Convenhamos, Bob Seger conseguiu ver temas seus a serem interpretados por artistas como Barry Manilow, Tom Jones, Shirley Bassey, Pointer Sisters, Paul Anka ou Cat Power. E, mesmo que alguns destes nomes não abonem muito a seu favor, na lista também estão os DEEP PURPLE, BLACK OAK ARKANSAS, THIN LIZZY ou até os METALLICA. Em que pé fica esse balanço agora? Veterano do rock norte-americano, Seger nasceu em 1945, teve uma carreira singular e, no final dos anos 80, a sua colagem ao mal visto Rock FM levou a que ficasse classificado naquele tipo de artistas oleosos que, nos dias de hoje, os eruditos da internet veriam como um alvo fácil. Acontece que o caminho até aos discos de platina foi pavimentado por grandes malhas. O próprio, começou a ser notado num movimento hoje mais reconhecido, que foi o rock de Detroit. Para lá dos sempre sonantes e óbvios THE STOOGES e MC5, a cena local contou com outros nomes, eventualmente classificados como menores, ou com pudor auto-afastados, como foi o caso de Alice Cooper. Embora associado a Los Angeles, foi em Detroit que colheu os primeiros frutos, como fez questão de sublinhar no seu último disco de estúdio. Nos “menores”, estão claramente os AMBOY DUKES, de onde sairam Ted Nugent e Bob Seger.
Bob Seger, o artista, veio a responder por várias bandas que, na realidade, eram apenas só ele com alguns músicos a acompanhar. BOB SEGER AND THE LAST HEARD, BOB SEGER AND THE SILVER BULLET BAND, BOB SEGER SYSTEM, DOUG BROWN AND THE OMENS e THE BEACH BUMS. Todos estes nomes podem ser identificados por Bob Seger. É ele a estrela que brilha em todos, e são quase duas dezenas de trabalhos de estúdio; o primeiro, «Ramblin’ Gamblin’ Man», de 1969, e o último, «I Knew You When»,de 2017. Pelo meio, é obrigatória uma menção especial a «Live Bullet», de 1976, com a Silver Bullet Band. É “só” um dos maiores discos ao vivo do rock norte-americano da década de 70. Escuta obrigatória para quem aprecia hard rock, blues rock ou algo nesse espectro. Cinco milhões de cópias vendidas ajudam a atestar o que se escreve aqui. Seria também o tiro de partida para a fase mais popular do artista que, a seguir, com quatro discos de estúdio, acabaria por vender mais de dez milhões de cópias, com o seu ocaso a ser marcado pela aparição de uma nova geração de artistas, fossem eles os FOREIGNER ou os BON JOVI.
Então, e as versões? São muitas. E algumas bem interessantes. «Lucifer» foi escrita em 1970 para THE BOB SEGER SYSTEM. Em 2021, os DEEP PURPLE escolheriam o tema para figurar o disco de versões «Turning To Crime». A sua carreira começara já antes, em 1967. Como BOB SEGER AND THE LAST HEARD tinha feito a excelente «Heavy Music», que depois recuperaria, em 1972, para «Smokin’ O.P.’S». Em 2000, Wayne Kramer, que fora dos MC5, pegaria no tema, como WAYNE KRAMER & THE PINK FAIRIES. Em 1969, o artista teria o seu primeiro álbum oficial, «Ramblin’ Gamblin’ Man», editado. O tema-título, uma fusão entre soul, blues e rock, que seria o DNA da composição de Seger, quase sempre cantada com urgência, teve direito a versões por parte dos BACK OAK ARKANSAS, SAMMY HAGAR e GOV’T MULE. No entanto, muitos reconhecerão o tema do filme «Era Uma Vez em… Hollywood», de Quentin Tarantino, em grande destaque numa cena com Brad Pitt ao volante. Menos conhecida, mas nem por isso menos interessante, será «Rosalie», originalmente lançada em «Back In ’72», de… 1973! Um par de anos depois, os THIN LIZZY tornariam o tema obrigatório nos seus concertos. De facto, talvez tenha sido Lynott quem realmente reconheceu o potencial dos temas de Seger para serem reciclados como hinos do heavy rock.
Naturalmente que não se podia concluir uma análise a versões de temas de Bob Seger sem referir a, provavelmente, mais conhecida: «Turn The Page». Datada de 1973, a canção teve várias abordagens ao longo dos anos, com os GOLDEN EARRING e WAYLON JENNINGS a fazem as suas. No entanto, seria já em 1998, quando os METALLICA escolherem o tema para primeiro single de «Garage Inc.» que Seger acabaria, muito provavelmente, por ver a sua reforma garantida. A letra descreve a solidão do artista em digressão, mas graças ao vídeo-clip, acabou por ficar associada a outra temática. O que, convenhamos, é uma pena… Escutando a letra, fica-se com a sensação que foi aí que grupos como os MÖTLEY CRÜE e os BON JOVI foram retirar inspiração para temas como «Home Sweet Home» ou «Wanted (Dead Or Alive)», respectivamente. E se «Live Bullet» é, por excelência, um dos grandes discos de Seger, no formato BOB SEGER & THE SILVER BULLET BAND que tem o seu momento mais alto. Afinal, deve haver alguma razão a revista Rolling Stone o ter incluído na lista de 50 Greatest Live Albums Of All Time. Não estará já na altura de reabilitar o Sr. Seger?