A organização do AMPLIFEST denuncia um aumento insustentável de custos e promete resistir à gentrificação cultural.
Numa reviravolta algo inesperada, o AMPLIFEST não se realizará em 2025. Esta notícia marca uma pausa súbita num dos eventos musicais mais singulares e respeitados do panorama alternativo nacional, e surge acompanhada de uma mudança estrutural profunda: a saída definitiva do Hard Club, no Porto, espaço que acolheu todas as dez edições do festival até à data.
A decisão, comunicada pela organização, a cargo da Amplificasom, prende-se com o que consideram um aumento “inviável” do custo de aluguer do espaço. Com a mudança de proprietários, o valor exigido subiu cerca de 400%, colocando em causa a sustentabilidade financeira de um evento que sempre se afirmou pela sua independência e pela ausência de apoios institucionais significativos.
“Num quadro onde os custos de produção dispararam, acompanhando a crise do custo de vida em geral, uma decisão destas coloca em causa a viabilidade económica do evento”, refere a nota divulgada nas redes sociais da promotora portuense. Apesar da sua reputação internacional e do impacto cultural mais do que reconhecido, o AMPLIFEST tem sido produzido com recursos limitados, uma aposta contínua da Amplificasom numa curadoria exigente e num modelo alternativo à lógica dominante dos grandes festivais patrocinados.
Após a edição de 2024, a organização encetou diligências no sentido de encontrar uma nova casa para o evento, considerando locais no Porto, em Lisboa e até em cidades mais pequenas. No entanto, essa procura revelou-se infrutífera até ao momento. A prioridade, assegura-se, foi sempre preservar a qualidade e a experiência imersiva que têm feito do AMPLIFEST um festival de culto, tanto para o público português como para muitos visitantes estrangeiros.
Apesar da pausa em 2025, a Amplificasom mantém-se ativa e comprometida com a sua missão. Nos próximos meses, serão anunciados concertos especiais com bandas que poderiam ter integrado o cartaz deste ano, numa tentativa de mitigar a ausência do festival e manter viva a ligação com a sua grande comunidade.
O comunicado termina com uma reflexão sobre os desafios crescentes enfrentados por eventos independentes como o AMPLIFEST, particularmente numa realidade urbana marcada pela especulação imobiliária e pela uniformização cultural: “Acreditamos firmemente que o Amplifest continua a ser essencial e vital para a região. Continuaremos a lutar para não sermos consumidos pela gentrificação da cidade e pela homogeneização cultural que está a sufocar a arte independente.”
Sem festival em 2025, mas com resiliência redobrada, a organização garante que está já a preparar o futuro. O regresso está previsto para 2026, numa nova casa que mantenha viva a identidade do AMPLIFEST: intensa, livre, desafiante — e radicalmente comprometida com a arte que vive fora dos circuitos comerciais.