternativo e espacial, e «Ohms», de 2020, procurava ser um compêndio das várias fases da carreira, o novo disco soa a uma síntese total de tudo o que de melhor os DEFTONES fizeram até aqui, sem arestas soltas nem momentos de hesitação. É um álbum pensado como um todo, que convida à escuta integral e recompensa cada regresso com novas camadas por descobrir.
Neste momento particular da sua trajectória, os DEFTONES conseguem algo raro: um disco que não se limita a revisitar glórias passadas nem tenta desesperadamente soar actual. «Private Music» respira a confiança de quem encontrou novamente o ponto de equilíbrio entre experimentação e identidade, e fá-lo com a naturalidade de uma banda que continua a crescer, mesmo depois de já ter deixado a sua marca incontornável na história da música pesada.
















