Os DARK TRANQUILLITY fizeram da memória de “Tompa Lindberg” uma celebração de um som que mudou o metal.
Os DARK TRANQUILLITY prestaram uma sentida homenagem a Tomas “Tompa” Lindberg, lendária voz dos AT THE GATES, durante o concerto do passado dia 18 de Outubro em Gotemburgo, interpretando a clássica «Blinded By Fear». A actuação, captada para a posteridade por fãs no Filmstudion, marcou um dos momentos mais emocionais da carreira recente da banda sueca — uma despedida simbólica de uma das figuras mais influentes da cena do death metal melódico.
A escolha da canção não foi, como é óbvio, casual. Lançada em 1995, «Blinded By Fear» abre o icónico «Slaughter Of The Soul», considerado um dos pilares do género e uma das obras que cimentaram o chamado “som de Gotemburgo”. Executá-la ao vivo, na própria cidade onde tudo começou, soa-nos como uma homenagem coletiva: uma comunhão entre músicos, público e memória.
Numa entrevista recente ao portal chileno PowerOfMetal.cl, Mikael Stanne, dos DARK TRANQUILLITY e também dos THE HALO EFFECT, entre outros projectos, recordou com o papel fulcral de Lindberg na criação dessa cena musical única. “Mais do que se pode explicar, na verdade. Conheci-o quando tinha 14 anos. Fui com um amigo à cave do Kristian Wåhlin — o Necrolord — e eles estavam lá, a ensaiar com os GROTESQUE, antes de se tornarem os AT THE GATES. Fiquei maravilhado. Nunca tinha visto uma banda a tocar música ao vivo, e aquilo era uma loucura, um black metal insano. Fiquei inspirado e completamente rendido.”
A voz dos DARK TRANQUILLITY sublinhou também que “Tompa” Lindberg foi o verdadeiro epicentro da efervescência criativa que definiu Gotemburgo nos 90s. “Mais do que qualquer coisa, acho que o ‘Tompa’ inspirou a cena porque era a figura central de tudo o que acontecia na cidade. Era apaixonado, conhecia todas as bandas e sabia o que se passava. Se precisavas de algo ou querias ser inspirado, ias ter com ele. Sem o ‘Tompa’, não haveria cena de death metal de Gotemburgo — isso é um facto.”
Para Stanne, a influência de Lindberg foi também filosófica. “Ele mostrou-me que o metal extremo podia ser sério. Quando descobri bandas como os KREATOR ou os CANNIBAL CORPSE, amava aquilo, mas não sabia se devia levar a sério. Ele ensinou-me que havia bandas que tratavam isto com integridade e letras com significado. Foi por causa dele que comecei a escrever sobre temas sérios, com substância. Ele mostrou-me o que a música podia e devia ser.”
A morte de Tomas Lindberg deixou um vazio profundo na comunidade metal. Diagnosticado em dezembro de 2023 com carcinoma adenoide cístico — um tipo raro e agressivo de cancro das glândulas salivares —, o vocalista lutou contra a doença durante quase dois anos. “Foram dois anos horríveis a saber que ele estava a lutar tão corajosamente. Todos achávamos que iria superar, mas há alguns meses percebemos que era mais grave do que pensávamos”, confessou os DARK TRANQUILLITY, visivelmente abalado.
Por tudo isto, esta homenagem dos DARK TRANQUILLITY serviu, assim, não apenas como despedida, mas como reafirmação de um legado que ultrapassa as fronteiras do género. A amizade entre Stanne e Lindberg, que começou numa cave de Gotemburgo há mais de três décadas, moldou como ambos — e, por extensão, toda uma geração de músicos — compreenderam o poder do metal. Com esta versão da «Blinded By Fear», o público sueco assistiu a uma celebração de vida e arte de Lindberg, marcada por respeito e gratidão. E, em palco, Stanne não precisou de discursos longos: a música falou por si.















