Por alturas do Corpus Christii, dos dois lados do Rio Minho, é normal encontrarem-se festividades denominadas “da Coca”, em que a dita Coca, representa um dragão que é combatido por S. Jorge. Folclore à parte, o habitual apoio municipal dos ayuntamientos espanhóis a concertos, muito mais avançado que por cá, conjuga-se com dragões e está pronta a receita para um evento interessante. Foi isso que aconteceu na Redondela, pequena localidade perto da fronteira, em que na mesma noite, nos jardins centrais da cidade, se oferecia um triplo cartaz, com entrada livre. O arranque fez-se com um nome quase local, os ATREIDES, oriundos de Vigo, a escassos quilómetros. O quarteto abriu ainda para pouco público, exibindo o seu heavy metal melódico que se tornou mais pesado e eficaz na recta final. Um excelente frontman, na pessoa de Iván López, e um grupo que esteve à altura do evento.
Poderá soar estranho, mas face à dimensão local dos Avalanch, os FIREWIND não só foram colocados em segundo lugar do cartaz, como a própria bateria estava montada a um nível inferior. Também por isso, os gregos começaram a actuar ainda de dia, sendo fácil de perceber que muitos persistiam em ficar pelos bares à espera do nome principal. A banda de Gus G, não mostrou acusar a situação e foi desenvolvendo uma actuação cada vez mais consistente, com Henning Basse, o vocalista, a oferecer “Algum power metal, debaixo da ponte”, numa referência à estrutura que atravessava o recinto. Em «Wars Of Ages», Gus fez questão de apresentar uma banda, que “hoje já tem pouco de grega”, nas suas palavras. A partir daqui seguiu-se um excelente solo de guitarra — e foi pedido, pelo público, um solo de bateria, que acabou simulado nas teclas, fruto do bom humor em palco, com Gus ainda a ironizar com as vendas dos primeiros trabalhos do grupo, a propósito de recuperarem a versão de «Maniac».
Com a progressão da noite, percebeu-se que todos estavam lá para ver os AVALANCH. Máquina bem montada, um sexteto profissional e um concerto de quase duas horas, com espaço para solos de bateria, guitarra e baixo, num espectáculo que se tornou uma verdadeira festa galega, sendo o primeiro da digressão «El Secreto», que se irá prolongar até Outubro, com passagem pela América latina e do norte. Alinhando algures entre o metal melódico e o power metal, muitas vezes a recordarem os Stratovarius, os asturianos possuem umas letras menos interessantes, e por vezes arriscam mesmo as baladas. Apesar de tudo, a dedicação do público, profissionalismo da exibição e dimensão do evento, dão muito que pensar em relação ao que cá se faz com bandas nacionais no campo da música pesada. Nota para duas curiosidades, o facto de o baixista que integra a banda, Dirk Schlächter, ser também membro dos Gamma Ray e do vocalista nesta noite ser Jorge Berceo, que entrou a substituir Istra, por este estar doente. Foram duas horas num registo quase irrepreensível, de um vocalista que nunca tinha ensaiado com o grupo.