Muito bem acompanhados pelos THE VOYNICH CODE, ENTHEOS e INGESTED, os norte-americanos BORN OF OSIRIS estrearam-se finalmente em Lisboa e fizeram o LAV – Lisboa Ao Vivo vibrar com actuação dominada por muito peso e técnica.
Esta semana, Lisboa foi palco de uma noite intensa e técnica, que reuniu quatro bandas a explorarem diferentes vertentes do metal moderno. A jornada sonora foi marcada por riffs esmagadores, guturais e momentos de pura adrenalina, mostrando que o deathcore, o slam e o djent continuam a conquistar cada vez mais fãs. A abertura deste tour package estava a cargo dos nacionais THE VOYNICH CODE, que apresentaram a sua formação renovada — do grupo original, agora resta só o guitarrista André Afonso, acompanhado pelo britânico Jack Higgs na guitarra e pelo norte-americano Jack Kinsey na voz.
Essa renovação ficou bem patente no alinhamento interpretado, que privilegiou sobretudo temas recentes, como «Cage Of Innocence», «Slaves To A Machine» ou «A Flicker Of Life», com a banda a dar pouca atenção aos seus primeiros lançamentos, como o EP «Ignotum», de 2015. Apesar de alguns fãs terem sentido falta dos temas mais antigos, a performance foi sólida e cheia de energia, culminando com «Serpents Meridian» e «The Last Grain». A despedida oficial do vocalista Nelson Rebelo, neste último tema, adicionou um tom emotivo à noite, mesmo sem que os músicos tenham revisitado o material mais antigo, o que deixou no ar a sensação de que estão prontos para embarcar numa nova fase.




A seguir, os ENTHEOS transformaram o palco num verdadeiro turbilhão de deathcore técnico. A vocalista Chaney Crabb comandou os procedimentos com uma presença magnética, desfiando guturais precisos e pig squeals que cativaram desde o primeiro momento. A banda revelou um equilíbrio notável entre brutalidade e técnica, fazendo o público oscilar entre o headbanging e a admiração pelos arranjos complexos.
O alinhamento contou com faixas que exemplificam bem essa dinâmica, começando com a explosiva «All For Nothing», passando por «Absolute Zero» e «An End To Everything», até momentos mais atmosféricos como «Life In Slow Motion» e, como vem sendo habitual, o encerramento emotivo com «The Sinking Sun». No final, a actuação tratou de evidenciar uma vez mais a crescente importância das vocalistas femininas no metal extremo, com Chaney a mostrar que a agressividade pode vir acompanhada de uma técnica exemplar.





O ritmo aumentou ainda um pouco mais com os britânicos INGESTED, mestres do death metal mais brutal e que transformaram a sala 2 do LAV – Lisboa Ao Vivo num autêntico ringue de mosh. A partir de temas como «Titanomachy» e «Endgame», a banda britânica manteve uma pressão sonora implacável, culminando em verdadeiros momentos de caos controlado.
Com riffs afiados e uma bateria implacável, o público respondeu ao apelo de uma wall of death durante «Cremated Existence» e o mosh tornou-se perigosamente intenso em «Skinned And Fucked», que encerrou a actuação com chave de ouro. A voz grave e cavernosa de Jason Keyser combinou perfeitamente com o peso extremo da banda, tornando cada breakdown uma experiência quase física para quem estava na plateia. A energia foi constante, deixando marcas na memória — e, provavelmente, também na pele — de muitos fãs.








No entanto, como seria de esperar, o ponto alto da noite foi, sem dúvida, a actuação dos BORN OF OSIRIS, que enfrentaram o desafio de actuar como trio devido à saída repentina do guitarrista Lee McKinney a meio desta digressão. Para colmatar a ausência, Nick Rossi assumiu uma dupla função, repartindo-se entre guitarra solo e ritmo, além de ficar responsável pela programação eletrónica — tarefa que antes pertencia ao teclista Joe Buras, que abandonou a banda em 2024. Apesar destas alterações, o vocalista Ronnie Canizaro e o baterista Cameron Losch mantiveram-se bem firmes nas suas posições, assegurando a solidez impressionante da prestação.
O alinhamento foi um passeio equilibrado pela carreira dos BORN OF OSIRIS, misturando clássicos do EP «The New Reign» com antecipações do álbum «Through Shadows», que vai ser lançado em Julho. Temas como «Open Arms To Damnation» e «Bow Down» abriram o concerto com força avasaladora, enquanto faixas como «Elevate» e «White Nile» mostraram o lado mais melódico e polido da banda. O público vibrou com a energia de «Divergency», «Ascension» e «Torchbearer», até ao final explosivo com «Machine».
No final, a forma como os BORN OF OSIRIS conseguiram manter a intensidade apesar das limitações da formação temporária foi simplesmente notável, demonstrando uma resiliência e profissionalismo dignos de destaque – e, mesmo numa terça-feira e com a sala longe de estar cheia, ficou claro que o metal técnico e moderno tem uma base sólida de seguidores em Lisboa: uma nova geração de fãs cada vez mais dedicada, pronta para abraçar a diversidade e a inovação dentro do metal.


