Se, nos dia de hoje, os concertos têm um gostinho especial, mais especial têm quando se trata de um evento em que se apresenta o novo álbum dos DAWNRIDER, o excelente «The Fourth Dawn», ao público. Mais especial por serem acompanhados pelos FILII NIGRANTIUM INFERNALIUM, uma das bandas mais queridas do nosso underground de música extrema e que também aproveitavam para fazer a festa da reedição do mítico «A Era Do Abutre». Só por estes dois factos seria de esperar uma noite perfeita ou a roçar a perfeição, que infelizmente foi beliscada por uma alteração incompreensível no horário da abertura das portas — originalmente programada para as 21:00, hora a que, afinal, os concertos começaram. Esse antecipar de meia hora no início das actuações em relação ao previsto fez com que muitos perdessem a actuação completa dos FILII NIGRANTIUM INFERNALIUM. Algo indesejável, mas que aparentemente está acima daquilo que os próprios promotores podem controlar.
Quando conseguimos entrar finalmente na sala, os FILII NIGRANTIUM INFERNALIUM já estavam bem lançados na sua actuação, sendo que a banda tinha começado por dar foco ao já referido e incontornável «A Era do Abutre». Destaque para o tema «Herança de Outono», que contou com a participação vocal de ‘Wanderer’ (dos Göatfukk, ex-DECAYED). As surpresas não se ficaram por aqui, no entanto, com um final apoteótico que contou com a participação de Mário Figueira (dos RAGE AND FIRE, ex-RAVENSIRE) na guitarra e de Lex Thunder (dos TOXIKULL, ex-MIDNIGHT PRIEST) na voz para uma alucinante interpretação de «Cadafalso». Não só este tema é o ideal para acabar qualquer concerto — porque admitamos, não há nada que se possa tocar a seguir que o supere — como também a consciencialização de que este foi um concerto demasiado pequeno para o que público ansiava.
Após uma rápida troca de palco — até porque, aparentemente, não havia tempo a perder –, os DAWNRIDER entraram em palco para apresentar «The Fourth Dawn», o ponto central da actuação e que foi tocado quase na íntegra. O som da banda dispensa apresentações para os fãs de doom tradicional e puro, mas nem mesmo essa pureza dispensa os arranjos de teclados que são uma parte importante do som da banda, ainda que de forma subtil. O facto de tocarem o álbum quase todo revela a confiança que a banda algarvia tem no seu trabalho, uma confiança merecida. Os músicos não se furtaram a agradecer ao público lisboeta (e não só, porque vieram pessoas de outras partes do país) pela sua presença e pelo apoio. Aparte dos temas novos tocados, dos quais destacamos «Reaching Glory» e «Lord», a banda ainda fez umas incursões certeiras pelo passado, com destaque para a «Demons», do álbum «The Third Crusade» e a épica «Under The Spell», do split com os APOSTLE OF SOLITUDE, que foi o ponto final numa noite de metal nacional em que, apesar de todas as imperfeições, não deixou de ser um momento de comunhão. Do público com as bandas, e de união pelas sonoridades mais tradicionais. Duas bandas diferentes, mas a mesma paixão pelo metal. E é assim que vamos recordar esta noite.