JOHANSEN

[R.I.P.] Faleceu DAVID JOHANSEN, o ícone punk que mudou o rock com os NEW YORK DOLLS

Johansen deixa um legado que transcende géneros e épocas, assegurando o seu lugar na história como um dos grandes ícones do punk e da cultura underground.

David Johansen, o lendário vocalista dos NEW YORK DOLLS, David Johansen, faleceu aos 75 anos. Figura incontornável do punk e do glam rock, Johansen marcou gerações com a sua irreverência, presença de palco explosiva e uma carreira multifacetada que se estendeu por mais de cinco décadas. Segundo um comunicado do seu assessor de imprensa, o músico “faleceu em casa, em Nova Iorque, na tarde de sexta-feira, de mãos dadas com a sua esposa, Mara Hennessey, e a sua filha, Leah, rodeado de música, flores e amor”.

A causa da morte foi atribuída a problemas de saúde decorrentes de um cancro em estado avançado e de um tumor cerebral, diagnóstico que manteve privado durante anos. A sua situação agravou-se após uma queda em Novembro de 2024, que resultou em fracturas graves na coluna, levando-o a divulgar a sua condição em Janeiro deste ano e a pedir apoio financeiro para os seus tratamentos.

Nascido a 9 de Janeiro de 1950, em Nova Iorque, David Roger Johansen iniciou a sua jornada musical em bandas locais de Staten Island. Em 1971, tornou-se vocalista dos NEW YORK DOLLS, um dos grupos mais influentes da cena proto-punk. Com uma sonoridade crua e uma estética extravagante, a banda lançou dois álbuns seminais: «New York Dolls», de 1973 e o sucessor «Too Much Too Soon», de 1974. Embora o reconhecimento comercial tenha sido modesto na época, a sua importância para o rock foi imensa.

Os NEW YORK DOLLS abriram caminho para o movimento punk que emergiria mais tarde, inspirando bandas como os SEX PISTOLS, os KISS e os AEROSMITH. A sua energia anárquica e atitude irreverente ajudaram a definir a cena musical nova-iorquina, influenciando o surgimento de grupos como TALKING HEADS e BLONDIE. Apesar da sua curta duração inicial – separaram-se em 1976 –, a banda tornou-se lendária. Em entrevistas ao longo dos anos, Johansen reflectiu sobre o impacto dos NEW YORK DOLLS, referindo-se à banda como uma reacção ao rock estagnado da época: “Queríamos criar uma explosão de emoção. O rock’n’roll tinha-se tornado pedante e sem direcção”, afirmou à NPR em 2004.

Após a separação dos NEW YORK DOLLS, Johansen lançou-se a solo, estreando-se em 1978 com o álbum «David Johansen». Seguiram-se «In Style», de 1979, «Here Comes the Night», de 1981, e «Sweet Revenge», de 1984, regitos que exploravam o rock, blues e pop com a sua assinatura vocal inconfundível. Nos anos 80, reinventou-se com o alter ego Buster Poindexter, personagem inspirada no jazz, no blues e no swing, afastando-se da estética punk.

O projecto revelou-se um sucesso inesperado, especialmente a versão de «Hot Hot Hot», um tema originalmente gravado por Arrow, que se tornou um hino de festas e casamentos – para desagrado do próprio Johansen, que a considerava “a maldição” da sua vida. Paralelamente à música, aventurou-se no cinema, participando em filmes como Scrooged (1988), Let It Ride (1989) e Mr. Nanny (1993), consolidando a sua presença na cultura pop.

Em 2004, Morrissey, um dos maiores admiradores dos NEW YORK DOLLS, incentivou uma reunião da banda para o festival Meltdown, em Londres. Esse regresso rendeu três novos álbuns: «One Day It Will Please Us To Remember Even This», de 2006, «Cause I Sez So», de 2009 e «Dancing Backward In High Heels», de 2011. Apesar de mudanças na formação, Johansen manteve-se como a alma do grupo até à sua dissolução definitiva. Nos seus últimos anos, o músico e actor manteve um perfil muito discreto, mas continuou activo artisticamente.

Em 2023, foi homenageado pelo cineasta Martin Scorsese, que dirigiu o documentário «Personality Crisis: One Night Only», uma celebração da sua carreira e impacto na música. Agora, com a sua morte, desaparece uma das figuras mais carismáticas e visionárias do rock’n’roll. Johansen deixa um legado que transcende géneros e épocas, assegurando o seu lugar na história como um dos grandes ícones do punk e da cultura underground.