Muitas das resenhas feitas nas últimas semanas a «The God Machine» começaram (e vão começar) com as palavras “finalmente” ou “até que enfim, um álbum dos BLIND GUARDIAN“. Isto, claro, porque a banda já não lançava música nova há mais de sete anos — para todos os efeitos, vamos ignorar o «Twilight Orchestra: Legacy Of The Dark Lands» como sendo um verdadeiro álbum da banda, já que funciona muito bem como uma experiência sinfónica, mas foi um exercício de estilo bastante diferente. Este é então o regresso de músicos que, sobretudo nas últimas décadas, têm sempre demorado o seu tempo a lançar trabalhos, apesar de essa espera depois nem sempre corresponder a obras-primas. Não que tenham lançado maus álbuns, verdade seja dita e escrita, mas fica essa nota. Apesar de ser fácil colocar «The God Machine» no período actual com uma produção moderna e grandiosa, as primeiras impressões são logo indicadoras de que temos de volta aquele fulgor criativo que era possível encontrar em LPs como «Imaginations From The Other Side» ou, se calhar, até um pouco mais atrás no tempo.
É lógico que há sempre uma série de características que uma banda vai ganhando (e perdendo) ao longo do tempo. No caso dos BLIND GUARDIAN, a complexidade dos temas ou, pelo menos, dos seus arranjos, foi-se tornando cada vez maior, com os coros, orquestrações e linhas de guitarra a multiplicarem-se a cada novo álbum. A certa altura, a musicalidade e a simplicidade das melodias acabaram por ser sacrificadas em nome da grandiosidade. Nunca totalmente, mas ainda assim, consideravelmente. O que este álbum nos faz sentir, apesar de manter a complexidade dos arranjos – e ainda que mantendo mais ou menos inalterada a forte costela orquestral – é que as melodias são de novo o centro das atenções. E isto é algo que um tema como «Secrets Of The American Gods» consegue fazer magistralmente, por exemplo. Este é, para todos os efeitos, um regresso às raízes, sem o ser realmente. E sem ser anunciado como tal — porque também já vimos demasiadas vezes que, quando temos afirmações do género, na maior parte dos casos não passam de simples tácticas desesperadas de propaganda. «The God Machine» é orelhudo, memorável e altamente divertido e, mesmo não sendo um álbum que nos leve a dizer imediatamente que é melhor que este ou aquele clássico, a verdade é que também não sentimos necessidade de o fazer. Talvez porque já sabemos que foi o álbum que causou um melhor (ou maior) impacto à primeira em muitos anos, e que tem fortes probabilidades de se manter na memória por outros tantos. [9]