BAD BRAINS

RETROVISOR: Bad Brains, «Big Takeover» @ CBGB, Nova Iorque | 25.12.1982 [vídeo]

Em vez de gritarem contra o apocalipse iminente, os BAD BRAINS estavam a abrir caminho para muito do que viria depois.

ELECTRICIDADE! CONVULSÃO! POSSESSÃO! Todas as opções mencionas anteriormente, tudo de uma vez. É o que parece, mas não é. Isto é “só” o H.R., vocalista dos BAD BRAINS, a liderar a sua intocável banda de punk hardcore durante uma das três noites explosivas que protagonizaram no lendário CBGB, em Nova Iorque, em Dezembro de 1982. É impressionante como várias forças parecem estar a guiar o seu corpo: correntes eléctricas, falhas de ignição neurais, espíritos sagrados.

Verdade seja dita, há apenas uma força a trabalhar aqui, a música, e ele canaliza-a na sua forma física até que o abandono total e a autoconsciência parecem unir-se totalmente… Será, afinal, a isto que chamam liberdade? Seja como for, tudo isto acontece nos 60 minutos que dura «Bad Brains Live At CBGB 1982». Mais que um filme de concerto, o que podes ver no player ali em baixo é a evidência em vídeo de um evento sobrenatural repetido três vezes em 72 horas.

Vejam a «Big Takeover», logo a dar início à actuação. Numa altura em que (quase) tudo tão polido, e tão estudado até ao mais ínfimo pormenor, precisamos cada vez mais que imagens como estas existam. Caso contrário, poderemos não acreditar plenamente nas testemunhas oculares que ainda descrevem os BAD BRAINS como uma das melhores banda ao vivo de todos os tempos.

E sim, apesar de todo o caos visual, é a música que mais importa aqui: os dois álbuns indomáveis ​​que os BAD BRAINS lançaram nesta época, sobretudo a estreia homónima de 1982, mas também o «Rock For Light» de 1983, estão repletos de hinos injectados de velocidade emocionante, mas feitos com subtileza, propósito profundo e um optimismo imutável. O mundo acelerou nas últimas quatro décadas, mas estes temas ainda parecem rápidos, muito rápidos. Em tempos cada vez mais hiperbólicos, o valor desta gente permanece extraordinário.

Entre os que tiveram a enorme sorte de os ter apanhado a tocar ao vivo entre 1979 e 1983, o testemunho é praticamente unânime. “Nunca tinha visto nada parecido com eles”, disse Denise Mercedes, guitarrista dos STIMULATORS, descrevendo o seu primeiro concerto dos BAD BRAINS nas páginas do livro “NYHC”, a história oral do hardcore nova-iorquino de Tony Rettman. “No momento em que começaram a tocar, foi como se uma bomba explodisse. Era tudo mais alto, mais rápido.”

Portanto, uma explosão? Isso pode bem descrever o poder cinético dos BAD BRAINS como sendo uma sensação física, mas não explica totalmente o significado da música. E por mais acutilantes que os seus temas parecessem, estes músicos não estavam a destruir nada. Em vez disso, estavam a inventar um som poderoso que aderiu ao seu credo fundamental: POSITIVE MENTAL ATTITUDE! Abreviada nas letras de H.R. como «P.M.A.», introduziu um contraste brilhante com a escuridão niilista do início da era punk.