Primeira edição da coluna neste ano de 2022 e obviamente que era incontornável a devida vénia a Philip Parris Lynott, mentor dos THIN LIZZYe um dos mais importantes músicos irlandeses. Junto com Brian Downey, baterista, e Eric Bell, guitarrista, além do teclista Eric Wrixon, o músico fundou os THIN LIZZY na passagem de 1969 para 1970. Foi, de resto, em Janeiro de 1970 que se deu o primeiro ensaio oficial. A formação revelou-se instável, com o trio a procurar o seu próprio som, transformando-se em quarteto e, já em 1972, tiveram o seu primeiro grande sucesso, exactamente através de «Whiskey In The Jar». O tema, hoje um clássico, entra na onda de um rock festivo, popular na época e que tinha nos SLADE os grandes ícones. Na realidade, é um velho clássico irlandês, que relata um episódio passado no século XVII e associado ao salteador Patrick Fleming, executado pelos seus crimes e, em cujo poema, se descreve, parcialmente, a sua captura. Duzentos anos depois, em 1850, aparecia já em partituras com a designação «The Sporting Hero, or, Whiskey In The Bar». Como os salteadores à época eram convertidos em heróis, pois as suas vítimas eram quase sempre os ocupantes ingleses, é fácil de perceber a sua popularidade. Além de que nenhum irlandês iria virar as costas a um tema que faz um elogio ao álcool.
«Kilgary Mountain» é outra das designações que o tema recebe, e foi assim que começou por ser registado em vinil, nas décadas de 50 e 60 do século passado. O maior sucesso até à versão dos THIN LIZZY seria mesmo a dos irlandeses DUBLINERS, que pavimentou, em finais da década de 60, o caminho para o sucesso do grupo de Phil Lynott. Apesar de acharem que o tema não identificava o seu som, o facto é que o single chegou ao sexto lugar do top britânico em Fevereiro de 1973. Eric Bell acabaria a sair, não sem antes deixar gravada uma excelente prestação do tema, para um canal alemão. O guitarrista seria brevemente substituído por Gary Moore. Entradas e saídas seriam o futuro dos THIN LIZZY, entretanto convertido em quarteto, até Lynott terminar oficialmente com a banda em 1983, após uma aparição no festival de Reading. O músico viria a falecer a 4 de Janeiro, três anos depois. Após a sua morte, o nome da banda cresceria ainda mais. A 17 de Maio do mesmo ano, no designado Self Aid Concert, sobe ao palco uma formação alargada dos THIN LIZZY, com Gary Moore, Downey, Gorham, Wharton e Bob Daisley no baixo, a que se juntou ainda Bob Geldof. Moore era o eterno companheiro de Lynott e recusou mesmo integrar ou reconhecer a formação que anos mais tarde ressurgiria, pela mão do guitarrista Scott Gorham. Como homenagem, Moore deixaria o DVD «One Night In Dublin: A Tribute To Phil Lynott». A formação de Gorham recuperaria a fama dos Lizzy, primeiro numa formação que integrava o baterista Brian Downey e com Ricky Warwick, vindo dos THE ALMIGHTY, na voz.
Entretanto, mais uma linha seria adicionada à história desta canção quando os METALLICA resolveram usar a sua versão para primeiro single do duplo álbum «Garage Inc.». Disco realizado numa fase conturbada, em que a banda enfrentava a editora para renegociar contratos e em que tentava dar uma visão menos glamorosa e mais próxima das raízes. Exemplo disso, a capa, com os elementos do grupo vestidos de mecânicos, em que Lars aparece a segurar um cigarro, sendo conhecido que não é fumador. O disco tenta ser uma versão alongada de «The $5.98 E.P.: Garage Days Re-Revisited», cujos temas figuram também nessa edição. A versão de «Whiskey In The Jar» levou muitos fãs a pensarem que era um original dos METALLICA, ou até mesmo uma recuperação feita por eles de um clássico irlandês, esquecendo que foram os THIN LIZZY quem o popularizou. Na forma apressada e pouco profissional da abordagem, o tema resultou mesmo modificado, com James a tirar a letra pela audição, sem nunca ter chegado a ler o original. É por isso que o verso “Mush-a ring dumb-a do dumb-a da/Wack fall the daddy-o, wack fall the daddy-o”, surge na versão de Metallica como “Musha raim dum a doo dum a da/Whack for my daddy-o”. Apesar disso, o tema popularizou-se transformando-se numa party song, banda-sonora para o binge drinking e esvaziado do carácter revolucionário original.
Claro que um tema irlandês, não podia ser referido sem visitar os THE POGUES. Existe também a versão mais country rock de uns GRATEFUL DEAD, depois prolongada por Jerry Garcia a solo. Até Brian Adams conseguiria uma versão introspectiva do tema, no álbum «Shine A Light», de 2019. De qualquer forma, os METALLICA serão sempre uma boa forma dos miúdos conhecerem um clássico e descobrirem os originais, ou… as primeiras versões.