DEEP PURPLE: 53 anos de «In Rock»

Ao contrário dos LED ZEPPELIN ou BLACK SABBATH, que marcaram o cenário rock com os seus álbuns de estreia, este não é o primeiro disco dos DEEP PURPLE — na realidade era já o quarto registo de estúdio. É mesmo o quinto título contando na discografia da banda, isto se contarmos com «Concerto for Group & Orchestra», mas é o primeiro trabalho de estúdio com a denominada Mk II, a formação mais clássica, com Ritchie Blackmore na guitarra, Jon Lord nos teclados e Ian Paice na bateria, o núcleo original a que, em 1969, se juntaria Ian Gillan na voz e Roger Glover no baixo. Esta formação permaneceria unida até 1975, voltando depois a reunir-se em 1984 e mantendo-se até 1989, numa manobra que seria percussora em termos de reuniões no campo do hard’n’heavy. Entre 1970 e 1972, a MK II dos DEEP PURPLE lançou três discos de originais e ainda um álbum ao vivo, que se revelariam fundamentais para o hard rock e, hoje, continuam a manter incrivelmente actuais, contendo mais elementos próximos do stoner do que os eternamente referidos registos dos BLACK SABBATH. «In Rock» foi sucedido por «Fireball», em 1971, e «Machine Head» no ano seguinte, com este último a transformar-se no título mais conhecido do grupo britânicos. Todos acabariam resumidos em «Made In Japan», que retrata uma digressão japonesa e que muitos classificam como o melhor disco ao vivo de sempre.

Tudo tinha começado, no entanto, em «In Rock», pedra basilar que reúne sete faixas e começa com o que podia ser um bom final — todos os instrumentos numa aparente cacofonia que rapidamente evolui para um órgão que apresenta uma linha quase flat que leva a nova explosão e apresenta a incrível voz de Ian Gillan. É «Speed King», tema violento e extremo ainda para os dias de hoje, em que a letra é um conjunto de referências a velhos temas do rock’n’roll, «Tutti Frutti», «Lucille», «Let’s have a Party», «Saturday Night», «Hard Headed Woman» e «House of Blue Light». O refrão como que anuncia a poderosa voz que marcaria o grupo I’m a speed king you go to hear me sing/I’m a speed king see me fly. Seguem-se os blues musculados de «Bloodsucker», contendo o primeiro brilharete de Blackmore, seguido de um meio-tempo de órgão e bateria, como que lembrando quem era o núcleo fundador.

O lado A conclui com «Child In Time», dez minutos de música com uma letra anti-guerra em que se percebem todas as capacidades vocais de Gillan. Provavelmente um das melhores prestações vocais de sempre do músico e uma verdadeira prova de fogo para qualquer vocalista. Certamente um piscar de olhos ao material do passado, que tinha no tema «Hush» o maior sucesso à época, mas um dos temas maiores no futuro do grupo. Curiosamente, Gillan e Blackmore, usariam recorrentemente o tema nos seus projectos pós-DEEP PURPLE, com Blackmore a criar até uma versão folk, que vale apenas pela curiosidade.O lado B do disco contém quatro malhas, «Flight Of The Rat», «Into The Fire», «Living Wreck» e «Hard Lovin’ Man», todas boas, mas que não resistiram ao tempo e, muito menos, à qualidade do material que se lhes sucederia. Fossem os DEEP PURPLE apenas o «In Rock» e certamente que estas canções teriam hoje mais protagonismo. Mesmo assim, «Into The Fire» é um excelente clássico, muito próximo, instrumentalmente, do que hoje se chama stoner. «Living Wreck», a ser editada agora, levaria logo com o rótulo de psych. «Hard Lovin’ Man», com o seu baixo pulsante, faz questionar porque é que IRON MAIDEN nunca fizeram uma versão do tema.

Gravado em várias sessões entre concertos, como era hábito à época, o disco conseguiu um quarto lugar na tabela de vendas britânicas, a entrada mais alta para o grupo até à data. Também a capa, uma versão personalizada do Monte Rushmore, que representa alguns presidentes norte-americanos, parece ter sido feita à medida dos egos que se viriam a revelar, e ainda hoje é a capa mais reconhecida do grupo. Um coisa é certa: escutar o «In Rock» hoje, passados 53 anos da sua edição, é redescobrir um som ainda actual. Para aqueles que fazem dos DEEP PURPLE apenas sinónimo de «Smoke On The Water», será uma oportunidade para reverem ideias e tentarem justificar por onde andaram.