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DAVE MUSTAINE explica o verdadeiro motivo do fim dos MEGADETH: “Não sei quanto mais tempo consigo tocar”

DAVE MUSTAINE fala pela primeira vez sobre a doença degenerativa de precipitou a decisão de colocar um ponto final na brilhante carreira dos MEGADETH.

Dave Mustaine, o líder dos MEGADETH, falou pela primeira vez de forma franca e detalhada sobre a condição física que tem vindo a limitar seriamente a sua capacidade de tocar guitarra, ajudando a contextualizar não só o anúncio do álbum final da banda, como também a decisão de avançar para uma digressão de despedida à escala global. Numa nova entrevista à MariskalRockTV, Mustaine abordou a batalha contínua contra a chamada contratura de Dupuytren, uma doença degenerativa que afecta os tendões da mão e pode levar à perda total de mobilidade dos dedos.

Questionado sobre o momento exacto em que decidiu anunciar o “último capítulo” da sua carreira, o Sr. Mustaine rejeitou qualquer ideia de planeamento prévio. “Não. Não, porque simplesmente falei nisso. Não decidi nada. Estávamos a trabalhar em estúdio [no próximo álbum homónimo dos MEGADETH] e tinham sido semanas muito difíceis”, explicou. Segundo Dave Mustaine, a pressão para cumprir prazos, aliada ao esforço físico prolongado, levou a que a dor nas mãos se tornasse insuportável. “As minhas mãos estavam a doer imenso. E um dia disse à minha equipa: ‘Sabem, não sei quanto mais tempo vou conseguir fazer isto.’ Não disse: ‘Quero reformar-me agora’.

É precisamente essa limitação física que está no centro de todas as suas decisões recentes. Ao detalhar o problema, Mustaine não escondeu a gravidade da situação. “Se olhares para esta mão, há aqui uma linha a sobressair. Isto chama-se contratura de Dupuytren e vai fazer com que o dedo se feche assim. Já começou. E se olhares para as pontas dos meus dedos, estão severamente artríticas. Todas essas protuberâncias tornam tocar extremamente doloroso.” A condição não tem cura, podendo apenas ser controlada através de tratamentos que aliviam os sintomas e atrasam a progressão.

Apesar disso, o músico revelou que, para já, não pretende avançar para cirurgia. A decisão é estratégica e emocional. “Vou esperar até estar pronto para tentar isso, porque se tentar agora, estando a 95% ou perto disso, e a cirurgia me fizer recuar, isso seria uma má decisão”, explicou. “Se esperar até ao ponto em que as minhas mãos sejam realmente um problema e tentar, e não resultar, então já terei feito digressões por todo o lado, já terei dito adeus a toda a gente e não deixo nada por dizer ou por fazer.”

Esta abordagem ajuda a compreender por que razão a digressão de despedida dos MEGADETH não será curta. Em declarações recentes à Kerrang!, Mustaine admitiu que este ciclo final poderá prolongar-se por vários anos. “Estamos facilmente a falar de mais três a cinco anos em digressão”, afirmou, acrescentando, com ironia, que isso o aproxima de um aniversário que prefere não antecipar — o músico vai fazer 70 anos em 2031.

A lucidez com que encara o tempo que lhe resta enquanto artista activo resulta também de um percurso pessoal marcado por superação. Antigo dependente de drogas e álcool, e sobrevivente de um cancro na garganta, Mustaine mostra-se pragmático quanto à ideia de longevidade artística. “Não estou obcecado com viver para sempre ou tocar até aos 80 anos. As pessoas vivem e morrem. E eu preciso de cuidar bem de mim.”

O próximo álbum dos MEGADETH, intitulado «Megadeth», tem edição marcada para 23 de Janeiro de 2026 e será o sucessor de «The Sick, The Dying… And The Dead!», lançado em 2022. O disco vai ser editado através da Tradecraft, selo de Mustaine, em parceria com a Frontiers Label Group, integrando a nova chancela BLKIIBLK. Para este derradeiro registo de estúdio, a banda voltou a trabalhar com Chris Rakestraw, produtor e engenheiro de som responsável também por «Dystopia» e pelo álbum anterior.

No comunicado oficial que anunciou simultaneamente o último LP e a digressão de despedida dos MEGADETH, Mustaine deixou uma mensagem longa e emocional dirigida aos fãs, sublinhando a raridade de poder encerrar a sua carreira nos seus próprios termos. “Há tantos músicos que chegam ao fim da sua carreira, acidental ou intencionalmente. A maioria não tem a oportunidade de sair por cima e nos seus próprios termos, e é aí que eu estou agora”, afirmou. “Viajei pelo mundo e fiz milhões e milhões de fãs, e a parte mais difícil disto tudo é dizer-lhes adeus.”

O músico reforçou ainda a ideia de que, para si, este momento representa o término ideal de um ciclo criativo e histórico. “Se alguma vez houve uma altura perfeita para lançar um novo álbum, é agora. Se alguma vez houve uma altura perfeita para fazer uma digressão mundial, é agora. E esta é também a altura perfeita para dizer que este será o nosso último álbum de estúdio.”

Num misto de gratidão e de celebração, Mustaine concluiu: “Não fiquem zangados, não fiquem tristes, fiquem felizes por todos nós. Venham celebrar comigo estes próximos anos. Fizemos algo juntos que foi verdadeiramente especial e que provavelmente nunca mais voltará a acontecer.”