No último dia do LISBON TATTOO ROCK FEST, as atracções musicais voltaram-se exclusivamente para o metal extremo — mais concretamente, para o death/grindcore. Os britânicos CARCASS e os nacionais BESTA e GRINDEAD foram reis e senhores num cartaz que garantiu sala cheia.
É verdade que os míticos CARCASS já nos tinham visitado no ano passado, mas também ninguém pode negar que são uma banda clássica e daquelas que tem sempre um apelo inegável, ainda para mais sendo cabeça de cartaz. No entanto, os britânicos não eram, de todo, o único motivo para convergir ao LAV – LIsboa Ao Vivo nesta noite de Domingo. Os britânicos subiram ao palco (muito bem) acompanhados pelos nacionais BESTA e GRINDEAD, que demonstraram ser as escolhas perfeitas para acompanhar as lendas vivas do death metal.
Foi com os GRINDEAD que a música começou a soar na sala e a noite não podia ter começado de uma melhor (ou até mais forte) forma. Cada vez mais coesa, a banda que tem em si muito ADN dos Genocide consegue transportar para cima dos palcos todo o poder presente no disco de estreia «Culture Decline / Machines Arise». Por esta altura a sala já estava bem composta e isso surpreendeu muito pela positiva o frontman Luís Gonçalves, que agradeceu ao público pela presença a apoiar as bandas de abertura. E sim, é um fenómeno raro o suficiente para ser uma surpresa positiva. Conquistaram certamente, e de forma merecida, mais fãs e espera-se um regresso dos GRINDEAD à capital muito em breve.
A seguir, subiram ao palco os BESTA e foi o caos que se antecipava — e desejava. Sendo uma banda que tem sido incansável desde que se juntou, seria de esperar que houvesse algum cansaço em relação à sua actuação. No entanto, esse é um conceito que não lhes assiste. Com um som bem poderoso — talvez o melhor da noite — e encorpado apesar da falta de baixo, a banda de Paulo Rui foi um rolo compressor daqueles que castiga sem perdão, mas que é tudo menos unidimensional. Resultado: grind que não deixa de parte o groove nem o virtuosismo, e que colocou toda a gente a mexer. Um aquecimento de luxo para o que viria logo de seguida.
Os beitânicos CARCASS são uma referência incontornável no que se tornaria o death/gore/grind, mas foram também pioneiros do death metal melódico que faria escola uns anos depois, não só na Suécia, mas também no outro lado do Atlântico — e fizeram isto tudo no século passado. Quando regressaram ao activo no presente século, a expectativa era de matar (ou explorar) o saudosismo que os anos de ausência e o culto criaram, mas quaisquer expectativas foram superadas com o lançamento de dois álbuns que, mais do que quebrarem as fronteiras como os anteriores — e sim, até o «Swansong» quebrou algumas —, pegaram na herança do «Heartwork» e levaram-na mais além.
Naturalmente com mais tempo de antena que qualquer uma das bandas que tinham tocado antes, os CARCASS atiraram-se a um alinhamento que passou por todas as fases da sua carreira e onde nem o já mencionado «Swansong» foi ignorado, tendo direito alguns apontamentos em medleys — como, por exemplo, quando se ouviu o fantástico riff da «Black Star» como introdução a «Keep On Rotting In The Free World» ou o riff da «Tomorrow Belongs To Nobody» a introduzir «Death Certificate».
Com o público ao rubro, a banda muito inspirada, um alinhamento tão diversificado como eficaz e um balanço colossal que esteve omnipresente em tudo o que tocaram, resultaram numa prestação tão brutal como contagiante, durante a qual foi uma delícia ver o Bill Steer a curtir milhões enquanto tocava temas clássicos e até os mais recentes. Feitas as contas, foi melhor maneira possível e imaginária de colocar o ponto final em mais uma edição do Lisbon Tattoo Rock Fest.
Fotos: Sónia Ferreira