Numa altura em que se celebra a edição do primeiro álbum dos BLACK SABBATH, que tal revisitar umas quantas versões?
BLACK SABBATH é um universo mais complexo que aquele abordado muitas vezes. Preguiçosamente, referem-se Ozzy e os primeiros discos do grupo. Fala-se no álbum homónimo como o início do heavy metal e em toda uma série de títulos tão merecidos como ligeiros na atribuição. Prova disso é o ciclo de Dio, e a sua importância para o power metal norte-americano, ou a renovação despercebida com Tony Martin, criando uma mão cheia de excelentes títulos de hard rock.
2024 promete ser o ano em que Martin será reconhecido, com rumores da reedição cuidada dos álbuns em que participa. No entanto, BLACK SABBATH, a banda, consegue criar um som e música que definiriam um género logo na primeira faixa do álbum de estreia. Curiosamente, quando se observam os primeiros instantes de uma gravação de 1970, o tema é antecedido de algo que até está mais perto do folk e do que Ritchie Blackmore fazia, do que o esperado. Mesmo assim, a versão de Paris é algo imponente que deve ser sempre visto, mais não seja pela captação dos dedos de Tony Iommi.
Porém, a abordagem para aqui chamada é mesmo a das versões e, também neste campo, há alguma inovação a registar. Foi exactamente há trinta anos atrás que a britânica Earache, num gesto praticamente inédito, criou algo que se revelaria uma moda: os discos de homenagem. Assim do nada, toma alguns nomes do seu catálogo e coloca-os a fazer versões da banda de Birmingham.
Surge assim, «Masters Of Misery – Black Sabbath: An Earache Tribute». Olha-se hoje para trás e encontra-se uma mão cheia de nomes que, nos anos seguinte, se tornariam de culto no underground. Estão lá, entre outros, os CATHEDRAL, SLEEP, GODFLESH, CONFESSOR, FUDGE TUNNEL, BRUTAL TRUTH ou PITCHSHIFTER. Um disco precioso, que merece ser conseguido na versão japonesa, por incluir mais faixas.
Se a história terminasse aqui, tudo ficaria muito bem, mas a habitual ganância das grandes editoras conseguiu melhorar ainda mais o quadro e, dois anos depois, em 1994, surge «Nativity In Black – A Tribute To Black Sabbath».
Do “tributo” anterior, apenas os CATHEDRAL repetem a proeza de aparecer novamente, mas o desfile de nomes oficializa ainda um pouco mais os BLACK SABBATH como os pais do metal, além de oferecer um cruzamento mais completo de estilos.
BIOHAZARD, WHITE ZOMBIE, MEGADETH, CORROSION OF CONFORMITY, SEPULTURA, FAITH NO MORE ou UGLY KID JOE são alguns dos nomes presentes. Ainda mais curioso e interessante, é a junção de Bruce Dickinson com os GODSPEED, ou a participação do próprio Ozzy com THERAPY? em «Iron Man».
Agora, a verdadeira pérola em «Nativity In Black» é a interpretação que os TYPE O NEGATIVE conferiram a «Black Sabbath», na sua «Black Sabbath (From the Satanic Perspective)». Sem qualquer dúvida uma das melhores versões que o colectivo recebeu e incontornável entre as várias vezes que «Black Sabbath» foi abordada. Bandas como os ICED EARTH ou VADER, souberam criar as suas versões, mas nunca a subversão do tema foi tão conseguida como aquela que Peter Steel conseguiu criar.
Como habitualmente se diz, não há duas sem três e, em 2000, acabaria ainda por surgir um «Nativity In Black II: A Tribute To Black Sabbath». Apesar dos nomes, aqui já é o habitual “tributo” by the book, e sem grande esforço. Feito para lançar novos nomes, como os GODSMACK, à semelhança do que se fazia com as bandas-sonoras por essa altura, o disco ainda tem alguns grupos de referência como MACHINE HEAD, STATIC-X, MEGADETH, SYSTEM OF A DOWN, PANTERA, SLAYER ou MONSTER MAGNET.
Será a menor das três colectâneas e já um pouco desinspirada, mas até nisso está próxima do que foi a irregularidade da carreira dos BLACK SABBATH; afinal, «Technical Ecstasy» e «Never Say Die», também pertencem à fase Ozzy.