Dia 3 | 13.08.2022
Depois de dois dias arrasadores, no Sábado de Bloodstock Open Air todas as atenções estavam viradas para a actuação dos MERCYFUL FATE no palco principal, mas antes desse grande momento ainda havia muitas bandas para ver. A começar logo às 10:45 com os BAEST. Nunca é fácil para uma banda abrir um palco, principalmente ainda a horas de muita gente estar a tomar o pequeno-almoço, mas a banda fundada na cidade de Aarhus fez bem jus ao nome e foi bruta q.b. no tempo que esteve em palco. Ainda a promover o álbum editado em 2021, «Necro Sapiens», foi com «Genesis» que deram início à actuação e acabariam por fechar com o tema-título. Seguiram-se os finlandeses LOST SOCIETY, que revelaram um nível de energia incrível, principalmente por parte do guitarrista e vocalista Samy Elbanna, que comanda o palco com a exímia arte de um veterano. Entre os temas tocados, destacaram-se «Into Eternity» e «Stiches», que fechou o alinhamento. Com o calor a apertar, há que dar crédito aos SPIRITWORLD, que se vestiram à cowboy. Quem olhasse para o palco e visse a banda de Las Vegas poderia pensar que estava prestes a assistir a um concerto de música country, mas o som que saía das colunas era composto por riffs e ritmos a fazer lembrar os Slayer, numa fusão bem conseguida de death/thrash. A banda apresentou-se com menos um elemento que, segundo o vocalista Stu Folsom, se perdeu num aeroporto durante a viagem entre os Estados Unidos e a Europa. Curiosidade era o que não faltava para ver o concerto dos LORNA SHORE, uma vez que a banda norte-americana tem estado em alta, muito graças à voz do vocalista Will Ramos,que até já foi alvo de investigação científica. No entanto, talvez pelas expectativas estarem demasiado elevadas ou por a banda ter estado num dia menos bom, a verdade é que o se ouve em estúdio deixou um pouco a desejar ao vivo. Talvez num concerto em sala mais pequena e com um soundcheck como deve ser, as coisas soem melhor… Ou não, quem sabe?
Face à desilusão, aproveitámos para dar um salto ao Sophie Lancaster Stage para ver os suecos CYHRA – e ainda bem que o fizemos! A banda, que conta com o vocalista Jake E, deu um belo espectáculo, muito graças às grandes canções com fortes melodias e à presença do seu vocalista. No palco principal, seguiram-se os SYLOSIS e será justo dizer que estiveram bem melhor que os Lorna Shore, com uma actuação potente e bastante eficaz por parte dos britânicos a deixar muita vontade para voltar a repetir a dose em breve. No palco secundário, e apesar de serem uma formação recente, os DEFECTS contam com músicos com bastante experiência, principalmente Tony Maue, que fez parte dos The Raven Age. Apesar do som inovador, mostraram competência e potencial. Muito aguardado eram também os JINJER, que conseguiram juntar uma enorme massa humana em frente do palco principal. Quem conhece a banda ucraniana sabe bem o que esperar e, mais uma vez, os músicos provaram que não deixam créditos por mãos alheias ao vivo. Com a vocalista Tatiana Shmailyuk a agradecer aos fãs todo o apoio que têm dado ao povo ucraniano durante o período de guerra iniciado pela Rússia, os SAMAEL acabaram por sair prejudicados e tiveram menos gente a vê-los do que se poderia supor. Felizmente, isso não foi um problema para a banda de Vorph e Xy, que deu um belo concerto onde não faltaram os clássicos dos 90s «Into The Pentagram» e «Baphomet’s Throne».
Os BURY TOMORROW apresentaram-se determinados a deixar tudo em palco, com o vocalista Daniel Winter-Bates a mostrar-se irritado com o mundo em geral e a mencionar os dois anos e meio de pandemia, que causaram imensos cancelamentos, perda de empregos e uma enorme perda de qualidade de vida, sobretudo a nível mental. Escusado será dizer que todo esse negativismo acabou por ser muito bem canalizado para a actuação. Os DIMMU BORGIR, por seu lado, foram iguais a si próprios, provando que, se as coisas lhes correm bem, então correm mesmo muito bem. Foi isso o que aconteceu nesta ocasião, com a banda de Shagrath e Silenoz a iniciar o concerto ao som de «Dimmu Borgir», seguida de «Gateways» e «Puritania». Com o público na mão, os músicos noruegueses seguiram em velocidade de cruzeiro, deixando para o fim «Progenies Of The Great Apocalypse» e «Mourning Palace». Com o público quentinho, chegou a altura dos lendários MERCYFUL FATE subirem então ao palco – e o concerto foi uma catarse pura e dura. As elevadas expectativas foram superadas pela banda de King Diamond, Hank Shermann, Mike Wead, Bjarne T. Holm e Joey Vera; aliás, sabia-se de antemão que o alinhamento ia centra-se na primeira fase da carreira da lendária banda dinamarquesa mas, mesmo assim, ouvir temas como «The Oath», «A Corpse Without A Soul», «Melissa» ou «Black Funeral» foram uma autêntica delícia para os ouvidos. Nota para o novo tema «The Jackal Of Salzburg»,que tem nove minutos de duração e que King insiste em dizer que a banda ainda não finalizou, mas que encaixou de forma perfeita neste alinhamento de clássicos. «Come To The Sabbath» e, já no encore, «Satans Fall» encerraram uma noite de sonho, com King Diamond a trazer o seu filho Byron a palco para ver a massa humana que assistia ao concerto e para ter uma noção do que é o trabalho do pai. De resto, é de momentos como este que as memórias são construídas. No palco secundário, os MALEVOLENCE subiram ao palco logo a seguir ao final do concerto dos dinamaqueses e, apesar da tenda cheia e da energia que os britânicos trazem a palco, a fasquia estava demasiado elevada para poder superar os 80 minutos épicos a que tínhamos sido submetidos.
Dia 3 | 13.08.2022
E, ao último dia, uma alteração de última hora. Os LIFE OF AGONY tiveram de cancelar a sua actuação devido a problemas de saúde da baterista e os SKARLLET RIOT, que estavam escalonados para actuarem no palco secundário, acabaram por ser promovidos ao palco principal – e com honras de abertura. A banda de Chloe “Skarlett” Drinkwater aproveitou para promover o seu mais recente disco de originais, «Invicta», editado em 2021, de onde retiraram seis temas num total de nove tocados. De seguida, a curiosidade era muita para ver os VENDED. Com muita gente pela frente, talvez levada pela curiosidade de ver em palco os filhos de Corey Taylor e Shaun “Clown” Crahan, dos Slipknot, a verdade que é, apesar de mostrarem vontade de ter uma identidade própria, não há mesmo como evitar comparações. Uma coisa é certa, os músicos mostram boas canções e grande intensidade em palco, com destaque para Griffin Taylor, que não pára quieto um segundo. Já as BUTCHER BABIES têm Heidi Shepherd e Carla Harvey como grandes atracções, não só pelo que entregam em palco, mas também porque – para alguns, pleo menos – são um autêntico regalo para a vista. Apesar do último disco ser datado de 2017, a banda preferiu focar-se no segundo LP, «Take It Like A Man», de onde retiraram quatro temas e ainda tocaram o mais recente single, «It’s Killing Time, Baby», editado em 2011. Directamente de São Francisco, nos Estados Unidos, os VIO-LENCE de Phil Demmel e Sean Killian, apresentam-se agora com Bobby Gustafson (ex-Overkill) na guitarra e Christian Olde Wolbers (ex-Fear Factory) no baixo, juntamente com Perry Strickland na bateria. Apesar de terem editado um EP recentemente, o alinhamento centrou-se no disco de estreia, o «Eternal Nightmare», de 1988. Já os nuestros hermanos NOCTEM mostraram que também se faz bom black metal em Espanha, assinando uma excelente prestação no palco secundário.
Voltando ao Ronnie James Dio Stage, os VENOM INC. celebraram quatro décadas do «Black Metal» tocando o disco na íntegra. Para este concerto, Mantas e Demolition Man fizeram-se acompanhar por Nick Barker (ex-Cradle Of Filth e Dimmu Borgir) na bateria. Apesar de Mantas ter partido uma corda da guitarra logo ao início, o disco foi tocado pela ordem original e com o público a cantar a grande maioria dos temas. Na sequência, os CATTLE DECAPITATION serviram um dose letal de death/grind expansivo com um alinhamento baseado no mais recente «Death Atlas» e os DARK FUNERAL mostraram que são uma máquina bem oleada em palco. Não obstante tocarem em plena luz do dia e com o sol a bater-lhes de chapa, os músicos liderados por Lord Ahriman fizeram o que lhe competia e deram um concerto bastante sólido. Com dez minutos de atraso e liderados por Gregor Mackinstosh, os STRIGOI apresentaram alguns temas da novidade «Viscera», mas por esta alturaas atenções estavam todas viradas para o palco principal, onde os KILLING JOKE se preparavam para a sua actuação. Jaz Coleman e companhia, que devem ser a banda que mais “baldas” deve ter dado a Portugal ao longo dos anos, focou a sua actuação nos álbuns «Killing Joke», de 1980 e 2003. Foi um belo concerto, e Coleman tem sem dúvida uma presença bastante carismática em palco.
Com a noite a começar e o fim do festival a aproximar-se, os BELPHEGOR subiram ao palco secundário para apresentarem o mais recente «The Devils». Com direito a piroctecnia, que obrigou a que os fotógrafos tivessem que se dividir em grupos para os poderem fotografar, foi mais uma demolidora actuação por parte dos austríacos, que acabou por aguçar ainda mais o apetite para o regresso a Portugal no final do ano. De seguida, e a fechar o palco principal, tivemos os LAMB OF GOD, que são daquelas bandas em que depende um pouco do dia e da disposição para se gostar ou não do concerto. O saldo acabou por ser positivo, com o grupo a contar com Phil Demmel na guitarra, já que Will Adler não pode viajar para a Europa. «Walk With Me In Hell» teve direito a fogo quanto baste e Randy Blythe revelou uma energia inesgotável ao longo do concerto todo. Já com os ossos a pedirem cama, os THE NIGHT FLIGHT ORCHESTRA trouxeram uma dose enorme de boa disposição e a dança para o palco secundário, encerrando a festival como se estivéssemos numa pista de dança de uma discoteca qualquer.