EPICA

AL BARILE tinha 65 anos. Figura incontornável da primeira vaga straight edge, o músico de Boston lutava com um cancro desde 2022.

AL BARILE, guitarrista fundador dos lendários SSD e um dos arquitectos do hardcore norte-americano, morreu após uma longa batalha contra um cancro. A notícia foi dada a conhecer no Sábado, 6 de Abril, através da sua mulher, a escritora Nancy Barile, que partilhou nas redes sociais que Al faleceu rodeado por amigos, familiares e antigos colegas de banda.

“Nunca conheci ninguém tão fiel a si próprio como o Al”, escreveu Nancy. “Ninguém me fazia rir tanto. Havia sempre uma história para contar. Amávamo-nos de forma inacreditável, e o meu coração está despedaçado em mil pedaços. Estou profundamente grata pelos nossos 43 anos juntos. Nem consigo imaginar como seguir em frente sem ele, mas sei que estará SEMPRE comigo. E sinto um enorme conforto em saber que ele e o Flippy já estão reunidos.”

Barile enfrentava um cancro colorretal desde o final de 2022, tendo lidado ao longo do último ano e meio com várias complicações de saúde, incluindo neuropatia nas mãos, que o impediram de regressar aos palcos com os SSD — algo que estava planeado para acontece no final de 2023, aquando da reedição do seminal «The Kids Will Have Their Say».

Natural de Lynn, Massachusetts, AL BARILE cresceu entre o hóquei no gelo e o hard rock, com um gosto especial por bandas como os Cheap Trick e os AC/DC. No entanto, foi no início dos 80s que encontrou a sua verdadeira linguagem musical, inspirando-se em nomes como Black Flag e Minor Threat para criar um som próprio: rápido, cortante, pesado e combativo. Fundados sob o nome Society System Decontrol, os SSD foram rapidamente reconhecidos como os porta-estandartes da cena straight edge emergente em Boston — mesmo que, para Barile, essa etiqueta fosse apenas uma das muitas formas de resistência que a banda encarnava.

Em 1982, o grupo lançou o histórico «The Kids Will Have Their Say», um álbum furioso que fundia energia bruta com lirismo consciente e político, características que voltariam no explosivo EP «Get It Away», de 1983. Ambos os registos foram inicialmente editados através da editora DIY de Barile, a X-Claim! Records, tendo sido alvo de reedições recentes pela Trust Records, numa celebração tardia do legado da banda.

O percurso dos SSD terminou oficialmente com «Break It Up», de 1985, um disco mais próximo do hard rock que selou esse capítulo da história da banda com irreverência — e que levou Barile, numa decisão à sua maneira, a vender todo o seu equipamento de guitarra para comprar uma mota de água. Durante os 90s, AL BARILE ainda liderou os Gage, projecto de sonoridade bastante mais alternativa, mas manteve-se maioritariamente afastado da ribalta.

Apesar do afastamento, o impacto cultural de Barile nunca se esbateu. Este ano, os SSD foram incluídos no New England Music Hall Of Fame, um reconhecimento oficial (e, mais uma vez, tardio) da importância fulcral da banda na história da música extrema americana. Nos últimos meses de vida, o próprio músico utilizava regularmente o Instagram para publicar atualizações sobre o seu estado de saúde, mantendo-se em contacto direto com a comunidade hardcore.

A sua última publicação, feita no dia 4 de Abril a partir do hospital, foi comovente: “Quase morri hoje. O meu coração parou. O prognóstico não é bom. Espero ainda ter alguns dias, semanas, meses, mas parece que serão dias. Esta pode ser a minha última publicação. Amo-te, Nancy.”

A morte de Al Barile desencadeou uma onda de homenagens no universo do punk e hardcore. Bandas lendárias como Agnostic Front, Sick Of It All e American Nightmare, músicos como John Porcelly e Sammy Siegler (dos Youth Of Today), bem como figuras inesperadas como Jeff Ament (dos Pearl Jam) deixaram mensagens sentidas nas redes sociais, sublinhando o papel crucial de AL BARILE na fundação de uma das subculturas mais resilientes da música moderna.

Nancy Barile despediu-se com palavras que ecoam no coração de quem acompanhou a história dos SSD desde o início: “Vocês sabem que terei muito para dizer sobre o tempo do Al neste mundo, o seu impacto e o seu legado, mas por agora vou precisar de algum tempo com os meus amigos mais próximos e a família.” AL BARILE tinha 65 anos.